São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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Avança acordo sobre novo governo no Reino Unido

Após rodada de conversas, liberais-democratas e conservadores alcançam um primeiro ponto em comum, a redução do deficit

Série de encontros no fim de semana também articula a renúncia do premiê trabalhista, Gordon Brown, derrotado nas eleições de 5ª

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Conservadores e liberais-democratas chegaram ontem a um primeiro -e óbvio- acordo: o "ponto central" da negociação entre os dois partidos para permitir que o Reino Unido tenha finalmente um governo deve ser a economia e, nela, a redução do deficit.
"Ponto central" foi a expressão usada por William Hague, um dos principais negociadores do Partido Conservador, confirmada depois pelo liberal Danny Alexander, que preferiu dizer que a economia está "no coração" do diálogo.
Falta, no entanto, o principal: como se fará a redução do deficit, uma exigência dos mercados e que já havia sido incorporada nos programas dos dois partidos e também na dos trabalhistas, mas que se tornou urgente ante a crise da dívida que ameaça toda a Europa.
Os liberais já avançaram ao menos um ponto: não aceitam a redução de impostos para os mais ricos, que aparece no programa dos conservadores.
Têm dúvidas também sobre a retirada dos estímulos à economia que o governo Gordon Brown se viu obrigado a adotar para evitar o colapso na esteira da quebra do banco Lehman Brothers.
Tampouco estão muito encantados com a hipótese de cortes que afetem os serviços públicos essenciais.
O ajuste nas contas públicas se faria, conforme os programas partidários, de uma forma diferente para conservadores e liberais. Os conservadores pretendem obter 80% do ajuste por meio de cortes nos gastos e apenas 20% pelo aumento dos impostos.
Já os liberais querem quase o contrário: 40% de cortes e 60% de aumento de impostos.
De todo modo, o fato de as duas partes aceitarem que a economia é o foco central reduz a prioridade para a reforma política, que é a grande expectativa dos liberais, prejudicados pelo sistema distrital puro.
As conversas entre as partes devem continuar hoje, depois de sete horas de negociações entre os delegados dos dois líderes e um encontro de 30 minutos entre David Cameron (conservador) e Nick Clegg (liberal-democrata).
O primeiro-ministro Gordon Brown pegou uma carona nelas, ao se encontrar com Clegg. Segundo o Canal 4 da TV britânica, Brown saiu pelos fundos de sua casa/escritório, no número 10 de Downing Street, para encontrar-se "secretamente" com Clegg no edifício do Ministério de Relações Exteriores, que fica na rua atrás de Downing Street.
Não vazou o teor da conversa, mas Nick Robinson, o geralmente bem informado comentarista politico da BBC, diz que as lideranças trabalhistas já trabalham com a hipótese de renúncia do premiê, nas próximas 48 horas. Renúncia, de resto, já solicitada por três parlamentares trabalhistas.
Brown recusou-se a renunciar após a eleição de quinta-feira, apesar da contundente derrota de seu partido, e até ofereceu-se para negociar um novo governo com os liberais, se o diálogo destes com os conservadores fracassar.
Se a renúncia de fato se der, desaparece a hipótese, já remota, de acordo trabalhistas/liberais e fica apenas a de uma bem-sucedida negociação liberais/conservadores.
Ou, em caso de fracasso, aparece o cenário de uma nova eleição, o que daria aos mercados financeiros um maravilhoso pretexto para atacar a libra esterlina e os títulos do governo britânico.


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