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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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JAPÃO

Partido do premiê perde maioria e agora depende da coalizão; principal legenda de oposição obtém ganhos expressivos

Koizumi ganha eleição, mas perde força

DA REUTERS

No que representa um duro golpe para o primeiro-ministro Junichiro Koizumi e sua agenda de reformas, a coalizão de governo do Japão saiu das eleições legislativas de ontem com uma maioria reduzida, enquanto o principal partido de oposição obteve ganhos substanciais.
A coalizão de três partidos ficou com 275 das 480 cadeiras da Câmara Baixa da Dieta (Parlamento), mas a agremiação de Koizumi, o Partido Liberal-Democrático (PLD), perdeu a maioria simples que detinha sozinho. O PLD angariou apenas 237 cadeiras, contra 247 da legislatura anterior.
Muitos políticos no PLD são contrários às reformas de Koizumi, mas esperavam que a popularidade do premiê os ajudasse a obter uma vitória decisiva nas primeiras eleições legislativas gerais desde que o premiê assumiu o cargo, em 2001. Koizumi deverá conservar o seu posto, uma vez que a coalizão manteve a maioria.
A principal legenda de oposição, o Partido Democrático do Japão (PDJ), que, normalmente, defende reformas semelhantes às propostas por Koizumi, ficou com 177 cadeiras, contra 137 na legislatura anterior.
O líder do PDJ, Naoto Kan, admitiu a derrota (isto é, que sua agremiação não conquistou assentos o bastante para formar um governo), mas disse que continuará trabalhando para chegar ao poder. "É apropriado considerar que a coalizão governante, que obteve maioria e possivelmente a maioria absoluta, ganhou o mandato público", disse Kan. "O público geral nos deu um considerável número de cadeiras", acrescentou. "Sendo o maior grupo de oposição, vamos trabalhar para construir um partido responsável e capaz de governar".
O fracasso do PLD, uma confederação de reformistas e conservadores, em manter sua própria maioria deve enfraquecer a posição de Koizumi diante dos anti-reformistas representados pela velha-guarda do partido.
Koizumi, 61, chegou ao poder em abril de 2001 numa onda de apoio público às suas promessas de cortar gastos, privatizar estatais e sanear o combalido setor bancário japonês. O premiê não conseguiu avançar muito nessa plataforma, pelo que recebe críticas de vários setores.
"É ruim que ele [Koizumi] não será capaz de pressionar muito [pelas reformas]", diz Gerald Curtis, especialista em Japão da Universidade Columbia (EUA). "Quanto às reformas, eu não sei o quão mais lentas elas podem ficar, mas elas certamente não vão se acelerar", acrescentou.
O forte crescimento do PDJ coloca o Japão mais perto do sistema bipartidário que muitos eleitores parecem preferir ao virtual regime de partido único que caracteriza a política japonesa dos últimos 50 anos. "Esse é um passo rumo a uma mudança no governo e um grande avanço em direção a um sistema bipartidário", diz Yasunori Sone, da Universidade Keio, de Tóquio.
Koizumi agora dependerá inteiramente de sua aliança com o segundo partido da coalizão, o Novo Komeito, de orientação budista, que passou de 31 para 34 cadeiras. O pequeno Partido Novo Conservador, a terceira legenda da coalizão, sofreu importante derrota, passando de nove para quatro cadeiras.
"O Japão está desenvolvendo um sistema muito parecido com o alemão, com dois grandes partidos e um menor (o Novo Komeito), diz Curtis.
O PLD, que governa o Japão quase ininterruptamente desde a década de 50, tem sua principal base de apoio em agricultores, proprietários de pequenos negócios e empreiteiras. Mas a base tradicional vem se erodindo, enquanto cresce o número de eleitores indecisos. O PLD esperava que a popularidade de Koizumi pudesse estancar seu declínio. Aparentemente, não foi assim.



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