São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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Mulheres desafiam tradições para votar

DA ASSOCIATED PRESS

Enquanto Bibi Gul votava na eleição presidencial de ontem, ela se recordava de que perdeu seu marido para a guerra, de que criou cinco filhos sob o regime do Taleban e de que recebeu ameaças de ter a mão cortada se ousasse depositar seu voto na urna.
"Eu tenho tantos problemas que, às vezes, minha mente não funciona direito", disse a mulher de 45 anos numa multidão de burcas azuis e verdes em um posto de votação exclusivo para mulheres em Kandahar, antigo bastião do Taleban.
"Se Karzai se tornar presidente, nós talvez consigamos um pouco de terra e talvez possamos ir a Meca. Nós precisamos do Islã, que é paz", acrescentou.
Mais de 4 milhões de mulheres se registraram para a eleição de ontem, ou seja, 41% do total de 10,5 milhões de pessoas que se inscreveram para votar no país de 25 milhões.
Apesar das denúncias de fraude de candidatos de oposição, as mulheres afegãs esperam que estas eleições marquem o início do sufrágio feminino num país detentor de uma tradição islâmica bastante conservadora.
Os números de eleitoras registradas foram surpreendentes e sugerem que as mulheres afegãs estão determinadas a conquistar direitos. Apesar disso, principalmente no sul dominado pela etnia pashtun, muitos acreditam que mulheres só devem sair de casa em caso de emergência médica.
As mulheres se registraram em maior proporção nos centros urbanos, como a relativamente cosmopolita capital Cabul, e no norte e no centro do país, onde os grupos étnicos dominantes têm uma visão um pouco menos radical do patriarcado.
Num posto de votação em Cabul, Gul Sum, 60, da etnia hazara, disse que o pleito pode ajudar a recompor o país depois de mais de duas décadas de violência e de profundas divisões étnicas. "Na fila comigo havia mulheres de diferentes grupos: pashtun, tadjiques, uzbeques e hazaras. Pela primeira vez, mulheres estão podendo dizer algo sobre o futuro do Afeganistão. Estamos cansadas da guerra".

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