São Paulo, terça-feira, 10 de novembro de 2009

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Chávez mantém ofensiva verbal, e oposição vê "cortina de fumaça"

Caracas, que enfrenta crise energética e de água, diz que Bogotá é "imoral" ao falar de diálogo

DA REDAÇÃO

O governo Hugo Chávez manteve ontem a ofensiva verbal contra a Colômbia e classificou de "imoral" o comunicado em que o governo colombiano se disse aberto ao "diálogo franco" com a Venezuela.
Anteontem, Chávez exortou seu país a se "preparar para a guerra" com a Colômbia. O governo Álvaro Uribe respondeu dizendo que cogita levar o caso à ONU e à OEA (Organização dos Estados Americanos), mas ressalvou estar disposto ao diálogo bilateral.
Para Caracas, o chamado é hipócrita porque considera que o objetivo do recém-assinado acordo militar entre a Colômbia e os EUA é que Washington exerça "dominação estratégica" sobre a América do Sul.
Ontem cresceram as vozes na Venezuela que acusam Chávez de usar retórica bélica para criar cortina de fumaça para os problemas internos venezuelanos. O governo chavista atravessa um mau momento, com várias frentes de problemas ao mesmo tempo: 1) crise no abastecimento de água (está em curso drástico racionamento) e de energia; 2) crise econômica, com inflação acumulada anual por volta de 20%, e 3) crise de segurança em Caracas.
Segundo o respeitado instituto Datanálisis, a popularidade do venezuelano marcou 46,2% em outubro, ante 52% de setembro.

Papel do Brasil
Ontem, no Rio de Janeiro, o chanceler Celso Amorim afirmou que o Brasil está disposto a facilitar o diálogo entre Colômbia e a Venezuela, desde que solicitado. "Nosso espírito é sempre facilitar o diálogo, mas isso não depende só de nós", disse à agência Efe.
Na sexta, porém, a Colômbia divulgou ter pedido ajuda à Espanha para lidar com a tensão na fronteira com a Venezuela. Entre as opções para tratar o problema com Chávez, Bogotá não incluiu a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), foro preferido por Brasília.
"Vamos ver se surge uma oportunidade para que os dois possam estar juntos, quem sabe", continuou Amorim. No dia 26, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera reunir em Manaus os presidentes da região amazônica, que inclui Venezuela e Colômbia, para montar proposta conjunta a ser apresentada na Convenção do Clima, em Copenhague.
Ontem, o assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, recebeu em Brasília Frank Pearl, alto comissário para a Paz e Reintegração do governo da Colômbia.
O encontro ocorre dias após Garcia defender que Colômbia e Venezuela assinem um pacto de não agressão e formem uma comissão binacional para a fronteira -instância para a qual o Brasil poderia colaborar.
Questionado se a sugestão tinha sido tema da conversa, Pearl disse à Folha que a reunião "se concentrou" na cooperação bilateral sobre programas de reintegração. Ele afirmou que não estava autorizado a falar sobre a tensão com Caracas ou sobre o acordo militar com os EUA.


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