São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Israel amplia ação e sofre 15 baixas

Número de militares mortos é o maior desde início do conflito, há 30 dias; Hizbollah jura lutar até "última bala"

Plano prevê ocupação de 30 km no sul do Líbano; se diplomacia naufragar, em dois dias, 40 mil soldados devem entrar por terra


Kevork Djansezian/Associated Press
Criança faz homenagem a uma vítima da guerra, em Beirute


MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM KIRIYAT SHMONE (ISRAEL)

Com 40 mil soldados a postos na fronteira, o gabinete de segurança de Israel aprovou ontem a ampliação da ofensiva terrestre contra o grupo terrorista Hizbollah no sul do Líbano dia em que Israel sofreu o seu maior número de baixas militares, 15. As operações já duram quase um mês e mataram 711 pessoas do lado libanês e 118 do lado israelense, pelos números oficiais.
As tropas receberam permissão para avançar além do rio Litani, a pelo menos 30 km da fronteira, para tentar conter o disparo de foguetes contra o país. A incursão até o rio leva uma semana.
Apesar da extensão da invasão, Israel deixou uma porta aberta para a diplomacia, dizendo que a ofensiva pode ser iniciada somente dentro de dois dias. Horas após o anúncio, no entanto, novas colunas de blindados e da infantaria israelenses entraram no Líbano.
O Exército não confirmou se a operação faz parte da ampliação aprovada por 9 dos 13 ministros. Três deles, entre eles Shimon Peres, abstiveram-se, e pela primeira vez a esquerda israelense criticou abertamente as operações terrestres. Segundo o ministro Eli Yshai, do partido religioso Shas, a nova ação pode durar mais de 30 dias.
O líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah, disse que o grupo vai lutar "até a última bala" e fará do sul do Líbano o "cemitério" das tropas israelenses. "Vocês não conseguirão ficar na nossa terra, e se vierem, vamos forçá-los a sair", afirmou em um vídeo gravado em seu esconderijo e transmitidas pelo canal de TV do grupo, o Al Manar.
O líder xiita disse que o grupo vai continuar disparando contra Israel e advertiu os moradores árabes de Haifa a deixarem a cidade para evitar os foguetes.
Nasrallah rejeitou também o envio de tropas internacionais, em discussão na ONU. "O envio do Exército libanês é uma alternativa melhor e mais conveniente do que o de tropas internacionais. Não sabemos de quem elas recebem ordens."

Baixas israelenses
No campo de batalha, Israel sofreu o maior número de baixas militares em um dia. Catorze soldados foram mortos por guerrilheiros, e outro em incidente de "fogo amigo".
Nove reservistas de uma unidade especial morreram em um casa atingida por um míssil antitanque na aldeia de Dibel, uma das poucas de maioria cristã na região. Outros quatro morreram em um tanque atacado, também por míssil, na aldeia de Aita al Shaab - de onde saíram os guerrilheiros que seqüestraram dois soldados em 12 de julho, no episódio que detonou a retaliação israelense.
Outro soldado foi morto por um morteiro, e em Ataiba, um tanque de Israel disparou contra reservistas da infantaria, matando um e ferindo quatro.
Segundo o Exército, 40 guerrilheiros foram mortos. A mídia israelense divulgou que entre eles há membros da Guarda Revolucionária do Irã, identificados por documentos. O Hizbollah negou a presença de iranianos em suas filas.
Apesar da ofensiva no sul do país e dos bombardeios em Beirute, o Hizbollah disparou ontem mais 160 foguetes contra Israel e pelo menos oito mísseis de longo alcance Chaibar, com capacidade para 90 kg de explosivos - que caíram a 99 km da fronteira, sem deixar feridos. Três atingiram territórios palestinos na Cisjordânia. A maior parte dos foguetes de curta distância, Katyusha, caiu em Kiriyat Shmone. O governo israelense começou a retirar moradores que não fugiram.
Em ataques ao Líbano, Israel matou Hassan Asader, um dos líderes do Hizbollah, na cidade de Masjara. Ele foi atingido por um míssil da Força Aérea, em ação do mesmo tipo usada nos territórios palestinos, conhecida como "assassinato seletivo".
Caças e navios de Israel voltaram a atacar Beirute. Quatro prédios foram atingidos, inclusive um do Al Manar.
A chanceler de Israel, Tzipi Livni, disse que a decisão de ampliar a ofensiva não confronta as iniciativas da ONU na direção de um cessar-fogo.
""Quanto mais rápido a comunidade internacional aprovar uma resolução, e quanto mais rápido a força internacional chegar para ajudar o Exército libanês, melhor", disse ela, em entrevista coletiva conjunta com o ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier. ""Enquanto isso não acontecer, o governo tem o compromisso de continuar as operações contra o Hizbollah."

Gaza
Um ataque de Israel na Cidade de Gaza matou ontem uma menina de 5 anos e dois supostos terroristas, além de ferir duas pessoas, disseram autoridades palestinas. Sem dar detalhes, Israel disse que visou "campos de treinamento terroristas". A ofensiva em Gaza começou em 28 de junho, após a captura de um soldado israelense por grupos islâmicos.


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