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"Receber Ahmadinejad é um erro terrível"
Avaliação, nas vésperas de visita de iraniano a Lula, é do presidente da bancada de congressistas dos EUA com interesses no Brasil
Para Eliot Engel, encontro com presidente brasileiro pode ser usado como forma de líder que nega Holocausto
mostrar que foi legitimado
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Amanhã, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva recebe o
presidente israelense, Shimon
Peres. Doze dias depois, é a vez
de o líder que disse que quer
varrer Israel do mapa e nega a
existência do Holocausto visitar o país. O encontro entre o
brasileiro e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad é um "erro
terrível".
Quem diz isso é o democrata
Eliot Engel, de Nova York, presidente da subcomissão do Hemisfério Ocidental da Câmara
dos Representantes (deputados federais) e líder do Brazil
Caucus, a bancada de congressistas americanos que têm interesses no Brasil. Judeu, Engel
tem na comunidade judaica do
Bronx seu principal eleitorado.
Leia a seguir entrevista exclusiva que ele deu à Folha.
FOLHA - Recentemente, durante
audiência no Congresso sobre o aumento da presença do Irã na América Latina, o sr. se disse "desconcertado" e "preocupado" com a visita de
Ahmadinejad ao Brasil. Por quê?
ELIOT ENGEL - Está muito claro
que Ahmadinejad é um tirano,
que roubou uma eleição. Dissidentes e manifestantes no Irã
têm sido presos e espancados.
Uma coisa são certos líderes
da América Latina como Hugo
Chávez, que estão fazendo coisas para minar a democracia
em seus próprios países, se encontrarem com alguém como
ele. Mas é muito diferente o
presidente do país mais importante da América do Sul, eleito
democraticamente, encontrar
Ahmadinejad.
É um erro terrível do presidente Lula dar legitimidade ao
iraniano e é isso que está fazendo ao permitir que ele vá ao
Brasil. Ahmadinejad usará isso
como propaganda para tentar
mostrar que foi legitimado.
O encontro também acontece num momento em que o Irã
está tendo discussões delicadas
com o resto do mundo sobre
suas capacidades nucleares.
Nós sabemos que o país vem
mentindo sobre o propósito
real do enriquecimento de urânio. Eles vinham escondendo
várias instalações nucleares,
acabamos de descobrir uma
nova em Qom, e isso mostra
que há más intenções.
Some isso ao fato de Ahmadinejad dizer que quer varrer Israel da face da Terra e negar o
Holocausto. E o de o governo
iraniano ter conexões com o
grupo que cometeu dois atentados a bomba em solo sul-americano, em Buenos Aires
[nos anos 90]. E o de a pessoa
que ele indicou para ministro
da Defesa ser procurada pelo
governo argentino devido a esses atentados.
FOLHA - O sr. disse no Congresso
que isso poderia prejudicar as chances do Brasil de conseguir um assento permamente no Conselho de Segurança da ONU. Qual a relação?
ENGEL - Veja, eu sou um amigo
do Brasil e apoio a busca do país
pelo assento permanente, daí
eu estar tão desapontado com o
fato de Lula dar legitimidade a
Ahmadinejad, um líder que é a
antítese de tudo no que todos
nós acreditamos em termos de
democracia e coexistência. É
uma situação terrível.
FOLHA - Ao mesmo tempo, em
reunião do G-20 em setembro, Barack Obama disse ao presidente Lula
que achava "positivo" que o Brasil
falasse com o Irã. O sr. discorda dele?
ENGEL - Sim. Mesmo se concordasse, uma coisa é engajar o Irã
em conversas em organismos
internacionais, outra é dar acolhida para Ahmadinejad em seu
país, todo o tratamento de chefe de Estado e conferir legitimidade a ele. Não discordo da necessidade de abrir diálogo com
o Irã, mas é muito diferente do
que Lula está fazendo.
Claro, um chefe de Estado
pode adotar a política que quiser e falar com quem quiser,
ninguém precisa de minha permissão ou da permissão de outros, mas uma coisa é falar, e
outra receber no país. Se fosse
só o primeiro caso, eu não teria
crítica nenhuma a fazer ao presidente Lula. O presidente
Obama nunca receberia Ahmadinejad nos EUA. Ele pode vir a
falar com o governo iraniano
em termos de negociação, mas
é só. Recebê-lo é errado.
FOLHA - Na mesma audiência, o sr.
disse ter evidência de que o Hizbollah [grupo xiita libanês que tem laços com o Irã] está presente na região da Tríplice Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai).
ENGEL - Sim, há muita evidência disso, na audiência ouvimos
como o Irã está tentando colocar os pés na América do Sul,
abrindo mais embaixadas do
que nunca na região, temos relatos de voos do Irã para a Venezuela, com passageiros que,
segundo ouvimos, não são checados propriamente e têm vistos questionáveis.
Quando se tem o histórico
iraniano de financiamento e
cumplicidade em atos terroristas que já aconteceram em solo
sul-americano, é um alerta, está claro que o Irã não tem boas
intenções em relação a esses
contatos. Especificamente
quando ouvimos sobre os contatos com o governo venezuelano, é muito perturbador, porque o mundo civilizado não deveria tornar mais fácil para o
Irã construir sua bomba.
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