São Paulo, segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

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Coca e mortadela temperam sessão confusa

DA ENVIADA A ORURO

"Por favor, queiram fazer suas observações em papel e enviar à mesa", diziam os integrantes da mesa diretora da Assembléia Constituinte boliviana a cada parlamentar que sugeria mudanças em algum dos 411 artigos aprovados ontem.
Um dos que deveriam seguir a orientação era Cleto Pérez, da bancada evangélica da Constituinte. A poucas horas da votação final, ele insistia em modificar o artigo sobre casamento e direito reprodutivo. No caso do matrimônio, a nova Carta fala de "cônjuges" e não na união entre homem e mulher. "É uma porta aberta ao homossexualismo", reclamou, enquanto assessores jurídicos do governista MAS (Movimento ao Socialismo) comemoravam a ambigüidade do artigo.
"Somos quase 1 milhão de evangélicos. Se não houver mudança, a Carta vai perder esses votos no referendo", ameaçou Pérez. A Assembléia teve seu texto final aprovado sem que Pérez visse, em plenária, a redação final do trecho em questão. O mesmo aconteceu com o principal líder da oposição presente, Samuel Dória Medina, que fez observações a respeito de 20 artigos.
Os constituintes não devem se reunir mais até a próxima sexta-feira, prazo final da convocação da Assembléia. Uma comissão formada pela mesa diretora e líderes de bancada deve fazer a revisão completa do texto.
Na corrida contra o tempo, a resolução final da Assembléia foi votada antes que se resolvesse a discussão sobre a escolha de Sucre como capital. Irritada, a presidente Silvia Lazarte se desentendia com integrantes da mesa e esquecia de contar os poucos votos contrários ao artigo em questão.
A maratona de 16 horas de sessão teve poucos alívios. Sob o frio da noite em Oruro, sanduíches de mortadela e bolachas de água e sal foram os únicos alimentos servidos no Centro de Convenções, organizado às pressas para o evento. A folha e o chá de coca foram os preferidos para amenizar a longa madrugada. (FM)

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