São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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ÁSIA

15 candidatos alegam fraude na votação e dizem que não reconhecem resultado; ONU não viu motivos para suspender pleito

Rivais de Karzai boicotam eleições afegãs

DA REDAÇÃO

A primeira eleição presidencial direta da história do Afeganistão terminou em confusão. Horas depois de iniciado o pleito, ontem, todos os 15 adversários de Hamid Karzai, atual presidente e candidato à reeleição, anunciaram que boicotariam a eleição e não reconheceriam seus resultados. Eles afirmam que houve fraude.
As autoridades que organizam as eleições, porém, criticaram o boicote e se recusaram a interromper o pleito. "Paralisar a votação neste momento não se justifica e significaria negar a esses indivíduos o direito de votar", disse Ray Kennedy, vice-diretor da missão conjunta da ONU e do governo afegão.
Karzai, favorito para conquistar a reeleição, reagiu ao boicote. "Apenas porque 15 pessoas disseram não, nós não podemos negar os votos de milhões", disse em entrevista coletiva após seus rivais anunciarem o boicote.
O boicote foi um balde de água fria no que tinha sido, até aquele momento, um dia de votação tranqüilo. Milhões de afegãos compareceram aos locais de votação, apesar das ameaças de violência feitas pelo Taleban, o grupo radical islâmico que dominava o país até que foi deposto pelos americanos em 2001, como reação ao 11 de Setembro.
Os candidatos de oposição tomaram a decisão de boicotar o pleito em reunião na casa de um deles, o uzbeque Abdul Satar Sirat. Eles justificaram a sua atitude alegando problemas com a forma pela qual as autoridades eleitorais se certificavam de que cada eleitor só votaria uma única vez.
De fato, autoridades verificaram que, em alguns locais de votação, a tinta usada para marcar os dedos dos eleitores depois que votavam era facilmente lavável. Isso, em tese, poderia facilitar que um mesmo indivíduo votasse mais de uma vez.
Mas as mesmas pessoas responsáveis pela organização da eleição disseram que o problema foi rapidamente identificado e sanado. Na verdade, argumentam, alguns funcionários utilizavam uma caneta comum para identificar o eleitor que votou, em vez da que continha tinta especial, indelével por várias horas.
Ainda assim, Sirat -um candidato "nanico", de acordo com pesquisas- manteve o boicote: "A eleição de hoje não é legítima. Deveria ter sido interrompida e nós não reconhecemos os resultados. Essa votação é uma fraude", disse, em seu nome e no dos outros 14 oposicionistas.
Ray Kennedy, da missão ONU-Afeganistão, disse que pode demorar até que as autoridades eleitorais cheguem a uma decisão sobre a legitimidade do pleito. Manoel de Almeida e Silva, o brasileiro que é o diretor de comunicação da Missão de Assistência da ONU no Afeganistão, disse que os problemas levantados pelos 15 candidatos não eram generalizados.
Observadores internacionais que acompanharam o processo preferiram não fazer comentários sobre o protesto dos oposicionistas ontem. Os primeiros resultados da eleição só devem começar a ser conhecidos hoje ou amanhã.
Comentando as eleições, o presidente dos EUA, George W. Bush, comemorou: "Pense numa sociedade na qual as garotas não podiam ir à escola e suas mães eram chicoteadas em praça pública. Hoje todas estão participando de uma eleição presidencial."


Com agências internacionais

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