São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

Texto Anterior | Índice

Guerra cresce na Geórgia; russos ocupam Tskhinvali

Moscou afirma que 1.500 civis já morreram desde sexta no conflito do Cáucaso

Kremlin diz haver até 30 mil refugiados da Ossétia do Sul e ONU contabiliza 2.400; russos dizem ter libertado capital de região separatista

DA REDAÇÃO

A guerra entre a Rússia e a Geórgia pelo controle da região separatista da Ossétia do Sul registrou ontem dramática escalada, com o número de mortos desde a véspera chegando aos 1.500 civis, segundo o Kremlin.
O embaixador russo em Tbilisi, a capital georgiana -os dois países paradoxalmente ainda não romperam relações diplomáticas-, afirmou, segundo a agência russa Interfax, que desde a véspera haviam sido mortos cerca de 2.000 civis. O Kremlin cita 1.500.
O governo da Geórgia disse ter abatido dez caças-bombardeiros russos. Moscou diz ter perdido apenas duas aeronaves e 12 militares. Afirma também ter "libertado totalmente" a capital sul-ossetiana, Tskhinvali. Segundo o porta-voz militar russo no local, Vladimir Boldyrev, "grupos táticos conseguiram livrar a cidade do domínio dos militares da Geórgia".
Em sua primeira versão, a Geórgia diz que se retirou ontem da cidade ocupada na sexta. Mas sua artilharia voltou à tarde a abrir fogo contra a cidade, disse a Interfax.
A aviação russa bombardeou Gori, em princípio fora da região de conflito. A Associated Press testemunhou naquela cidade prédios de apartamento em ruínas, alguns deles ainda em chamas, e cadáveres espalhados pelas ruas.

Refugiados
A agência das Nações Unidas para refugiados disse que cerca de 2.400 pessoas etnicamente georgianas deixaram a Ossétia do Sul nas últimas horas. Informantes do Kremlin anunciam que entre 4.000 e 5.000 civis etnicamente russos deixaram a região separatista para se refugiar na Ossétia do Norte, já dentro do território da Rússia. O vice-premiê russo, Serguei Sobianine, disse que os refugiados podem chegar a 30 mil.
Não há um número oficial de mortos. O governo sul-ossetiano disse que perdeu 50 militares, enquanto Kakha Lomaia, secretário do Conselho de Segurança Nacional da Geórgia, afirma ser plausível que as vítimas sejam abaixo de cem.
Mas estimativas dos poucos jornalistas que circulavam desde sexta na região são bem mais pessimistas. Só em Tskhinvali, a capital da Ossétia do Sul, a destruição era tamanha -e tão grande a quantidade de cadáveres- que a verdade pode estar próxima dos cálculos russos. Moscou estaria interessado em inflar os números para dramatizar os efeitos de um conflito desencadeado pela Geórgia.
A mesma lógica se aplica aos autonomistas sul-ossetianos. A porta-voz do governo pró-russo na região disse que "1.600 morreram" na tentativa georgiana de se apoderar de Tskhinvali, o que o presidente da Geórgia se apressou em qualificar de "flagrante mentira".
Um jornalista russo, Zaid Tsarnayev, disse à Reuters que na sexta esteve num hospital da capital sul-ossetiana, em que mal cabiam feridos, mas que à noite o prédio foi destruído por um caça da Geórgia, com a possibilidade de os pacientes terem sido todos mortos.
Os movimentos georgianos foram ontem contraditórios. De um lado, o presidente Mikheil Saakashvili lançou um apelo "por um imediato cessar-fogo" e acusou os russos de terem lançado uma operação de invasão de seu país. De outro, no entanto, Saakashvili obteve pela manhã do Parlamento a declaração do "estado de guerra" em que a Rússia é explicitamente a inimiga.
A Geórgia abriga um importante oleoduto que transporta combustível para a Europa -a estrutura foi alvo ontem de bombardeio por caças russos, mas as aeronaves erraram o alvo, segundo a ministra georgiana do Desenvolvimento, Ekaterina Sharashidze. Para ela, o episódio "confirma que o Kremlin não se limita a querer destruir a infra-estrutura econômica" de seu país.
Porta-voz da diplomacia georgiana disse que o porto de Poti, no mar Negro, bombardeado desde a véspera, estava ontem "devastado".

Abkházia em chamas
Outro território com pretensões separatistas da Geórgia, a Abkházia, também cobiçada pelos russos, anunciou ontem ter iniciado ações militares para expulsar as forças georgianas. Seus comandantes disseram que bombardearam posições da Geórgia na região, desmentindo os relatos iniciais de que os bombardeios partiram de aviões militares russos.
O presidente Saakashvili confirmou a eclosão desse segundo foco no conflito, mas disse que suas forças "repeliram" a ofensiva.
No fim da tarde Moscou comunicou a Washington que determinara que parte de sua esquadra no mar Negro rumasse a Ochamchire, pequeno porto de Abkhazia, "aparentemente para proteger cidadãos russos", disse funcionário americano.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Sucessão nos EUA / Guerra e paz: EUA estão perto de marcar retirada
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.