São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2000

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Presidente garante a FHC governabilidade

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HAIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou, anteontem à noite, para seu colega argentino, Fernando de la Rúa, para certificar-se de que o país vizinho mantém "boas condições de governabilidade", mesmo depois da renúncia do vice-presidente Carlos "Chacho" Alvarez, ocorrida na sexta-feira passada.
Foi o que o próprio FHC relatou ontem aos jornalistas brasileiros que cobrem sua visita oficial à Holanda.
O presidente afirmou ter ouvido de De la Rúa, "com toda a ênfase", que as condições de governabilidade na Argentina estão asseguradas, o que FHC considera importante não somente para o Brasil, mas para toda a América do Sul.

Coalizão mantida
De la Rúa disse também que sentia muito a renúncia de "Chacho", "uma pessoa que ele prezava muito", segundo o relato de FHC.
Mas assegurou a seu colega brasileiro que seria mantida a coalizão entre a União Cívica Radical, partido de De la Rúa, e a Frepaso (Frente País Solidário), o grupo de "Chacho".
Na avaliação feita pelo presidente brasileiro, "depois de um fato tão forte como a saída do vice-presidente, certamente haverá uma acomodação das forças políticas".
Mesmo depois de dizer que não queria entrar em detalhes sobre a crise que afetou inicialmente o Senado argentino e que agora se transferiu também para o Executivo, FHC afirmou que "eles vão ter de passar um pouco a limpo a situação".

Solidariedade
O telefonema de FHC a De la Rúa, conforme a Folha apurou, foi inspirado pelo Itamaraty. Serviu, como o próprio presidente disse aos jornalistas, para manifestar solidariedade.
"Achei que era meu dever, como presidente do Brasil e amigo da Argentina", afirmou FHC.
A análise da diplomacia brasileira é a de que é preciso dar todo o suporte ao presidente argentino, mesmo quando ele parece apostar nos homens que são suspeitos da suposta operação de suborno de parlamentares para a aprovação da reforma da lei trabalhista no Senado.
Há o reconhecimento, no Itamaraty, de que "Chacho" Alvarez é mais popular e carismático que De la Rúa, mas prevalece o fato de que o aliado do Brasil é o presidente, não o vice, agora ex-vice.
De todo modo, o telefonema do presidente brasileiro não foi apenas uma expressão de solidariedade, mas também uma adaptação à realidade colhida nos encontros na Alemanha e na Holanda tanto pelo presidente como pelo pessoal do Itamaraty que o acompanha.

Estabilização
Os primeiros-ministros da Alemanha, Gerhard Schroeder, e da Holanda, Wim Kok, disseram que gostariam de ver o Brasil desempenhando um papel estabilizador na América do Sul.
Mais ainda em um momento em que há dúvidas sobre a estabilidade institucional do Peru e da Colômbia, esta cronicamente instável.
A sacudida pela qual passa a Argentina só piora as coisas e torna o papel do Brasil ainda mais relevante, como elemento de estabilidade, além do fato óbvio de ser o maior e mais rico país da América do Sul.
Como a Argentina já enfrenta problemas econômicos, na forma de uma letargia persistente, com o consequente mau humor de uma fatia importante da sociedade, a preocupação do governo brasileiro é a de evitar que a turbulência política complique ainda mais as coisas.
Como disse FHC, "para nós brasileiros e para todos nós da América do Sul, é importante que a Argentina não passe por nenhum problema político".
O presidente falou aos jornalistas quando deixava a Corte Internacional de Justiça de Haia, ainda sem saber que tinha havido ontem nova renúncia no Senado argentino.


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