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Projeto flamengo agrava crise política na Bélgica
Proposta retira direitos linguísticos da população francófona na periferia da capital, Bruxelas; país está sem governo há 150 dias
LETÍCIA FONSECA-SOURANDER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE
BRUXELAS
Há cinco meses sem conseguir chegar a um acordo para
formar um novo governo nacional, a crise política que
ameaça dividir literalmente a
Bélgica se agravou nesta semana por causa da aprovação unilateral, pelos partidos flamengos, de um projeto de lei para
suprimir direitos linguísticos
da população francófona na periferia da capital, Bruxelas.
A proposta dos flamengos estabelece a separação do cantão
de Hal-Vilvorde do distrito
eleitoral bilingüe de Bruxelas-Hal-Vilvorde (BHV). A cisão
acabaria com o último reduto
de mistura político-cultural do
norte do país, já que o distrito
era o único onde se podia votar
em candidatos flamengos, que
falam neerlandês, e francófonos ao mesmo tempo.
Pelo projeto votado, os francófonos perderiam o direito de
votar junto com os habitantes
de Bruxelas, deixando a representação política do grupo em
desvantagem. Além disso, diante da Justiça, não poderiam
usar francês.
Quando os flamengos apresentaram a proposta, na última
quarta-feira, os deputados
francófonos abandonaram a
sessão em sinal de protesto.
Os flamengos, então, aprovaram unilateralmente a proposta. O voto rompeu pela primeira vez um pacto implícito, que
existe há 45 anos, entre as duas
comunidades nacionais.
"Para os francófonos, é como
se os flamengos pretendessem
fazer, de forma civilizada, uma
limpeza étnica, criando assim
uma Flandres pura lingüisticamente", escreve a revista "The
Economist".
Sem governo
Há mais de 150 dias o país está sem governo porque o democrata-cristão flamengo Yves
Leterme, que venceu as eleições legislativas em junho passado, não consegue formar um
governo de coalizão. E o projeto
dos flamengos para o distrito
de BHV só complica a situação.
Tradicionalmente, os governos belgas são formados por
uma coalizão de partidos de
Flandres, onde se fala neerlandês, e da Valônia francófona.
Para o cientista político Herman Matthijs, da Vrije Universiteit Brussel, as eleições em
2009 para os Parlamentos Federal e Regional serão decisivas
para o futuro do país.
A Corte Suprema afirmou
que o caso BHV terá que ser solucionado antes das próximas
eleições, e por isso elas não poderão ser antecipadas. Segundo
Matthijs, Bruxelas continua
sendo o maior problema. "Se
houver uma divisão, ninguém
sabe o que pode vir a acontecer
com a capital belga", pondera.
Apenas em 1989 Bruxelas, sede da União Européia e da
Otan, foi instituída como uma
das três regiões do país.
Autônoma, a região Bruxelas-Capital tem 1 milhão de habitantes. O francês é a língua
mais falada, mesmo por quem
não é belga. Apenas 15% dos
moradores falam neerlandês.
Os flamengos resistem ao
número cada vez maior de francófonos nesta região. "É o que
os flamengos chamam de mancha de óleo francófona que
morde o território de Flandres,
a partir de Bruxelas", explica o
analista político Vincent de
Coorebyter, do Centro de Pesquisas Sociopolíticas.
Neste final de semana, o rei
Alberto 2º deve pedir aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado para restaurar
a confiança entre as duas comunidades e buscar uma nova
base para o debate sobre as instituições políticas do país.
Está prevista para o próximo
dia 18 uma grande manifestação em favor da Bélgica unida
no centro de Bruxelas. Petição
contra a divisão do país já foi
assinada por 125 mil pessoas.
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