São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Sarkozy enfrenta onda de greves

Universitários se unem a funcionários na rejeição a leis liberalizantes propostas pelo presidente

Associação Liberté Chérie, que apóia reformas, diz que grevistas querem manter privilégios; estudantes vêem privatização de ensino

Benoit Tessier
Advogados franceses enfrentam policiais durante protesto em Rennes contra reforma do Judiciário proposta por Sarkozy; setor público está em pé de guerra no país

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Menos de um mês após a greve dos transportes públicos que atingiu a França, movimentos sociais se mobilizam mais uma vez para impor uma série de paralisações na próxima semana.
Os estudantes franceses já começaram a bloquear universidades do país. Nesta sexta-feira, dez faculdades, segundo os cálculos do governo, e 15, segundo sindicatos estudantis, tiveram as aulas interrompidas. Em outras 30, do total de 84 estabelecimentos de ensino universitário na França, houve manifestações.
O foco da greve estudantil é o projeto de lei que concede autonomia às universidades, uma das promessas de campanha do presidente Nicolas Sarkozy. Valérie Pécresse, ministra do Ensino Superior, defende a legislação. Segundo a ministra, a autogestão das universidades não significa uma saída definitiva do Estado da educação superior, mas sim a possibilidade de investimentos privados.
No entanto, na avaliação das associações estudantis de oposição ao governo, a lei vai significar a imposição de uma cultura empresarial nas universidades e uma elevação dos custos de matrícula, por exemplo. Na última quinta-feira, pequenas passeatas foram realizadas em cidades francesas. Representações estudantis como a Unef e o Sud Étudiant prometem ampliar o movimento e engrossar o coro dos descontentes das greves do transporte, da energia e de outros setores do funcionalismo previstas para a próxima semana.
"Desde maio de 1968 existe na França uma tendência à convergência entre movimentos estudantis e de trabalhadores. Hoje há um número crescente de estudantes que trabalham. Logo é cada vez mais normal que haja esse forte elo de solidariedade e de preocupação com o mundo do trabalho", afirma Stathis Kouvelakis, professor do King's College, em Londres, e especialista na história dos movimentos sociais na França.
Ainda segundo Kouvelakis, esses movimentos sociais expressam sentimentos que estão há muito tempo presentes na sociedade francesa. Ou seja, um sentimento de rejeição a políticas neoliberais. Sarkozy, com a sua agenda de reformas aceleradas, encarna, para os opositores, esse neoliberalismo.
A resposta aparece sob a forma de greves. A partir da noite do dia 13, os funcionários da RATP (metrô) e da SNCF (trens urbanos, interestaduais e internacionais) planejam uma paralisação de pelo menos 24 horas. Essas categorias são contrárias ao projeto de reforma do regime especial de aposentadoria, que beneficia 1,6 milhão de trabalhadores franceses. Um dos pontos dessa reforma é o aumento do tempo de contribuição.
Os regimes especiais contemplam categorias diversas, como ferroviários e empregados das companhias de eletricidade e de gás. Aos empregados dos transportes, junta-se um mosaico de trabalhadores que também promete se engajar na onda de greves: pilotos de helicópteros de hospitais, funcionários públicos da administração, membros do Judiciário e professores. Os sindicatos ligados às companhias EDF (eletricidade) e GDF (gás) devem se integrar aos movimentos grevistas a partir do dia 14.
"O bloqueio dos transportes, das universidades e dos serviços é uma violência contra a sociedade. Os privilégios dessa minoria são pagos pela população. Essa desigualdade é inaceitável", diz Vincent Poncet, vice-presidente da associação Liberté Chérie (liberdade querida). A associação, composta em sua maioria por jovens entre 24 e 29 anos, é favorável aos projetos de reforma de Sarkozy.

População cansada
Uma boa parte da população francesa parece estar cansada das greves. De acordo com sondagem do instituto Ifop, 77% dos franceses afirmam que é "urgente" a reforma do sistema de aposentadorias especiais. "É óbvio que Sarkozy tem uma legitimidade que Jacques Chirac [seu antecessor] não tinha. Sarkozy foi eleito com uma clara agenda neoliberal", ponderou o professor Kouvelakis.
Mas ele argumenta que, ao mesmo tempo, a sociedade francesa permanece bastante apegada às suas conquistas sociais. O ministro do trabalho, Xavier Bertrand, disse que o governo só negocia se não houver greves.


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