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EUROPA
Ordem do ministro do Interior francês, visto como pivô dos distúrbios no país, vem no momento em que conflitos diminuem
Sarkozy quer estrangeiros rebeldes expulsos
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O ministro do Interior francês,
Nicolas Sarkozy, determinou ontem que todos os estrangeiros
condenados por participação nos
distúrbios sociais sejam expulsos
do país. Trata-se de mais uma medida com potencial para acirrar os
ânimos dos jovens rebelados, que
haviam diminuído o ritmo da violência após 13 noites de conflitos.
Segundo o governo, 122 estrangeiros já receberam condenação
por envolvimento com atos de
vandalismo e mesmo os que têm
visto de residência deverão ser deportados.
O anúncio de Sarkozy foi feito
um dia depois de a França ter decretado estado de emergência, liberando as cidades a adotarem
toque de recolher e ampliando os
poderes da polícia. Ele fez um
exaltado pronunciamento ao Parlamento. Parte do plenário o
aplaudiu efusivamente, e outra
desprezou a medida.
Além da oposição, entidades de
direitos humanos criticaram a decisão. Sarkozy, que instou os prefeitos e administradores regionais
a apontarem os estrangeiros condenados, é considerado pelos rebeldes o principal responsável pela eclosão da crise, por adotar
uma política linha-dura de combate ao crime nas periferias e por
ter chamados os revoltosos de
"escória". Os protagonistas da revolta que assola a França desde 27
de outubro são em sua maioria
descendentes de imigrantes africanos e árabes, para quem a confusão sobre identidade civil é extremamente sensível.
Todos os jovens envolvidos nos
conflitos ouvidos pela Folha nos
últimos três dias na periferia da
Grande Paris têm ódio de Sarkozy
e de sua política de "tolerância zero", considerada excludente e discriminatória.
Quase 2.000 pessoas já foram
presas desde que explodiu o conflito. Dessas, 273 continuam detidas, segundo o Ministério do Interior, entre as quais 56 menores.
Os números da violência, que já
mostravam uma trajetória de
queda nos últimos dias, diminuíram ainda mais na madrugada de
ontem, quando começou a vigorar o decreto permitindo o toque
de recolher. Foram queimados
617 veículos, contra 1.173 na noite
anterior, segundo a polícia. E distúrbios aconteceram em 116 cidades -haviam sido 226 na madrugada da terça.
Os subúrbios da região metropolitana da capital, área nevrálgica no início da crise, estão mais
calmos. Nenhum município da
região de Île de France adotou o
toque de recolher. Já cidades importantes do interior, onde muitos conflitos ainda têm sido registrados, resolveram fazê-lo. Entre
elas estão Nice, Cannes, Orléans,
Le Havre e Amiens et Rouen.
Na maioria dos casos, a medida
limita a circulação de menores de
18 anos entre 22h e 6h.
Criticado pelos rebeldes, o toque de recolher -que só foi possível graças a uma lei de 1955, época da Guerra da Argélia, que foi
ressuscitada pelo governo- teve
grande acolhida entre os franceses. Uma pesquisa do instituto
CSA publicada ontem pelo diário
"Le Parisien" mostrou que 73%
da população é favorável à medida, e 24% se disseram contrários.
Como já ocorrera anteontem,
países vizinhos da França registraram distúrbios.
Estilos diferentes
Enquanto Sarzozy permanece
em rota de colisão com os rebeldes, o premiê Dominique de Villepin, seu principal adversário
político, segue a direção contrária. Depois de anunciar anteontem um plano educacional para
amenizar os problemas sociais
das "banlieues" (periferias), ontem ele se reuniu com mães de jovens dos subúrbios mais carentes
para debater a formação de uma
rede de articulação interbairros.
Segundo o jornal "Le Figaro",
em um e-mail interceptado pela
polícia, baderneiros combinavam
um encontro no sábado na avenida Champs-Elysées, um ponto
nobre e turístico de Paris, o que
teria causado um reforço no já rigoroso policiamento na área.
com agências internacionais
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