São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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CONE SUL

País divulga identidade de quem considera ter sido o autor do ataque à Amia em 1994, que matou 85

Hizbollah atacou centro judaico, diz Argentina

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

Onze anos depois do maior atentado terrorista ocorrido na Argentina, a Justiça do país informou ontem que um integrante do grupo extremista islâmico Hizbollah dirigiu o carro-bomba contra o prédio da entidade mutualista judaica Amia, matando 85 pessoas em julho de 1994.
Trata-se de Ibrahim Hussein Berro, que teria 21 anos em 94 e era um militante do braço armado do partido libanês. Segundo autoridades argentinas, Berro entrou na Argentina pela Tríplice Fronteira (limites de Brasil, Paraguai e Argentina) dias antes do ataque em Buenos Aires.
É a primeira vez que se revela a identidade do autor do atentado. A Justiça disse ter chegado ao nome de Berro por depoimentos de dois de seus irmãos, que moram nos EUA, e de uma testemunha.
Segundo os parentes do libanês, o Hizbollah informou a morte de Berro em setembro de 1994 em um combate no Líbano, meses após a ação da Amia. O funeral foi feito em território libanês, sem o corpo de Berro e com a presença de altas autoridades do Hizbollah, segundo relato da família aos investigadores. Os parentes teriam recebido do grupo islâmico uma espécie de "pensão", em dólares, pela morte do terrorista.
Segundo os investigadores, Berro foi trazido do Líbano a Ciudad del Este, no Paraguai, com a ajuda do comerciante libanês Assad Barakat, que hoje estaria preso no Brasil por contrabando. Na Argentina, teria tido o apoio de um embaixador iraniano para ação.
Participam da investigação a polícia argentina, a Interpol e o FBI, e a expectativa é a de que, com a divulgação do nome e da foto do acusado, se chegue a mais envolvidos no caso, entre eles terroristas sírios e iranianos. Antes da revelação, outras informações apontavam para o Irã e células do Hizbollah na Tríplice Fronteira.
Ninguém está preso pela ação contra a Amia e integrantes do governo argentino à época do atentado, incluindo o presidente Carlos Menem (1989-1999), foram acusados de omissão nas investigações e até de conivência com implicados no episódio. Neste ano, o governo Néstor Kirchner reconheceu que houve "inação" do Estado no caso.
No ano passado, 22 suspeitos, entre eles um mecânico acusado de preparar a van que foi usada para explodir o edifício, foram absolvidos por falta de provas. Antes do julgamento, várias provas desapareceram, e o juiz Juan José Galeano, o primeiro a conduzir as investigações até 2002, foi afastado por ter usado US$ 400 mil de um fundo do Estado para "comprar" a confissão do mecânico. Também foi absolvido o ex-presidente Menem da acusação de ter recebido dinheiro do Irã para não apontar o país como responsável.
Ontem, Kirchner recebeu em audiência o presidente do Congresso Judeu Americano, David Harris, parentes das vítimas dos ataque à Amia e à Embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992.


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