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Não haverá novas garantias sobre bases, diz colombiano
Chanceler afirma que termos de acordo e Constituição já asseguram não intervenção
Em entrevista à Folha, Jaime Bermúdez diz que posição da Colômbia já foi devidamente
esclarecida e é hora de tratar de outros acordos da região
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Em visita a Brasília para contatos no Itamaraty e no Ministério da Defesa, o chanceler da
Colômbia, Jaime Bermúdez,
41, deixou claro, em entrevista
à Folha, que o seu país não vai
dar nenhuma garantia por escrito quanto ao uso de bases
colombianas por tropas americanas. Para ele, o assunto está
encerrado.
"Nós expusemos nossa posição e nossos argumentos e simplesmente encerramos essa
negociação", disse.
FOLHA - Seu governo justifica a
ampliação do acordo Colômbia-EUA
com a necessidade de combater a
guerrilha e o narcotráfico. Mas as
Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] já não estão fragilizadas?
JAIME BERMÚDEZ - Não é assim.
Avançamos muito, mas as Farc
não estão aniquiladas, continuam sendo o principal cartel.
Ainda é preciso cooperação internacional, porque o combate
às Farc não beneficia só a Colômbia, mas também toda a região. Com os EUA, encontramos uma cooperação eficaz há
muitos anos. Aliás, aprendemos muito na área militar, de
inteligência, de polícia, de força
pública e trabalhamos muito
com outros países também.
FOLHA - Por que não dar as garantias que Brasil e outros países pedem à Colômbia, de que as bases
não serão dos EUA e não serão usados para outros fins?
BERMÚDEZ - Como dissemos várias vezes, o próprio acordo
prevê respeito aos princípios
fundamentais do direito internacional e da nossa Constituição, como soberania e não intervenção. Os EUA já manifestaram a mesma posição. As garantias já estão todas aí, e a Colômbia tem longa tradição de
respeito.
FOLHA - E a invasão do território do
Equador? Há chance de se repetir?
BERMÚDEZ - Nenhuma. O presidente [Álvaro] Uribe foi categórico, e eu até estranho a sua
pergunta. Quantas vezes é necessário repetir?
FOLHA - Se é assim, como a Colômbia avalia a crítica e a cobrança de
outros países, inclusive do Brasil, à
ampliação do acordo com os EUA?
BERMÚDEZ - Nós expusemos
nossa posição e nossos argumentos e simplesmente encerramos essa negociação. As discussões têm que ser mais amplas, mais completas. É muito
importante que se discutam
também a presença de grupos
terroristas na região e a compra
de armas de terceiros países.
FOLHA - Há estimativas extraoficiais de que a América do Sul tenha
comprado mais de US$ 50 bilhões
em armas só em 2008.
BERMÚDEZ - A Colômbia fez um
sacrifício enorme para sofisticar as forças públicas, mas sempre para combater o crime interno. Cremos que todas essas
considerações sobre armamentismo e compras militares em
outros países deveriam ser discutidas por toda a região.
FOLHA - Incluindo as compras de
submarinos e aviões de caça do Brasil à França, que podem chegar a
quase 12 bilhões?
BERMÚDEZ - Se existe alguma
consideração a fazer, que seja
feita no Conselho de Defesa
Sul-Americano. Esse é o foro
para isso.
FOLHA - O que prever da reunião
de chanceleres e ministros da Defesa em Quito, dia 15?
BERMÚDEZ - É preciso avançar
mais e melhor nos consensos
mínimos de respaldo à democracia, às liberdades públicas, à
independência das instituições, à liberdade de imprensa, a
governos que sejam transparentes e tenham políticas sociais efetivas, independentemente de ideologias.
FOLHA - E essa sua vinda ao Brasil?
BERMÚDEZ - Assinamos 13 acordos de cooperação com o Brasil
no ano passado, em várias
áreas. Em 18 meses, os dois presidentes já se reuniram seis vezes, e o presidente Uribe vai
voltar ao Brasil em 18 e 19 de
outubro. A agenda é ampla, e é
preciso aumentar a balança comercial bilateral.
FOLHA - A mudança para permitir a
Uribe disputar um terceiro mandato
pode criar constrangimento internacional?
BERMÚDEZ - Tudo está sendo
dentro das leis constitucionais
colombianas e dos canais democráticos.
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