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ARTIGO
Extremistas minam esperança
AMOS GITAI
DO "MONDE"
Estar em Haifa, minha cidade natal, nos dias que correm,
ouvir o som das sirenes de alerta, o ruído dos mísseis que
caem, é uma experiência que
nada tem de intelectual. Trata-se de sentir fisicamente o que
significa ser um cidadão do
Oriente Médio, fazer parte do
grande ritual dessa região, que
consiste em derramar o sangue
dos povos que a habitam a intervalos regulares.
A única questão que se apresenta é: por quê? Quantas vítimas, quanta destruição, serão
necessárias para que se compreenda aqui que a dança da
morte não rima com nada?
O conflito atual demonstra
ao menos uma coisa: que o
Oriente Médio nos últimos
tempos está no caminho do
apaziguamento e da reconciliação. De maneira tragicamente
repetitiva e previsível, os extremistas intervêm a cada vez que
se realiza qualquer progresso e
o esmagam pela força.
Basta recuar alguns anos para perceber: no momento em
que Yitzhak Rabin ordenou ao
Exército israelense que se retirasse das cidades palestinas de
Jenin e Nablus, começou uma
onda de atentados a ônibus em
Tel Aviv.
Do lado dos terroristas, cada
avanço em direção à paz é interpretado como sinal de fraqueza, como ocasião de demonstrar seu poderio por meio
de ataques a Israel. É dessa maneira que eles minam o terreno
ocupado pelos moderados israelenses.
Prestem atenção à mistura
entre o conflito principal, que
opõe israelenses e palestinos, e
os confrontos entre Israel e os
demais países árabes. O primeiro é o conflito essencial porque
a terra pertence aos dois povos,
que precisam encontrar uma
maneira de nela viverem juntos.
Para nós, israelenses de esquerda, esta guerra é particularmente complexa, no plano
político. Já há alguns anos, por
meio de artigos, livros ou filmes, tentamos demonstrar que
a solução é que Israel se retire
dos territórios ocupados. Ora,
quando Israel se retirou de Gaza e do Líbano, foi exatamente
ali que o Hizbollah atacou. Na
parte do Golã que continua
ocupada, em contraste, tudo
está calmo.
Sabe-se o que dirá a direita
israelense: a retirada não é solução. De minha parte, continuo a acreditar que Israel deveria continuar as retiradas, mesmo que a coexistência pacífica
seja apenas uma esperança distante: porque um dia ela se produzirá. Mas enquanto a esperamos, a luta contra o Hizbollah
não tem solução "politicamente correta".
Será de fato possível apaziguar uma organização religiosa
feroz, que se apóia em uma
ideologia perfeitamente irracional, por meio da moderação,
da diplomacia?
A particularidade do conflito
do Oriente Médio é que ele
transcorre integralmente diante das câmeras. É o conflito
mais influenciado pela mídia
que o planeta já viu e a novela
preferida do mundo inteiro.
Uma novela sem fim, onde os
mocinhos e os vilões trocam regularmente de papéis.
Fazer cinema nesse contexto
é um verdadeiro desafio: é preciso constantemente manter a
perspectiva, preservar a racionalidade, apesar da tormenta.
Ser a um só tempo cidadão e cineasta em um contexto como
esse é quase uma esquizofrenia, mas creio profundamente
que o cinema não deve ser o jornal noturno da TV e que lhe cabe o papel de desmantelar a
simplificação proposta pela mídia. É preciso que ele alimente
não o ódio, mas a compreensão.
AMOS GITAI é cineasta israelense
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