São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUROPA

Ordem do ministro do Interior francês, visto como pivô dos distúrbios no país, vem no momento em que conflitos diminuem

Sarkozy quer estrangeiros rebeldes expulsos

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O ministro do Interior francês, Nicolas Sarkozy, determinou ontem que todos os estrangeiros condenados por participação nos distúrbios sociais sejam expulsos do país. Trata-se de mais uma medida com potencial para acirrar os ânimos dos jovens rebelados, que haviam diminuído o ritmo da violência após 13 noites de conflitos.
Segundo o governo, 122 estrangeiros já receberam condenação por envolvimento com atos de vandalismo e mesmo os que têm visto de residência deverão ser deportados.
O anúncio de Sarkozy foi feito um dia depois de a França ter decretado estado de emergência, liberando as cidades a adotarem toque de recolher e ampliando os poderes da polícia. Ele fez um exaltado pronunciamento ao Parlamento. Parte do plenário o aplaudiu efusivamente, e outra desprezou a medida.
Além da oposição, entidades de direitos humanos criticaram a decisão. Sarkozy, que instou os prefeitos e administradores regionais a apontarem os estrangeiros condenados, é considerado pelos rebeldes o principal responsável pela eclosão da crise, por adotar uma política linha-dura de combate ao crime nas periferias e por ter chamados os revoltosos de "escória". Os protagonistas da revolta que assola a França desde 27 de outubro são em sua maioria descendentes de imigrantes africanos e árabes, para quem a confusão sobre identidade civil é extremamente sensível.
Todos os jovens envolvidos nos conflitos ouvidos pela Folha nos últimos três dias na periferia da Grande Paris têm ódio de Sarkozy e de sua política de "tolerância zero", considerada excludente e discriminatória.
Quase 2.000 pessoas já foram presas desde que explodiu o conflito. Dessas, 273 continuam detidas, segundo o Ministério do Interior, entre as quais 56 menores.
Os números da violência, que já mostravam uma trajetória de queda nos últimos dias, diminuíram ainda mais na madrugada de ontem, quando começou a vigorar o decreto permitindo o toque de recolher. Foram queimados 617 veículos, contra 1.173 na noite anterior, segundo a polícia. E distúrbios aconteceram em 116 cidades -haviam sido 226 na madrugada da terça.
Os subúrbios da região metropolitana da capital, área nevrálgica no início da crise, estão mais calmos. Nenhum município da região de Île de France adotou o toque de recolher. Já cidades importantes do interior, onde muitos conflitos ainda têm sido registrados, resolveram fazê-lo. Entre elas estão Nice, Cannes, Orléans, Le Havre e Amiens et Rouen.
Na maioria dos casos, a medida limita a circulação de menores de 18 anos entre 22h e 6h.
Criticado pelos rebeldes, o toque de recolher -que só foi possível graças a uma lei de 1955, época da Guerra da Argélia, que foi ressuscitada pelo governo- teve grande acolhida entre os franceses. Uma pesquisa do instituto CSA publicada ontem pelo diário "Le Parisien" mostrou que 73% da população é favorável à medida, e 24% se disseram contrários.
Como já ocorrera anteontem, países vizinhos da França registraram distúrbios.

Estilos diferentes
Enquanto Sarzozy permanece em rota de colisão com os rebeldes, o premiê Dominique de Villepin, seu principal adversário político, segue a direção contrária. Depois de anunciar anteontem um plano educacional para amenizar os problemas sociais das "banlieues" (periferias), ontem ele se reuniu com mães de jovens dos subúrbios mais carentes para debater a formação de uma rede de articulação interbairros.
Segundo o jornal "Le Figaro", em um e-mail interceptado pela polícia, baderneiros combinavam um encontro no sábado na avenida Champs-Elysées, um ponto nobre e turístico de Paris, o que teria causado um reforço no já rigoroso policiamento na área.


com agências internacionais

Texto Anterior: Online: Editor de Mundo participa de bate-papo sobre França
Próximo Texto: Morador acampa em prédio para defender cidade
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.