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Deputado chavista era um dos armados
Representante estadual alega que foi resgatar estudantes pró-governo cercados em faculdade e que "arrancou" arma de opositor
Versões para tiroteio em campus ainda divergem; professora diz que chavistas pediram reforço; policiais são feridos em protesto
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Armado com uma pistola, o
deputado chavista José Félix
Valera participou dos distúrbios ocorridos na Universidade
Central da Venezuela (UCV)
que deixaram nove estudantes
opositores feridos, quatro a bala, na última quarta-feira.
Horas depois, ele participou
do programa "Contragolpe", da
emissora estatal VTV, onde
culpou a oposição pela violência no campus.
Valera, que também é estudante da Faculdade de Estudos
Internacionais da UCV, aparece em vídeos e fotos segurando
uma pistola -não há imagens
em que ele dispara. Seu rosto
estava descoberto.
"Atuei como estudante e como mediador político para resgatar as pessoas seqüestradas
no edifício da Escola de Trabalho Social (ETS) da UCV", justificou Valera, em entrevista ao
jornal "Últimas Notícias".
Duas versões
Deputado estadual de Vargas, um pequeno Estado litorâneo na região de Caracas, Valera alega que arrancou a arma de
um suposto estudante que tentou agredi-lo e que levou três
pontos no braço. Na noite de
quarta-feira, Valera participou
ao vivo do programa televisivo,
onde se identificou apenas como estudante e culpou a oposição pelos disparos.
"Escutamos os tiros e as explosões e fomos para lá com a
intenção de mediar, de buscar
uma saída para que as pessoas
que estavam no edifício não se
desesperassem", disse. "A resposta que conseguimos foi terrível, foi a das armas, nos agrediram, nos bateram."
De acordo com a versão dos
estudantes chavistas, a violência no campus da UCV, a maior
e mais importante universidade do país, começou quando
universitários opositores começaram a atacar o prédio da
Escola de Trabalho Social, localizado na entrada principal do
campus e considerado o principal "território" chavista dentro
da instituição.
Na versão dos estudantes da
oposição, o ataque ao prédio
ocorreu depois que um aluno
foi baleado no campus ao voltar
de uma marcha liderada por
grêmios estudantis contra a reforma constitucional, que vai a
referendo no próximo dia 2 e
inclui a reeleição ilimitada para
presidente. O autor do disparo
teria se refugiado na ETS.
A estudante de sociologia
chavista Ivanova Luzoti, 23,
que ficou cercada durante três
horas dentro do prédio da ETS
na tarde de quarta, disse que
Valera ajudou a "resgatar" os
cerca de 30 estudantes presos
dentro do prédio.
"Eles tentaram pôr fogo no
prédio, nos jogaram bombas de
gás lacrimogêneo e se vestem
de camisa vermelha para disfarçar. O que ocorreu foi um ato
fascista", disse Luzoti à Folha,
diante do prédio da ETS, com
quase todos os vidros quebrados e coberto com faixas de
apoio a Chávez.
O campus principal da UCV
voltou a ter aulas ontem, com a
exceção da ETS, cujo prédio
permaneceu fechado.
Pela manhã, as diretoras da
escola, que também ficaram
dentro do prédio atacado pelos
estudantes da oposição, deram
uma entrevista coletiva para
dar a sua versão da violência.
A coordenadora acadêmica,
Yudi Chaudiary, disse que viu
pelo menos dois estudantes armados e que um deles pediu
por telefone a ajuda de motoqueiros durante a confusão.
Vários foram fotografados no
campus empunhando armas.
"Um estudante nosso agarrou o telefone e disse: "Mande
50 motorizados'", disse Chaudiary, que foi interrompida por
palavras de ordem de estudantes chavistas durante a coletiva. "Educação primeiro para filho de "obrero" (trabalhador),
depois para filho de burguês",
bradavam cerca de 20 estudantes, que ontem levaram fotos à
Procuradoria-Geral da República mostrando o ataque ao
prédio. A cerca de 50 metros da
ETS, estudantes oposicionistas
também entregavam provas da
violência chavista. "O que ocorreu na escola foi porque dispararam contra nós", disse um
aluno de oposição.
Policiais feridos
Na cidade de Mérida, quatro
policiais e um jovem de 17 anos
foram feridos a bala, no fim da
tarde de ontem, durante mais
um protesto estudantil contra a
reforma constitucional. Os policiais tentavam apartar um
confronto entre jovens pró e
contra Chávez quando um dos
manifestantes, não identificado, deu 12 tiros.
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