São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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Funeral de jovem gera mais manifestações na Grécia

Ministro da Informação atribui dificuldade para conter a escalada de violência à "opção por não arriscar mais vidas de inocentes"

ANTHEE CARASSAVA
RACHEL DONADIO
DO "NEW YORK TIMES", EM ATENAS

Milhares de manifestantes marcharam pelo centro de Atenas ontem, enfrentando a tropa de choque enquanto gritavam lemas oposicionistas, durante o enterro do jovem morto pela polícia no sábado. O episódio deflagrou os piores protestos no país em anos.
A violência irrompeu depois do funeral de Alexandros Grigorópolus, 15. A cerimônia, de uma hora, transcorreu de maneira calma, mas depois, quando centenas de pessoas se encontraram na saída do cemitério, grupos de jovens recorreram à violência, lançando bombas de gasolina e pedras contra a tropa, que tentava conter a multidão. Os policiais reagiram com gás lacrimogêneo.
Os protestos, que refletem a profunda insatisfação popular por diversos problemas, devem continuar ao menos hoje -deve acontecer uma greve geral.
A tensão aumentou a pressão sobre o premiê Costas Karamanlis, cujo governo direitista tem maioria de só um voto no Legislativo e não conseguiu conter a raiva contagiou o país quando o adolescente foi abatido.
Questionado sobre os motivos para que a violência continuasse, o ministro da Informação, Panos Livadas, disse à rede britânica BBC: "A escolha que fizemos foi a de não colocar em risco mais sangue inocente".
Ontem, após uma manhã tranqüila, os manifestantes se reagruparam e marcharam na direção da sede do Legislativo, gritando lemas como "abaixo o governo de assassinos".
A multidão de milhares de estudantes, professores e operários foi recebida pela tropa de choque, armada de escudos, que estava de guarda diante do Parlamento. Houve algumas altercações entre jovens que lançaram pedras e a polícia, mas nada que se aproximasse do nível de violência da véspera.

Reação do Estado
Karamanlis alertou que responsáveis pelos tumultos não seriam tratados com leniência.
"Ninguém tem o direito de usar esse trágico incidente como álibi para ações de violência descontrolada, para ações contra pessoas inocentes, suas propriedades e a sociedade como um todo, e contra a democracia", disse ontem, após reunião de emergência com o presidente Carolos Papoulias.
O premiê conduziu reuniões consecutivas com membros do governo e líderes oposicionistas na busca por seu apoio às operações de segurança para conter a crise.
No quartel-general da polícia de Atenas, um porta-voz informou que 12 policiais haviam sido feridos em choques com os manifestantes em 10 pontos da capital grega, na noite de anteontem. Os confrontos resultaram na detenção de 87 manifestantes e de outras 176 pessoas, detidas e libertadas.
O prefeito Nikitas Kaklamanis aconselhou os atenienses a não irem de carro ao centro da cidade e pediu que guardassem o lixo em casa (os manifestantes atearam fogo a 160 grandes recipientes de lixo anteontem, no protesto organizado pelo Partido Comunista, que descambou para um dos piores incidentes recentes de violência).
Uma série de hotéis cinco estrelas foram saqueados e um guarda de um deles (o Plaza) relatou que os hóspedes foram retirados. Houve relato de um pequeno incêndio no saguão do Ministério do Exterior.
Os tumultos começaram no sábado, depois que o jovem morreu baleado em incidente que a polícia narrou como confronto com o crime organizado -antes de disparar, os policiais tiveram o carro apedrejado. O governo acusou um policial de homicídio doloso e uso ilegal de arma de fogo, e seu parceiro, de cumplicidade.
Políticos e autoridades de segurança estudam a possibilidade de uma operação policial em larga escala para deter radicais que propelem os protestos.


TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI


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