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SEGURANÇA NO MERCOSUL
Governo brasileiro não foi consultado sobre pedido de Menem de associação à aliança militar
Brasil critica opção argentina por Otan
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O governo brasileiro acha que a
vinculação da Argentina à Otan
(Organização do Tratado do
Atlântico Norte) introduziria
"elementos estranhos no contexto da segurança regional sul-americano", disse o chefe da assessoria de comunicação social do Itamaraty, Luiz Fernando Ligiero.
Segundo ele, o Brasil não foi
consultado pela Argentina antes
do anúncio formal, anteontem,
da intenção daquele país de se
tornar "membro associado" da
Otan. "Trata-se de decisão do presidente Menem que decorre de
prerrogativa soberana da Argentina", afirmou Ligiero.
Diplomatas e militares brasileiros reagiram mal à declaração de
Menem. Há virtual consenso entre eles de que a eventual adesão
da Argentina à Otan pode inviabilizar o nascente sistema de defesa
comum do Mercosul e erode a
ONU (Organização das Nações
Unidas) como centro de decisões
mundiais pós-Guerra Fria.
Além disso, a entrada da Argentina na Otan, que acaba de realizar pesada operação militar nos
Bálcãs, pode ser interpretada como contradição com o estabelecimento consolidado de várias zonas de paz na América do Sul.
Os contatos entre Argentina e
Otan começaram em 1992, quando o chanceler argentino discursou no Conselho de Representantes Permanentes do Atlântico
Norte, em Bruxelas. A Argentina
já mandou forças policiais para
missões da Otan na Bósnia.
O ministro da Defesa argentino,
Jorge Dominguez, em artigo publicado na revista "Nato Review"
em maio último, já escrevia como
se o país fizesse parte da organização: "A Argentina continuará a
servir em sua condição única de
parceira da Otan no Atlântico Sul,
enfrentando junto com ela os desafios comuns futuros".
A aproximação militar unilateral da Argentina com países de fora da região havia ficado clara
desde 1997, quando os EUA
anunciaram seu status de "aliado
militar íntimo", reservado, fora
da Otan, a Israel, Japão, Coréia do
Sul, Egito e Jordânia.
A decisão americana, embora
tenha implicações basicamente
simbólicas, desagradou a vizinhos da Argentina, em especial ao
Chile, que, em protesto, interrompeu negociações para comprar aviões militares dos EUA.
Antes, a Argentina havia enviado navios militares para a Guerra
do Golfo (1991) e soldados para a
ocupação militar do Haiti (1994).
Agora, o país pretende enviar
120 soldados para integrarem as
forças de paz em Kosovo.
Essa participação argentina em
operações de combate lideradas
pelos EUA fazem parte da estratégia de "relações carnais" que o governo Menem resolveu manter
com Washington, para incômodo
de diversos de seus vizinhos.
Durante a Guerra Fria, prevaleceu na América do Sul a tese diplomática de que o subcontinente
deveria se manter distante dos aspectos militares do confronto
Leste-Oeste, por mais próximos
que seus governos estivessem dos
EUA no combate ideológico.
Mas, com a abertura da Otan
para países da antiga Cortina de
Ferro (expressão que designava a
União Soviética e seus aliados do
Pacto de Varsóvia), a Argentina se
sentiu estimulada a inverter a tradição histórica da região.
Para o ministro da Defesa argentino, seu país tem "excelentes
relações" com a Otan, com a qual
compartilha "princípios básicos
de democracia, respeito aos direitos humanos, liberdades civis e liberdade econômica".
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