São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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Tom de livros reflete relação conturbada com imprensa

Candidata odeia jornalistas, segundo biógrafo

DE WASHINGTON

Antes mesmo de as duas biografias críticas a Hillary Clinton chegarem ao público, na semana passada, o comando da campanha mostrou as armas. "Fontes anônimas" vazaram a blogs simpáticos à senadora que um dos autores de "Her Way", Jeff Gerth, é marido de uma assessora de um candidato nanico democrata, o senador Chris Dodd (menos de 1% de nas pesquisas).
Então, uma das testemunhas-chave do tal "pacto" entre Hillary e o marido, o historiador Taylor Branch, resolveu vir a público desdizer o que havia dito aos autores. Ainda assim, Gerth afirmou que a informação continuava valendo, pois ele a confirmara também com o ex-chefe de gabinete de Bill Clinton, que teria ouvido a expressão "Projeto 20 Anos" do próprio presidente, no AirForce One, em 1996.
Mesmo resenhistas isentos, como Robert Dallek, reclamaram do que consideraram ser um tom excessivamente crítico. "O livro é quase uniformemente negativo", escreveu o historiador especializado em presidentes norte-americanos, que acaba de lançar o livro "Nixon and Kissinger", sobre a complexa relação do republicano e seu secretário de Estado.
Como exemplo, Dallek cita a crítica feita ao excesso de ambição da senadora. É uma qualidade desejável num presidente, argumenta o historiador, e não um defeito, como querem os autores. Esse excesso, pergunta ele, retoricamente, faz o casal Clinton "diferente de qualquer outra pessoa na política, incluindo Lincoln e Roosevelt?".
O problema, acredita Carl Bernstein, o outro biógrafo, reside na relação de Hillary com a imprensa norte-americana. Para o jornalista, que junto de Bob Woodward ganharia o Pulitzer pela série de denúncias que ajudaram a derrubar Richard Nixon em 1974, a senadora deveria parar de ver os jornalistas "como um bloco único".
Hillary se recusou a falar com Bernstein para seu "A Woman in Charge", apesar de ambos se conhecerem socialmente. Em entrevista à ABC News, ele diria que, se pudesse fazer apenas uma pergunta à senadora, seria "por que você não quis falar comigo?". "Ela odeia a imprensa", disse. E deveria superar isso "porque é tolo e imaturo".
Bernstein passou oito anos trabalhando na biografia, que resultou num cartapácio de 628 páginas. Falou com 200 pessoas, muitas próximas ao casal, mas suas duas principais fontes são Betsy Wright, ex-chefe de gabinete de Bill durante o período no Arkansas, e Diane Blair, amiga íntima de Hillary morta em 2000, que planejava um livro ela própria.
Ele desmonta o conceito de que Hillary seria uma "Lady Macbeth" contemporânea, governando o país por trás da cadeira do marido. "Era mais uma co-presidência", escreve. Entre as revelações, a de que Bill pensava em se divorciar da mulher já em 1989 ou 1990 -ela o impediu e o ameaçou.
"Hillary se casou com Bill Clinton já sabendo que as chances de ele ser fiel eram menores do que as de ele virar presidente dos Estados Unidos", escreve Bernstein. Segundo o jornalista, a senadora contratou investigadores para desqualificar depoimentos de mulheres que ela sabia serem ex-amantes de Bill. (SÉRGIO DÁVILA)


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