São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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TERROR NA RÚSSIA

Georgy, 10, foi enxotado por terrorista islâmico para longe de explosivos; por isso ele ainda está vivo

Garoto conta como sobreviveu ao seqüestro

DA REDAÇÃO

Georgy Farniyev, 10, estava a menos de cinco metros de um pacote de explosivos detonado pelos terroristas islâmicos que fizeram 1.200 reféns no dia 1º de setembro, numa escola da cidade russa de Beslan. Um terrorista enxotou-o para bem longe. Só assim ele sobreviveu à carnificina do dia 3.
Rosto assustado, mãos atrás da nuca, ele aparece num vídeo feito pelos seqüestradores poucas horas depois do início da operação.
Hoje internado em Moscou, ele narrou ontem à Associated Press os longos momentos em que permaneceu seqüestrado.
Georgy diz que acabava de entrar na fila com colegas de classe quando o comando islâmico chegou, dando tiros para o ar e empurrando adultos e crianças para a quadra de esportes da escola.
Ele estava com uma tia, Irina, e um primo, Elbrus, 6, também feridos num episódio no qual morreram 329 reféns, diz a Associated Press, ou 326, afirma a Reuters.
"Eles nos mandaram ficar sentados uns bem juntinhos dos outros. Ameaçaram matar 20 crianças se alguém começasse a gritar." Não havia água para beber, e poucos eram autorizados a ir ao banheiro durante as 53 horas em que durou o seqüestro, disse.
"Homens, mulheres e crianças estavam desmaiando. Não nos davam água para beber", insistiu repetidamente, para sublinhar o caráter traumático da sede.
No segundo dia, narra ainda o garotinho, os terroristas mataram "alguns adultos e uma menina". As mortes ocorreram diante dos olhos aterrorizados dos reféns. "Havia muitos explosivos, minas, granadas, bombas", diz ele.
As explosões na sexta, com o início da carnificina, acabaram por poupá-lo. Um terrorista o mandou para bem longe. Os explosivos que estavam ao seu lado mataram Sima Alikova, 45, e sua filha Irina, 9, que também aparecem em cena do vídeo.
Ele conta que, com as explosões, escapou da quadra e se refugiou na lanchonete. Foi atingido por estilhaços no joelho direito e no alto do braço esquerdo. Correndo, mesmo assim, entrou na cozinha e se escondeu num armário.
Um adulto o localizou e o pegou pelo braço direito. Em segundos estavam numa ambulância.

Terrorismo islâmico
A polícia russa já identificou dez dos 30 terroristas muçulmanos mortos após o seqüestro de Beslan. Entre os cadáveres identificados, seis eram da Tchetchênia.
Quatro outros terroristas provinham da Inguchétia, que, a exemplo da Tchetchênia, tem predominância islâmica. A Ossétia do Norte, onde ocorreu a carnificina da última sexta-feira, é cristã.
O ministro russo do Exterior, Serguey Lavrov, criticou ontem os governos ocidentais -menção aos EUA e à União Européia- que o exortaram a negociar com os separatistas tchetchenos.
Lamentou também que "nossos aliados estejam dando asilo a terroristas que devem ser responsabilizados diretamente pela tragédia do povo tchetcheno".
Referia-se a Ilyas Akhmadov, exilado no Reino Unido, e Acklmed Zakayev, exilado nos EUA.
O presidente Vladimir Putin, que precisou cancelar uma viagem que faria à Alemanha em razão do seqüestro de Beslan, publicou mesmo assim nota conjunta com o chanceler Gerhard Schröder, na qual o atentado de sexta é qualificado como "uma nova dimensão na ameaça do terrorismo internacional à humanidade".
O ministro do Interior, Rashid Nurgaliyev, disse que comissões pa ra evitar atentados no Cáucaso serão em breve instaladas. Cada região terá uma força especial de 70 homens e será chefiada pelo ministro do Interior local.


Com agências internacionais


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