São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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Mercado pressiona Berlusconi a sair logo

Italiano faz mistério, e juros de títulos disparam; Merkel e Sarkozy sugerem mudar euro, contribuindo para pânico

Bolsas caem com a especulação de que países terão de deixar moeda única; francês fala em '2 velocidades'


Antonio Calanni/Associated Press
Homem observa cotações em Milão

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

O que estava ruim ficou pior. As incertezas provocadas pela anunciada renúncia do premiê Silvio Berlusconi fizeram investidores exigirem juros ainda maiores para os títulos da Itália.
Nos papéis de dez anos, chegaram a 7,48% ao ano. É o recorde desde 1999, antes de o país adotar o euro. Foi perto deste patamar que Irlanda e Portugal recorreram a empréstimos do FMI e da UE (União Europeia) para honrar pagamentos. O problema é que a Itália (terceira economia da zona do euro) é "grande demais para ser resgatada", na expressão de analistas. Sua dívida, de € 1,9 trilhão, é 2,8 vezes as dívidas da Irlanda, Portugal e Grécia juntas.
O risco-Itália provocou mais um dia de pânico nos mercados e entre políticos. Bolsas caíram na Europa (Milão, 3,78%; Frankfurt, 2,21%; Londres, 1,92%). Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em baixa de 3,2%, e a Bovespa perdeu 2,5%.
O agravamento da crise reacendeu a discussão sobre mudanças na zona do euro. A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou, sem dar detalhes, que talvez sejam necessárias alterações em tratados da UE. "Uma comunidade que diz que, não importa o que aconteça, não pode mudar suas regras não pode sobreviver."
Anteontem, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, já tinha dito que "haverá uma Europa de duas velocidades: uma que se move rumo a mais integração e outra rumo a uma confederação", disse.
As mudanças podem significar exclusão de países do euro ou menos autonomia para administrar as economias. Autoridades não identificadas, ouvidas pela Reuters, disseram que está em estudo por alemães e franceses a criação de uma nova zona do euro com menos países -não houve confirmação oficial.

PARALISIA
O mercado queria a renúncia de Berlusconi, mas, quando ele condicionou sua saída à aprovação de novo pacote de austeridade, deixou no ar a incerteza sobre quando ela será efetivada.
Giorgio Napolitano, presidente italiano, tentou acalmar os céticos ao dizer que a renúncia é para valer. A expectativa é que a votação do pacote aconteça até esse fim de semana, mas não está claro se Berlusconi sairia imediatamente. Há também a possibilidade de que sejam convocadas eleições antecipadas para o começo do próximo ano. Até lá, o país poderia ficar parado, sem implantar as medidas necessárias para a redução da dívida e do déficit.
Berlusconi anunciou que não irá concorrer e apontou Angelino Alfano, 41, como seu possível sucessor. Ele foi ministro da Justiça e hoje é secretário do Povo da Liberdade, partido de Berlusconi.


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