São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2006

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entrevista

Israel negligenciou Hizbollah"

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O documentarista e pacifista Avi Mograbi, um dos mais premiados de Israel, critica a omissão de seu país frente ao Hizbollah na década passada e condena a presente opção pela guerra. O diretor de "Vingue Tudo mas Deixe um de Meus Olhos", lançado no Festival de Cannes de 2005, foi um dos cineastas israelenses que assinaram carta de solidariedade aos diretores libaneses e palestinos tornada pública há duas semanas em Paris, na abertura da oitava edição da Bienal do Cinema Árabe.
Famoso pelo antibelicismo radical de seus documentários, Mograbi mantém militância online pela paz. Por e-mail, ele concedeu à Folha a seguinte entrevista.

 

FOLHA - Qual teria sido sua estratégia contra os ataques do Hizbollah a Israel?
AVI MOGRABI -
Esse derramamento de sangue começou mesmo com o Hizbollah matando sete e seqüestrando dois soldados. O governo de Israel teve de decidir como cuidar das conseqüências desse evento. Poderia ter havido negociação para a liberação dos soldados. Mas Israel decidiu eliminar o Hizbollah com bombardeios, o que foi seguido por bombardeios do Hizbollah. Por seis anos, desde a retirada das tropas israelenses do Líbano, Israel negligenciou a questão Hizbollah e não tratou disso com os meios diplomáticos de que dispõe. E decidiu ir à guerra horas depois dos seqüestros, sem alertar o outro lado ou os próprios cidadãos que nos dirigimos à guerra total. Eu teria estudado qualquer outro caminho. Agora que os dois lados estão se atacando, deveríamos convocar um cessar-fogo e negociar.

FOLHA - Os cineastas israelenses em favor dos ataques também lançaram algum manifesto?
MOGRABI -
Não precisaram fazê-lo. O país inteiro está apoiando 100% o governo.

FOLHA - Outro de seus documentários trata da ascensão política de Ariel Sharon. Como você vê a análise de que a ausência dele do governo foi um dos fatores que catalisaram esta guerra?
MOGRABI -
Não ouso pensar no que o senhor Sharon teria feito nesta situação. As pessoas tendem a lembrá-lo como um líder pacifista que começou a retirada de Gaza e tendem a esquecer que foi ele o iniciador da primeira guerra do Líbano. Vendo o jeito como a saída de Gaza foi encaminhada, sem negociação com a Autoridade Palestina, não sinto falta de uma segunda chance no Líbano para Sharon.

FOLHA - Se você tivesse de recomendar um filme como introdução ao conflito no Oriente Médio, qual seria?
MOGRABI -
Para um olhar realmente original, eu indicaria um documentário do diretor sírio Omar Amiralay intitulado "Há Tanta Coisa para Dizer" [depoimento à beira da morte do dramaturgo Saadallah Wannous, 1941-1997].


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