São Paulo, sábado, 10 de maio de 2008

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Sob locaute, piora embate entre ruralistas e Casa Rosada

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Ataques trocados entre o governo argentino e produtores agropecuários marcaram ontem o segundo dia do segundo locaute promovido pelo setor em um período de dois meses no país. Há protestos em 200 pontos de diferentes estradas da Argentina.
O chefe-de-gabinete, Alberto Fernández -o principal interlocutor do campo nos 37 dias de trégua e de diálogos fracassados-, afirmou ontem que os ruralistas "ficaram loucos".
"Já não sei o que fazer para pôr ordem [na situação] com essa gente", disse Fernández, que acredita que uma briga interna entre os líderes do locaute tenha posto fim no diálogo.
Já o presidente da Federação Agrária da Província de Entre Ríos, Alfredo de Angeli, mandou mais um de seus recados à presidente Cristina Kirchner pela TV. "Aviso à presidente que os soldados estão indo para sua porta dos fundos."
O conflito começou em março, quando o governo decretou o aumento de impostos para as exportações de soja e girassol. O setor agropecuário reagiu com um locaute de três semanas que levou ao bloqueio de estradas e gerou desabastecimento de alimentos. Por falta de resultados nas negociações, os produtores retomaram o locaute desde quinta-feira.
No novo protesto, que deve durar oito dias, os ruralistas não bloqueiam as estradas, mas impedem a comercialização e o trânsito de grãos para a exportação. Os produtores se concentram em cerca de 200 pontos em estradas das Províncias de Buenos Aires, La Pampa, Santa Fé, Córdoba e Entre Rios.
Conflito entre vizinhos
Em alguns dos protestos, os caminhões vindos de outros países são retidos durante algumas horas. A medida gerou um conflito na madrugada de ontem quando um caminhoneiro brasileiro decidiu interromper a passagem de qualquer veículo pela estrada de Chajarí, em Entre Ríos, já que não o deixavam passar.
Outro motorista brasileiro tentou furar o bloqueio. Segundo a imprensa local, houve confronto entre os caminhoneiros e os produtores, e os vidros de um dos caminhões foram quebrados.
Ontem, os líderes agropecuários organizaram um grande ato na Província de Chaco, no norte do país, e hoje haverá um panelaço em Gualeguaychu, convocado por De Angeli.
No protesto liderado pelo líder de Entre Ríos, todos os caminhões -não importa o que carreguem- devem parar por algumas horas.
Apesar de tentarem manter a unidade, os líderes agropecuários já enfrentam algumas dissidências. Ontem, Oscar Carreras, presidente da Sancor, uma das principais empresas de laticínios do país, afirmou que "não se pode manter outros setores como reféns" e que "muitos produtores não se sentem representados" pelos líderes agropecuários.


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