São Paulo, quarta, 10 de junho de 1998

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REGIME MILITAR
Ditador Jorge Videla teria sido preso pelo desaparecimento de menores
Ex-presidente argentino é detido em Buenos Aires

AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires

O juiz federal Roberto Marquevich ordenou ontem a prisão do ex-general Jorge Rafael Videla, presidente da Argentina, no poder de 1976 a 1981 -durante o último regime militar do país.
Videla foi detido às 19h por seis policiais federais, em sua casa, no bairro Belgrano, Buenos Aires.
O Judiciário não divulgou o motivo da prisão. Segundo meios de comunicação argentinos, Videla foi detido por se negar a prestar depoimento em um processo que investiga o desaparecimento dos cadáveres de líderes guerrilheiros de esquerda.
A agência de notícias "Reuters", por sua vez, afirmou que o ex-general foi preso como consequência de investigações sobre o desaparecimento de menores filhos de desaparecidos políticos.
A agência afirmou que Videla pode ser condenado a uma pena de prisão de até 25 anos se condenado no processo sobre cinco menores filhos de pais que foram sequestrados por esquadrões da morte entre 76 e 78 e adotados ilegalmente. Estima-se que há centenas de casos semelhantes no país.
O ex-presidente está preso na delegacia da Polícia Federal de San Isidro (Buenos Aires), à disposição da Justiça. O juiz Marquevich ouvirá seu depoimento hoje ou amanhã.
Os advogados de Videla, Alberto Varela e Carlos Tavares, saíram ontem à noite do prédio do tribunal de San Isidro sem dar declarações à imprensa.
"Essa é uma data importante. Estamos esperando a justiça por mais de 20 anos", afirmou o deputado federal Alfredo Bravo.
O ministro Carlos Corach (Interior) classificou de grave o sequestro de menores. Ele afirmou que o governo não vai se envolver no assunto.
Segundo Corach, a participação de policiais federais foi requisitada pela Justiça.

Anistia
O ex-general Videla já foi preso na Argentina, junto com outros dirigentes do regime militar, em 1985, durante o governo do presidente Raúl Alfonsín.
Videla foi condenado por crimes como assassinato e tortura e perdeu a condição de militar.
Calcula-se que 30 mil pessoas desapareceram na Argentina durante o último regime militar, de 1976 a 1983.
No início do governo do presidente Carlos Menem (1989), que sucedeu Alfonsín, os militares condenados foram anistiados.
Desde então, Videla tem vida reservada e pouco sai de seu apartamento na capital argentina.
Ficou famosa na Argentina a imagem do ex-general comungando numa missa, logo depois de sua libertação.
A anistia aos militares não os liberava do crime de sequestro de menores, já que eles não haviam sido condenados por isso durante o governo Alfonsín (1983-89).

Movimento militar
Jorge Rafael Videla foi um dos líderes do movimento militar que derrubou o governo peronista e assumiu o poder na Argentina, em 24 março de 1976. O ex-general ocupou a Presidência até 81.



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