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Jovens israelenses se interessam menos por religião e conflito
Segunda geração de nascidos no país é menos ortodoxa no cumprimento dos preceitos judaicos, mas reivindica sionismo
Eles se dizem cansados de acompanhar disputa com palestinos, mas não têm muitas esperanças de que a paz reine um dia na região
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ISRAEL
Israel completa 60 anos com
um dilema para a segunda geração de nascidos no país: um
crescente desinteresse da população jovem pela religião e
pela política do país. Jovens
com idades entre 17 e 27 anos
ouvidos pela Folha indicam
que, se o sionismo resgatado
por Theodor Hertzl -autor de
"O Estado Judeu" (1896), que
deu as diretrizes para a criação
do Estado de Israel- ainda é
valor inquestionável entre eles,
a disposição em manter as tradições judaicas já não é a mesma que a dos seus pais.
Em um sábado, dentro do
período de shabat -o dia sagrado da religião judaica, que começa ao pôr do sol de sexta-feira e vai até o entardecer de sábado-, a relações-públicas Ial
Appelbaum, 27, reunia-se em
um restaurante com amigos no
centro de Tel Aviv, programa
que ela afirma fazer aos sábados com os amigos e parte da
população da capital, que já
não se ocupa das rezas do dia.
"A religião hoje é mais uma
tradição. Às sextas-feiras fazemos o kidush [uma reza] e jantamos com nossas famílias,
mas o sábado já é um dia normal para a maioria", diz.
Há até uma certa "anti-religiosidade" entre os jovens israelenses, conta Yaniv Ben
Meir, 27. "Meus amigos fazem
comentários quando passa um
garoto muito ortodoxo, já é
uma coisa diferente da maioria.
Acho que as pessoas estão ficando anti-religiosas por isso",
conta Meir, que também diz
não abrir mão de passeios aos
sábados e não seguir as restrições da religião.
E não é só nas ruas da capital
israelense que começa a ser incomum ver jovens ortodoxos.
"Não guardo o shabat, mas faço
dele um dia de descanso mental e pessoal. Eu sou ligada a
Deus, mas um Deus que não
me observa no sentido do que
eu como ou como me visto", diz
a brasileira Deborah Fischer,
17, que vive desde 1993 com os
pais em um kibutz na região do
Golã, no norte de Israel.
Ela cresceu sob um processo
de modernização e abertura
dos kibutz, que foram se tornando mais liberais ao longo
das últimas décadas. Hoje mais
abertos, os kibutz ainda atraem
jovens. "Penso em morar no kibutz a longo prazo. Quando
criança, eu vivenciei as mudanças e acredito que meu kibutz,
hoje, consegue vivenciar a idéia
de igualdade e cooperação de
maneira mais moderada do
que os antigos", diz Fischer,
que estudou o equivalente ao
ensino médio na Israel Arts
and Science Academic, uma escola com alunos muçulmanos,
cristãos, drusos e judeus em
Jerusalém, na qual, segundo
ela, discutia freqüentemente
questões políticas.
Apesar de achar que a o problema dos territórios ocupados
por Israel "tem que mudar",
Fischer também diz não abrir
mão do sionismo. "Eu sinto
muito orgulho de Israel e de ser
parte do país."
Conflitos
Esse orgulho não sustenta
mais, porém, o apoio aos conflitos com os palestinos, segundo
os jovens que a Folha ouviu.
"Estamos cansados dos conflitos. Eles sempre têm alguma
coisa nova, um novo acordo.
Estamos menos informados, já
nem lemos o jornal", diz Michel Klug, 26, de Tel Aviv.
"Acho que ninguém pode dizer que não se interessa pelos
conflitos, mas estamos cansados, porque parece que nunca
vão acabar, e, por enquanto,
nossos soldados vão para a
guerra todo dia. Mas quem está
em Tel Aviv não sente essa
guerra, é uma vida mais ou menos tranqüila", diz Gali Cohen,
24, moradora de Kiryat-Ono,
cidade próxima à capital, que
acaba de concluir o serviço
obrigatório no Exército.
Yaniv Ben Meir diz ainda
lembrar quando seus pais e tios
achavam que os jovens já não
seriam obrigados a servir no
Exército quando ele chegasse
aos 18. "Quando era pequeno,
as pessoas falavam que não
precisaríamos ir para o Exército, porque já haveria paz. Hoje
já não achamos mais que isso
pode acontecer. As pessoas
perderam a esperança na paz."
O serviço militar retarda a vida universitária dos israelenses, mas as perspectivas de trabalho que os esperam na faixa
dos 30 anos são otimistas, de
acordo com o consultor financeiro Assaf Galanty, 32. Ele diz
que os jovens estão mais confiantes e animados com o mercado de trabalho.
"A economia está forte, os investimentos no país já não estão tão relacionados às questões políticas, e os jovens sentem isso", afirma.
Com a bandeira do sionismo
ainda forte, o governo israelense tenta também aproximar jovens de comunidades judaicas
ao redor do mundo ao Estado
de Israel. Desde 2000, cerca de
160 mil judeus com idades entre 18 a 26 anos de 52 países foram ao país às custas do governo, de comunidades judaicas e
de doações, segundo o Birthright Israel, instituto que criou
e gere as viagens.
LUISA BELCHIOR viajou ao país pelo programa
Birthright Israel
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