|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Avança acordo sobre novo governo no Reino Unido
Após rodada de conversas, liberais-democratas e conservadores alcançam um primeiro ponto em comum, a redução do deficit
Série de encontros no fim de semana também articula a renúncia do premiê trabalhista, Gordon Brown, derrotado nas eleições de 5ª
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Conservadores e liberais-democratas chegaram ontem a
um primeiro -e óbvio- acordo: o "ponto central" da negociação entre os dois partidos
para permitir que o Reino Unido tenha finalmente um governo deve ser a economia e, nela,
a redução do deficit.
"Ponto central" foi a expressão usada por William Hague,
um dos principais negociadores do Partido Conservador,
confirmada depois pelo liberal
Danny Alexander, que preferiu
dizer que a economia está "no
coração" do diálogo.
Falta, no entanto, o principal:
como se fará a redução do deficit, uma exigência dos mercados e que já havia sido incorporada nos programas dos dois
partidos e também na dos trabalhistas, mas que se tornou
urgente ante a crise da dívida
que ameaça toda a Europa.
Os liberais já avançaram ao
menos um ponto: não aceitam
a redução de impostos para os
mais ricos, que aparece no programa dos conservadores.
Têm dúvidas também sobre a
retirada dos estímulos à economia que o governo Gordon
Brown se viu obrigado a adotar
para evitar o colapso na esteira
da quebra do banco Lehman
Brothers.
Tampouco estão muito encantados com a hipótese de
cortes que afetem os serviços
públicos essenciais.
O ajuste nas contas públicas
se faria, conforme os programas partidários, de uma forma
diferente para conservadores e
liberais. Os conservadores pretendem obter 80% do ajuste
por meio de cortes nos gastos e
apenas 20% pelo aumento dos
impostos.
Já os liberais querem quase o
contrário: 40% de cortes e 60%
de aumento de impostos.
De todo modo, o fato de as
duas partes aceitarem que a
economia é o foco central reduz
a prioridade para a reforma política, que é a grande expectativa dos liberais, prejudicados
pelo sistema distrital puro.
As conversas entre as partes
devem continuar hoje, depois
de sete horas de negociações
entre os delegados dos dois líderes e um encontro de 30 minutos entre David Cameron
(conservador) e Nick Clegg (liberal-democrata).
O primeiro-ministro Gordon
Brown pegou uma carona nelas, ao se encontrar com Clegg.
Segundo o Canal 4 da TV britânica, Brown saiu pelos fundos
de sua casa/escritório, no número 10 de Downing Street, para encontrar-se "secretamente" com Clegg no edifício do
Ministério de Relações Exteriores, que fica na rua atrás de
Downing Street.
Não vazou o teor da conversa, mas Nick Robinson, o geralmente bem informado comentarista politico da BBC, diz que
as lideranças trabalhistas já
trabalham com a hipótese de
renúncia do premiê, nas próximas 48 horas. Renúncia, de resto, já solicitada por três parlamentares trabalhistas.
Brown recusou-se a renunciar após a eleição de quinta-feira, apesar da contundente
derrota de seu partido, e até
ofereceu-se para negociar um
novo governo com os liberais,
se o diálogo destes com os conservadores fracassar.
Se a renúncia de fato se der,
desaparece a hipótese, já remota, de acordo trabalhistas/liberais e fica apenas a de uma
bem-sucedida negociação liberais/conservadores.
Ou, em caso de fracasso, aparece o cenário de uma nova
eleição, o que daria aos mercados financeiros um maravilhoso pretexto para atacar a libra
esterlina e os títulos do governo
britânico.
Texto Anterior: Washington aumenta pressão sobre Islamabad Próximo Texto: Frases Índice
|