São Paulo, sexta-feira, 10 de julho de 2009

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Mediador falha na tentativa de reunir rivais hondurenhos

Costa-riquenho ouve deposto e interino em reuniões separadas; diálogo agora será entre comissões nomeadas pelos dois lados

Primeiro encontro de grupos de trabalho foi ainda ontem; negociações "não têm prazo para terminar", diz ministra da Informação de Honduras

Juan Carlos Ulate/Reuters
Micheletti e o costa-riquenho Arias (ambos em primeiro plano) após reunião preliminar em San José

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SAN JOSÉ
(COSTA RICA)

Com a intermediação da Costa Rica, representantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, e do interino, Roberto Micheletti, deram início ontem às negociações para resolver a crise política desencadeada pelo golpe de Estado no país. Ambos os líderes conversaram em separado com o anfitrião, Óscar Arias, mas se recusaram a se reunir.
O primeiro a se encontrar com Arias foi Zelaya. O presidente deposto chegou a casa privada do líder costa-riquenho às 11h30 locais (14h30 de Brasília). Na saída, por volta das 12h50, fez uma breve declaração à imprensa, quando voltou a dizer que o fim da crise depende de sua volta ao poder.
"Acreditamos que fomos coerentes com a posição de Honduras: a restituição do Estado de direito e da democracia. A restituição, como pediram a ONU e a OEA, do exercício do presidente eleito pelo povo hondurenho", afirmou, ao lado de Arias e usando o seu tradicional chapéu branco.
Em seguida, quando andava em direção ao carro, uma jornalista lhe perguntou se iria se encontrar com Micheletti. Sem se virar, fez apenas o sinal negativo com a mão direita.
A comitiva de Micheletti, que esperou no aeroporto de San José o fim da reunião com Zelaya, chegou 20 minutos depois. O presidente interino foi recebido na entrada por Arias, com quem se reuniu por três horas.
Ao final do encontro, Micheletti leu uma declaração à imprensa na qual afirmou que "o diálogo começou" e anunciou a instalação de uma comissão de trabalho formada por representantes de ambos os lados.
O presidente interino também afirmou que as eleições presidenciais, legislativas e municipais estão mantidas para 29 de novembro, em resposta a especulações de que poderiam ser antecipadas como solução à crise política.
Micheletti, que voltaria a Honduras ainda ontem, nomeou como representantes o ex-chanceler Carlos López Contreras, a ex-presidente da Corte Suprema de Justiça Vilma Cecilia, os dirigentes Arturo Corrales (democrata-cristão) e Mauricio Villeda (do Partido Liberal, o mesmo de Micheletti e Zelaya).
Do lado de Zelaya, que deve permanecer na Costa Rica, a comissão de quatro pessoas está encabeçada por sua chanceler Patricia Rodas, considerada sua principal assessora política e o elo entre o presidente deposto e Hugo Chávez.
A primeira reunião do grupo de trabalho teve início as 16h45 de ontem, na casa de Arias, localizada num bairro nobre de San José. A informação foi dada em entrevista coletiva pela ministra da Informação de Honduras, Mayi Antillón. Segundo ela, as negociações não têm prazo para terminar.
Todo o processo de mediação deve ser encabeçado pelo próprio Arias, 68. Prêmio Nobel da Paz, em 1987, ele teve um importante papel durante as negociações para o fim da guerra civil na América Central, durante o primeiro mandato (1986-1990). O plano de paz idealizado por ele foi assinado por outros quatro países (El Salvador, Honduras, Guatemala e Nicarágua).
Como vários presidentes da região, ele também conseguiu um segundo mandato graças a mudanças na Constituição. Em 2006, Arias voltou a ser eleito pelo Partido de Liberação Nacional (centro-direita). Para se recandidatar, foi necessária uma emenda constitucional para permitir a candidatura de ex-presidentes.
A mudança foi proposta pelo próprio Arias, que fez um intenso trabalho de bastidores para conseguir a aprovação.

Chanceler demitido
Presidente interino há 12 dias, Micheletti já fez a sua primeira troca ministerial: o embaixador Roberto Flores substituirá Enrique Cortez, que ficou rapidamente famoso por suas declarações desastradas. Na mais controvertida, chamou o presidente Barack Obama de "negrinho que não sabe nada de nada".
Em Tegucigalpa, capital de Honduras, manifestantes pró-Zelaya voltaram ontem a se manifestar exigindo o retorno do presidente deposto.


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