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Mediador falha na tentativa de reunir rivais hondurenhos
Costa-riquenho ouve deposto e interino em reuniões separadas; diálogo agora será entre comissões nomeadas pelos dois lados
Primeiro encontro de grupos de trabalho foi ainda ontem; negociações "não têm prazo para terminar", diz ministra da Informação de Honduras
Juan Carlos Ulate/Reuters
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Micheletti e o costa-riquenho Arias (ambos em primeiro plano) após reunião preliminar em San José
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SAN JOSÉ
(COSTA RICA)
Com a intermediação da
Costa Rica, representantes do
presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e do interino, Roberto Micheletti, deram
início ontem às negociações para resolver a crise política desencadeada pelo golpe de Estado no país. Ambos os líderes
conversaram em separado com
o anfitrião, Óscar Arias, mas se
recusaram a se reunir.
O primeiro a se encontrar
com Arias foi Zelaya. O presidente deposto chegou a casa
privada do líder costa-riquenho às 11h30 locais (14h30 de
Brasília). Na saída, por volta
das 12h50, fez uma breve declaração à imprensa, quando voltou a dizer que o fim da crise
depende de sua volta ao poder.
"Acreditamos que fomos
coerentes com a posição de
Honduras: a restituição do Estado de direito e da democracia.
A restituição, como pediram a
ONU e a OEA, do exercício do
presidente eleito pelo povo
hondurenho", afirmou, ao lado
de Arias e usando o seu tradicional chapéu branco.
Em seguida, quando andava
em direção ao carro, uma jornalista lhe perguntou se iria se
encontrar com Micheletti. Sem
se virar, fez apenas o sinal negativo com a mão direita.
A comitiva de Micheletti, que
esperou no aeroporto de San
José o fim da reunião com Zelaya, chegou 20 minutos depois.
O presidente interino foi recebido na entrada por Arias, com
quem se reuniu por três horas.
Ao final do encontro, Micheletti leu uma declaração à imprensa na qual afirmou que "o
diálogo começou" e anunciou a
instalação de uma comissão de
trabalho formada por representantes de ambos os lados.
O presidente interino também afirmou que as eleições
presidenciais, legislativas e
municipais estão mantidas para 29 de novembro, em resposta a especulações de que poderiam ser antecipadas como solução à crise política.
Micheletti, que voltaria a
Honduras ainda ontem, nomeou como representantes o
ex-chanceler Carlos López
Contreras, a ex-presidente da
Corte Suprema de Justiça Vilma Cecilia, os dirigentes Arturo
Corrales (democrata-cristão) e
Mauricio Villeda (do Partido
Liberal, o mesmo de Micheletti
e Zelaya).
Do lado de Zelaya, que deve
permanecer na Costa Rica, a
comissão de quatro pessoas está encabeçada por sua chanceler Patricia Rodas, considerada
sua principal assessora política
e o elo entre o presidente deposto e Hugo Chávez.
A primeira reunião do grupo
de trabalho teve início as 16h45
de ontem, na casa de Arias, localizada num bairro nobre de
San José. A informação foi dada
em entrevista coletiva pela ministra da Informação de Honduras, Mayi Antillón. Segundo
ela, as negociações não têm
prazo para terminar.
Todo o processo de mediação
deve ser encabeçado pelo próprio Arias, 68. Prêmio Nobel da
Paz, em 1987, ele teve um importante papel durante as negociações para o fim da guerra
civil na América Central, durante o primeiro mandato
(1986-1990). O plano de paz
idealizado por ele foi assinado
por outros quatro países (El
Salvador, Honduras, Guatemala e Nicarágua).
Como vários presidentes da
região, ele também conseguiu
um segundo mandato graças a
mudanças na Constituição. Em
2006, Arias voltou a ser eleito
pelo Partido de Liberação Nacional (centro-direita). Para se
recandidatar, foi necessária
uma emenda constitucional
para permitir a candidatura de
ex-presidentes.
A mudança foi proposta pelo
próprio Arias, que fez um intenso trabalho de bastidores
para conseguir a aprovação.
Chanceler demitido
Presidente interino há 12
dias, Micheletti já fez a sua primeira troca ministerial: o embaixador Roberto Flores substituirá Enrique Cortez, que ficou rapidamente famoso por
suas declarações desastradas.
Na mais controvertida, chamou o presidente Barack Obama de "negrinho que não sabe
nada de nada".
Em Tegucigalpa, capital de
Honduras, manifestantes pró-Zelaya voltaram ontem a se
manifestar exigindo o retorno
do presidente deposto.
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