São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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ANÁLISE

Incapacidade da classe política italiana levou economia do país a perder força

CARLO PATTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Estamos diante de um precipício." Essas foram as palavras de Emma Marcegaglia, presidente da Confederação Italiana dos Industriais, para descrever a atual situação econômica italiana.
"Não obstante as decisões tomadas pelo governo e pelo presidente do Conselho, Silvio Berlusconi, nessas horas estamos vivendo um momento dramático. Não merecemos ter o mesmo destino da Grécia. Pedimos reformas há anos, mas nada foi feito." O fim da era Berlusconi marca o ápice de um longo declínio econômico.
O motivo principal reside na incapacidade da classe política italiana de fazer reformas. Apesar das inúmeras tentativas de reforma nos campos jurídico, econômico e social nos anos 90 e no começo dos anos 2000, produtividade, exportação, capacidade de inovação -os tradicionais pontos de força da economia italiana- estão em franco declínio.
Nos últimos 20 anos, faltaram estratégia e continuidade na gestão da economia que pudessem assegurar ao país um forte crescimento. A crise financeira que atingiu a Europa piorou a situação italiana.
O otimismo inicial do atual ministro da Economia, Giulio Tremonti, foi substituído por uma crescente preocupação ligada à forte dívida pública, à qual se associaram os recordes diários do retorno dos títulos. O banco central italiano, a União Europeia e as maiores instituições financeiras internacionais pediram urgentes reformas para reduzir a dívida do país, que poderia conduzir à bancarrota uma das maiores potências econômicas mundiais. Por Roma, como notou a revista britânica "The Economist", passa o destino do euro.
Ainda não é claro o conteúdo das medidas que serão adotadas pelo Parlamento com a lei de estabilidade econômica que vai ser aprovada nas próximas semanas.
Mario Deaglio, da Universidade de Turim, disse que qualquer pacote deverá incluir decisões altamente impopulares para um país com crescente taxa de desemprego, sobretudo entre as faixas mais jovens.
As graves medidas financeiras serão o último ato da era de Silvio Berlusconi, que dominou a cena política italiana desde 1994. A aprovação da lei marcará o fim da sua carreira política. Ele teve que pedir demissão ao presidente da República, Giorgio Napolitano. Agora, o establishment político italiano precisa conduzir o país para um futuro pós-Berlusconi. O recorde dos 7% é mais psicológico de que calcado em fundamentos econômicos. Os números divulgados pelo banco central italiano no últimos dias demonstram que a Itália conseguirá sustentar essa taxa por algum tempo.
No longo prazo, no entanto, o país precisará fazer as reformas políticas necessárias para a volta do crescimento da economia.

CARLO PATTI é pesquisador da Universidade de Florença e pesquisador visitante da Fundação Getúlio Vargas.


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