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Presidente garante a FHC governabilidade
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HAIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou, anteontem à noite, para seu colega argentino, Fernando de la Rúa, para
certificar-se de que o país vizinho
mantém "boas condições de governabilidade", mesmo depois da
renúncia do vice-presidente Carlos "Chacho" Alvarez, ocorrida na
sexta-feira passada.
Foi o que o próprio FHC relatou
ontem aos jornalistas brasileiros
que cobrem sua visita oficial à
Holanda.
O presidente afirmou ter ouvido
de De la Rúa, "com toda a ênfase",
que as condições de governabilidade na Argentina estão asseguradas, o que FHC considera importante não somente para o Brasil, mas para toda a América do
Sul.
Coalizão mantida
De la Rúa disse também que
sentia muito a renúncia de "Chacho", "uma pessoa que ele prezava muito", segundo o relato de
FHC.
Mas assegurou a seu colega brasileiro que seria mantida a coalizão entre a União Cívica Radical,
partido de De la Rúa, e a Frepaso
(Frente País Solidário), o grupo
de "Chacho".
Na avaliação feita pelo presidente brasileiro, "depois de um
fato tão forte como a saída do vice-presidente, certamente haverá
uma acomodação das forças políticas".
Mesmo depois de dizer que não
queria entrar em detalhes sobre a
crise que afetou inicialmente o Senado argentino e que agora se
transferiu também para o Executivo, FHC afirmou que "eles vão
ter de passar um pouco a limpo a
situação".
Solidariedade
O telefonema de FHC a De la
Rúa, conforme a Folha apurou,
foi inspirado pelo Itamaraty. Serviu, como o próprio presidente
disse aos jornalistas, para manifestar solidariedade.
"Achei que era meu dever, como presidente do Brasil e amigo
da Argentina", afirmou FHC.
A análise da diplomacia brasileira é a de que é preciso dar todo
o suporte ao presidente argentino, mesmo quando ele parece
apostar nos homens que são suspeitos da suposta operação de suborno de parlamentares para a
aprovação da reforma da lei trabalhista no Senado.
Há o reconhecimento, no Itamaraty, de que "Chacho" Alvarez
é mais popular e carismático que
De la Rúa, mas prevalece o fato de
que o aliado do Brasil é o presidente, não o vice, agora ex-vice.
De todo modo, o telefonema do
presidente brasileiro não foi apenas uma expressão de solidariedade, mas também uma adaptação à realidade colhida nos encontros na Alemanha e na Holanda tanto pelo presidente como pelo pessoal do Itamaraty que o
acompanha.
Estabilização
Os primeiros-ministros da Alemanha, Gerhard Schroeder, e da
Holanda, Wim Kok, disseram que
gostariam de ver o Brasil desempenhando um papel estabilizador
na América do Sul.
Mais ainda em um momento
em que há dúvidas sobre a estabilidade institucional do Peru e da
Colômbia, esta cronicamente instável.
A sacudida pela qual passa a Argentina só piora as coisas e torna o
papel do Brasil ainda mais relevante, como elemento de estabilidade, além do fato óbvio de ser o
maior e mais rico país da América
do Sul.
Como a Argentina já enfrenta
problemas econômicos, na forma
de uma letargia persistente, com o
consequente mau humor de uma
fatia importante da sociedade, a
preocupação do governo brasileiro é a de evitar que a turbulência
política complique ainda mais as
coisas.
Como disse FHC, "para nós
brasileiros e para todos nós da
América do Sul, é importante que
a Argentina não passe por nenhum problema político".
O presidente falou aos jornalistas quando deixava a Corte Internacional de Justiça de Haia, ainda
sem saber que tinha havido ontem nova renúncia no Senado argentino.
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