São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Milícia xiita abre fogo em Bagdá e mata 42 sunitas

Falsas blitze identificaram, pelos sobrenomes das vítimas, quem pertencia à facção rival e as tiravam dos veículos

Terroristas escolheram suas vítimas nas ruas, entre pessoas desarmadas, de acordo com os documentos; grupo de Al Sadr é suspeito

DA REDAÇÃO

O ataque de uma milícia armada árabe xiita a um distrito sunita, em Bagdá, matou mais de 40 pessoas ontem, aumentando o temor de que o Iraque mergulhe numa guerra civil. Foi a mais sangrenta ofensiva desde o início da atual onda de violência sectária, que começou em fevereiro, após a destruição de um santuário xiita.
As vítimas, pelo menos 42, estavam desarmadas e foram mortas a tiros nas ruas do distrito de Hay al Jihad, oeste da cidade. Muitas foram assassinadas depois de serem retiradas de seus carros em falsas blitze. Segundo autoridades do Ministério do Interior, os terroristas paravam as pessoas e checavam seus documentos, procurando por nomes tipicamente sunitas. "Estão matando civis sunitas de acordo com suas identidades", disse uma autoridade à agência Reuters.
O ataque ocorreu próximo a uma mesquita xiita onde, na noite de anteontem, um carro-bomba matou três. Sunitas dizem que, após esse atentado, homens da milícia Exército Mhedi, leal ao clérigo xiita Moqtada al Sadr, ameaçaram os moradores, afirmando que, caso não deixassem suas casas, enfrentariam a morte.
Policiais e políticos da facção minoritária também culparam a milícia. Autoridades do grupo de Al Sadr -que integra o bloco islâmico xiita do premiê Nuri al Maliki- negaram qualquer envolvimento no caso.
Mas um político xiita confirmou que homens do Mehdi foram a Jihad ontem -insistindo que o alvo deles eram sunitas responsáveis por atentados anteriores. Al Sadr, cujos aliados já lideraram duas rebeliões contra as forças americanas, afirmou que o ataque de ontem faz parte de "um plano do Ocidente para provocar uma guerra civil e sectária entre irmãos".
A ação é um duro golpe ao plano de reconciliação proposto por Maliki. O premiê havia prometido desmantelar as milícias, que transformaram Bagdá num campo de guerra. "As mortes revelam a incapacidade do governo de derrotá-las", diz Adnan al Dulaimi, líder sunita.

Crueldade
Parte dos mortos foi encontrada amarrada e com os olhos vendados. Uma testemunha afirmou que, ao sair de casa, viu uma fileira de corpos na rua e homens pondo fogo nas casas. Segundo Ala'a Makki, porta-voz do Partido Islâmico Iraquiano -principal grupo político sunita-, entre as vítimas estavam mulheres e crianças.
Apesar dos atentados praticamente diários, o fogo aberto em bairros civis é raro e nunca havia ocorrido nessa escala na capital. Depois do massacre, as forças iraquianas decretaram toque de recolher no distrito.
A alguns quilômetros de Jihad, em Shula -encrave xiita numa região sunita-, homens do Mehdi bloquearam ruas e ordenaram aos moradores que ficassem em casa, aparentemente temendo represálias.
Numa provável resposta sunita, dois carros-bomba explodiram perto de uma mesquita xiita no nordeste de Bagdá, deixando 17 mortos e 45 feridos.


Com agências internacionais


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