São Paulo, quinta-feira, 10 de setembro de 2009

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Não haverá novas garantias sobre bases, diz colombiano

Chanceler afirma que termos de acordo e Constituição já asseguram não intervenção

Em entrevista à Folha, Jaime Bermúdez diz que posição da Colômbia já foi devidamente esclarecida e é hora de tratar de outros acordos da região


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Em visita a Brasília para contatos no Itamaraty e no Ministério da Defesa, o chanceler da Colômbia, Jaime Bermúdez, 41, deixou claro, em entrevista à Folha, que o seu país não vai dar nenhuma garantia por escrito quanto ao uso de bases colombianas por tropas americanas. Para ele, o assunto está encerrado. "Nós expusemos nossa posição e nossos argumentos e simplesmente encerramos essa negociação", disse.

 

FOLHA - Seu governo justifica a ampliação do acordo Colômbia-EUA com a necessidade de combater a guerrilha e o narcotráfico. Mas as Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] já não estão fragilizadas?
JAIME BERMÚDEZ
- Não é assim. Avançamos muito, mas as Farc não estão aniquiladas, continuam sendo o principal cartel. Ainda é preciso cooperação internacional, porque o combate às Farc não beneficia só a Colômbia, mas também toda a região. Com os EUA, encontramos uma cooperação eficaz há muitos anos. Aliás, aprendemos muito na área militar, de inteligência, de polícia, de força pública e trabalhamos muito com outros países também.

FOLHA - Por que não dar as garantias que Brasil e outros países pedem à Colômbia, de que as bases não serão dos EUA e não serão usados para outros fins?
BERMÚDEZ
- Como dissemos várias vezes, o próprio acordo prevê respeito aos princípios fundamentais do direito internacional e da nossa Constituição, como soberania e não intervenção. Os EUA já manifestaram a mesma posição. As garantias já estão todas aí, e a Colômbia tem longa tradição de respeito.

FOLHA - E a invasão do território do Equador? Há chance de se repetir?
BERMÚDEZ
- Nenhuma. O presidente [Álvaro] Uribe foi categórico, e eu até estranho a sua pergunta. Quantas vezes é necessário repetir?

FOLHA - Se é assim, como a Colômbia avalia a crítica e a cobrança de outros países, inclusive do Brasil, à ampliação do acordo com os EUA?
BERMÚDEZ
- Nós expusemos nossa posição e nossos argumentos e simplesmente encerramos essa negociação. As discussões têm que ser mais amplas, mais completas. É muito importante que se discutam também a presença de grupos terroristas na região e a compra de armas de terceiros países.

FOLHA - Há estimativas extraoficiais de que a América do Sul tenha comprado mais de US$ 50 bilhões em armas só em 2008.
BERMÚDEZ
- A Colômbia fez um sacrifício enorme para sofisticar as forças públicas, mas sempre para combater o crime interno. Cremos que todas essas considerações sobre armamentismo e compras militares em outros países deveriam ser discutidas por toda a região.

FOLHA - Incluindo as compras de submarinos e aviões de caça do Brasil à França, que podem chegar a quase 12 bilhões?
BERMÚDEZ
- Se existe alguma consideração a fazer, que seja feita no Conselho de Defesa Sul-Americano. Esse é o foro para isso.

FOLHA - O que prever da reunião de chanceleres e ministros da Defesa em Quito, dia 15?
BERMÚDEZ
- É preciso avançar mais e melhor nos consensos mínimos de respaldo à democracia, às liberdades públicas, à independência das instituições, à liberdade de imprensa, a governos que sejam transparentes e tenham políticas sociais efetivas, independentemente de ideologias.

FOLHA - E essa sua vinda ao Brasil?
BERMÚDEZ
- Assinamos 13 acordos de cooperação com o Brasil no ano passado, em várias áreas. Em 18 meses, os dois presidentes já se reuniram seis vezes, e o presidente Uribe vai voltar ao Brasil em 18 e 19 de outubro. A agenda é ampla, e é preciso aumentar a balança comercial bilateral.

FOLHA - A mudança para permitir a Uribe disputar um terceiro mandato pode criar constrangimento internacional?
BERMÚDEZ - Tudo está sendo dentro das leis constitucionais colombianas e dos canais democráticos.


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