São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Chávez vê "fascismo" em protestos

Para venezuelano, EUA e imprensa estão usando a resistência à reforma da Carta para desestabilizar governo

"Não sou moedinha de ouro para agradar a todos", cantou presidente em resposta a protestos contra sua presença em cúpula

RODRIGO RÖTZSCH
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou ontem, durante a 17ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, em Santiago do Chile, que os Estados Unidos e os meios de comunicação estão usando a resistência à reforma da Constituição venezuelana como pretexto para conduzirem "uma investida fascista" contra seu governo.
"Nós na Venezuela estamos fazendo um esforço, e como nos agridem! Eles qualificam de espantosos os distúrbios, como fizeram com o golpe em 2002 [quando Chávez foi derrubado do poder, mas voltou]. É uma nova investida fascista apoiada pelos meios de comunicação. As classes ricas querem a sua coesão social, a deles, a da minoria, ao custo da dissolução da maioria", afirmou, em referência ao tema da cúpula, justamente "coesão social".
Chávez se disse mais de uma vez vítima da oposição fascista. Ao citar outras cúpulas ibero-americanas das quais participou, afirmou que José Maria Aznar, ex-primeiro-ministro espanhol, que hoje acusa Chávez de ser antidemocrático, é fascista. "O então presidente [de governo] da Espanha é um fascista a toda prova e agora fica viajando fazendo oposição a mim", disse ao atual premiê, José Luis Zapatero, presente à cúpula em Santiago.

Caso RCTV
O presidente venezuelano também voltou a defender a não-renovação da concessão da emissora RCTV. O episódio, em maio, gerou-lhe muita resistência interna e externa, além de uma crise com o Senado brasileiro, com reflexos negativos no processo de ingresso da Venezuela no Mercosul
"Muita gente acredita que fechei um canal, mas não, acabou a concessão. O que aconteceria nos EUA se a CNN e a Fox tivessem apoiado um golpe de Estado? Os donos do canal seriam eletrocutados. Não somos tão radicais, só esperamos que acabasse a concessão", disse.
O presidente saudou a presença de novos mandatários, afins a suas idéias, na cúpula, e lembrou que na primeira vez em que participou, há quase dez anos, o ditador cubano Fidel Castro lhe disse: "Parece que não sou mais o único diabo nessas reuniões".
Definiu-se como um "socialista revolucionário", mas fez uma ressalva: "Não vou pedir ao rei da Espanha que declare a monarquia socialista. Cada um tem seu sistema, mas precisamos nos unir de verdade. Independentemente das diferenças ideológicas, temos que nos integrar", afirmou.
O presidente venezuelano foi o último a chegar para a cúpula, na manhã de ontem, após um dia de suspense sobre a viagem. No aeroporto, respondeu com versos da canção mexicana "Monedita de Oro" a uma pergunta sobre protestos contra sua presença em Santiago: "Não sou moedinha de ouro para agradar a todos. Assim nasci e assim sou, se não gostam de mim, não importa", cantarolou. "Mas creio que alguns gostam", acrescentou.


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