São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / GUERRA E PAZ

EUA estão perto de marcar retirada

Pressionado pela corrida eleitoral, Bush deve concordar com um prazo para saída escalonada do Iraque

Data proposta por árabes, outubro de 2010, é o ponto principal de divergência entre países; anúncio pode ser feito já nesta semana

Thaier al-Sudani -5.ago.08/Reuters
Soldado dos EUA em Baquba

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Segundo relatos de funcionários dos dois governos feitos a jornalistas em Washington, os EUA e o Iraque estão prestes a anunciar um acordo que prevê um prazo para retirada escalonada de boa parte dos cerca de 140 mil soldados norte-americanos hoje em solo iraquiano.
A pedido do presidente americano, George W. Bush, a secretária de Estado Condoleezza Rice conversou com o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, por telefone na última quarta-feira para acertarem os termos gerais do acordo. Um dos pontos que ficaram pendentes foi a data da retirada.
Após pedir que fosse em até 12 meses a contar de janeiro de 2009 e, depois, em até 16 meses, o iraquiano sugere agora que seja até outubro de 2010; os norte-americanos questionam os três prazos. De qualquer maneira, é um grande avanço para uma administração que até o mês passado nem sequer aceitava falar em datas para a saída das tropas.
Agora, as equipes dos dois governos trabalham nos detalhes do acordo, que pode ser anunciado já na próxima terça ou quarta-feira -Bush retorna da China na segunda à noite e tira suas férias de verão de quinta-feira ao dia 26 de agosto. Se deixar o anúncio para sua volta, é porque o obstáculo do prazo de saída não foi ultrapassado.
Em Pequim, a porta-voz da Casa Branca disse que não havia anúncio iminente de acordo e que era "prematuro" falar sobre quais serão as datas para retirada. "Em nossas negociações, nós continuamos trabalhando com eles nessas questões", disse Dana Perino.
Em Washington, o porta-voz do Pentágono reconheceu que o "acordo final está mais próximo", mas disse "que não estamos lá ainda". "Houve progresso o suficiente para que haja um esboço de acordo circulando em nossas respectivas capitais", disse Geoff Morrell.
Na cópia do esboço do documento que já circula em Washington, no lugar destinado à data de retirada das tropas, há apenas a sigla "T.B.D.", "a ser determinado", em inglês, segundo o veterano jornalista Jim Hoagland, do "Washington Post", que leu o texto.

Outubro de 2010
A princípio, Maliki insistia em um ano a partir de expirada a autorização do Conselho de Segurança da ONU para a presença de uma força multinacional no Iraque, que vai até 31 de dezembro de 2008 -a data pode ser adiada a pedido do Iraque. Mas, com a visita de Barack Obama ao Oriente Médio, há duas semanas, o iraquiano passou a falar em 16 meses, o que coincide com a proposta do candidato democrata.
O apoio público ao candidato opositor à sucessão de Bush, depois negado sem sucesso por Maliki, irritou profundamente a Casa Branca. Após a conversa entre os dois governos, um novo prazo, agora outubro de 2010, voltou a ser discutido.
Com a relativa calma por que passa o Iraque -julho foi o mês em que os EUA registraram o menor número de baixas militares desde o início da guerra, em 2003-, o prazo para saída dos soldados norte-americanos do país voltou a ser questão importante na disputa eleitoral.
A idéia do governo Bush é anunciar um acordo antes das eleições, dando assim mais munição para que o candidato republicano, John McCain, enfrente o democrata nesse quesito. McCain entrou na disputa dizendo que não sabia se o país ficaria "até cem anos" no Iraque; agora, com a boa recepção pública da proposta de retirada de Obama aliada às condições mais favoráveis no front, o senador reconsiderou a posição.
Além da questão do prazo para a retirada, outros itens estão sendo discutidos. Entre eles, o reconhecimento da soberania iraquiana sobre seu próprio território, mas também a necessidade de as forças multinacionais continuarem atuando temporariamente em áreas como defesa das fronteiras, funcionamento das prisões, treinamento de pessoal militar e operação de tráfego aéreo. Uma pequena fração dos atuais 140 mil soldados seria necessária para cumprir essas tarefas.
É o chamado Sofa, na sigla em inglês, ou Acordo da Situação das Forças, que esclarece como, quando e onde forças militares estrangeiras podem funcionar num país. Define também a responsabilidade desses soldados diante das leis locais, outro ponto de discórdia entre os dois governos. Ambos os aspectos estavam delineados já na Declaração de Intenções, documento conjunto assinado por Bush e Maliki em dezembro de 2007.
Aquele documento dava o prazo de 31 de julho de 2008 para que o acordo fosse anunciado, data não respeitada. Apesar de os EUA não estarem em guerra com o Iraque -hoje, o primeiro é um país com presença militar no segundo, autorizado por esse e pela ONU-, um acordo do tipo tem a importância equivalente a um tratado de paz, e seus termos são exaustivamente negociados.
Após a divulgação, o documento será submetido à aprovação do Congresso iraquiano. O mesmo não deve necessariamente acontecer em relação ao Congresso norte-americano, o que já causa polêmica. Na semana passada, quatro senadores de ambos os partidos apresentaram medida que exige que o acordo passe pelo Legislativo antes de ser aprovado.


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