São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2000

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ORIENTE MÉDIO
Vence ultimato, ignorado por palestinos, e Barak diz que, a "pedidos", dará mais prazo para que a violência cesse
Israel dá "última chance" a palestinos

Reuters
Soldado israelense aponta arma através de um buraco numa barricada em Hebron, na Cisjordânia


PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

O governo de Israel informou ontem que "está inclinado" a dar mais tempo aos mediadores internacionais que estão tentando retomar o processo de paz e acabar com a escalada de violência entre palestinos e israelenses.
O comunicado do gabinete do premiê Ehud Barak foi emitido depois que expirou o ultimato de 48 horas dado à Autoridade Nacional Palestina para que interrompesse a escalada de violência.
"À luz de muitos pedidos de líderes mundiais, o governo se inclina a dar mais dias (aos palestinos) com o objetivo de esgotar as possibilidades de encerrar a violência, com o sentimento de que esta é, de fato, a última chance", disse a nota.
O governo de Israel havia considerado que os palestinos não cumpriram o ultimato de 48 horas dado para que interrompessem a escalada da violência na região.
Com o fim do prazo, o governo israelense se reuniu em caráter de emergência. Antes do encontro (que não havia terminado até o fechamento desta edição), Ehud Barak havia afirmado que a direção palestina não estava "madura o suficiente para chegar à paz". Segundo ele, isso "obrigaria Israel a tomar medidas", cujo conteúdo não especificou -as Forças Armadas israelenses descartaram ações militares.
Dayed Abdu Rahman, secretário-geral da Presidência da ANP, disse que "o ultimato não fazia sentido, pois foi Israel que provocou a violência". Para ele, "Barak não consegue nem controlar a situação dentro de Israel, como pode exigir que a ANP controle as manifestações nos territórios ocupados?".
Barak já havia ameaçado abandonar o processo de paz caso a violência nos territórios palestinos continuasse. Em comunicado emitido durante sua reunião ministerial, porém, o premiê afirmou que não descartava a possibilidade de um encontro com o presidente da ANP, Iasser Arafat.
Essa reunião foi proposta pelo presidente norte-americano, Bill Clinton, com mediação do Egito e dos EUA, mas a própria Casa Branca admitiu que as condições para a realização da cúpula ainda não haviam sido atingidas.

Mais mortes
Clinton, que passou a maior parte do dia em Chappaqua, nos arredores de Nova York -onde se situa sua residência particular-, era esperado em Washington no final da noite de ontem para discutir com seus assessores medidas que possam impedir que o processo de paz entre israelenses e palestinos seja definitivamente abandonado.
"Passamos o domingo e boa parte de hoje (ontem) ao telefone, buscando pôr fim à dinâmica de violência. É preciso recolocar o processo de paz nos trilhos. Há várias possibilidades sendo estudadas. Por enquanto nenhuma decisão final foi tomada", declarou Madeleine Albright, secretária de Estado dos EUA.
Albright acrescentou que "contatos diplomáticos" continuariam a ser feitos. Ela disse que chanceleres de vários países e o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Kofi Annan, que chegou ontem a Israel, seriam contatados por Washington.
A polícia palestina e os soldados israelenses tentaram manter seus esforços para conter a violência na maior parte das áreas de conflito, porém mais mortes foram registradas por causa de enfrentamentos ocorridos durante a madrugada e a manhã de ontem.
Dois palestinos foram encontrados mortos na Cisjordânia, e um árabe israelense morreu depois de entrar em conflito com judeus.
Segundo a agência de notícias "Reuters", o número de mortos em razão da violência dos últimos 12 dias chega a 89. Mas, segundo Arafat, já há 117 mortos.


Com agências internacionais


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