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Morte obriga mulher e filho a trabalhar; médico de RO nega ter assinado óbito
DA REPORTAGEM LOCAL
Planejada para melhorar de
vida, a tentativa de emigrar de
Ronaldo Ribeiro piorou a situação de sua família. Sua mulher,
uma dona-de-casa que estudou
até a 6ª série, agora trabalha de
faxineira. Já o filho mais velho,
de 16 anos, virou empacotador
de supermercado.
Apesar de ter estranhado a
certidão de óbito de Rondônia
-aonde o marido nunca teria
colocado o pé-, Andréa não denunciou o caso: "Não faz diferença, não vai trazer ele de volta". A viúva não soube explicar
por que os atravessadores lhe
enviaram um atestado de óbito,
já que o documento poderia ter
sido emitido pelo Itamaraty
-onde, aliás, está em tramitação.
Andréa Marcolino diz desconhecer as pessoas que levaram
Ronaldo. "Ele mesmo resolveu
tudo. A única coisa que eu sei
que ele fez, porque a gente é pobre, não tem dinheiro, é que ele
empenhou a casa que a gente tinha." Segundo ela, "um colega"
do marido prometeu lhe "arrumar um serviço" fora do país.
"A gente ia continuar morando, e ele ia trabalhando e mandando o dinheiro aos poucos.
Quando ele acabasse de pagar,
eles voltavam a casa para a gente. Só que, como ele não chegou, mandaram os papéis de
novo da casa com meu nome."
Depois de reaver a escritura,
a família vendeu a casa por R$
12 mil e se mudou de Tarumirim para Ouro Branco, também
em Minas, onde vive o irmão de
Andréa. Lá, mora com os dois
filhos e uma sobrinha.
"Depois que ele morreu é que
comecei a trabalhar. De faxineira. Graças a Deus, até que a
gente não está precisando assim de ajuda... O meu pequenininho, sim, de 12 anos, tem problema, é albino. Ele vai para a
escola especial de manhã, aí a
minha sobrinha, que mora com
a gente depois que a mãe morreu, arruma almoço pra ele."
Confrontado com a versão da
viúva, o motorista Antônio da
Paz reafirmou que o seu amigo
Ronaldo Ribeiro morreu em
Chupinguaia (RO). "Quem está
destruindo a viuveza [sic] do
atestado é ela", disse, nervoso.
Antônio descreveu Ronaldo
como "moreno claro, mais para
claro", sem contradizer a foto
do passaporte. "Ele era divertido que nem uma nota de R$
100. Quando você pega uma nota de R$ 100, não fica alegre?".
O motorista, no entanto, não
soube indicar nenhuma outra
pessoa em Rondônia que houvesse conhecido Ronaldo.
A reportagem procurou o
médico que aparece como signatário da declaração, Gilberto
Póvoas Jr. Ele negou conhecer
o caso e disse que raramente assina atestados de óbito por ser
ginecologista e obstetra. "O
único atestado recente que assinei é de um paciente que teve
o pescoço cortado com uma
garrafa de uísque."
Andréa disse que seu marido
queria apenas juntar dinheiro o
suficiente para montar um negócio. "Ele me disse: "Se Deus
quiser, nós vamos melhorar, eu
não quero ir para ficar rico.
Quero ir para ganhar um dinheirinho, abrir uma oficina"."
A família espera agora o envio dos pertences de Ronaldo.
"É um cordão com uma cruzinha. E acho que tem de ter as
roupinhas que levou, né?"
(FM)
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