São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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Universidade Politécnica é bastião da "guerra civil" dos estudantes atenienses

ELISE VINCENT
DO "MONDE"

Sua cidadela não tem mirantes, mas salas de aula. Eles fizeram dela seu reduto. É a Universidade Politécnica de Atenas, com 13 mil alunos. A universidade se tornou a praça-forte daquilo que alguns já chamam de sua "guerra civil". "Eles" são estudantes, jovens ativos, rapazes e moças. Os lenços e capuzes que os protegem contra as bombas de gás lacrimogêneo envolvem tanto rostos barbados quanto brincos.
É toda uma geração, de fato: entre 15 e 35 anos. Toda uma sociedade, também: pessoas que trabalham em troca do salário mínimo, jovens assalariados, militantes de extrema esquerda e outros que não são engajados. São seus uniformes de amotinados -roupas escuras, tênis Converse- que ultrapassam as divisões.
O que eles têm em comum é o ódio aos "tiras, porcos, assassinos". Ao pé dos altos muros beges grafitados da universidade, atrás dos quais eles se refugiam entre dois ataques com paralelepípedos, não se fala outra língua. A instituição que lhes serve de campo de base tem um passado próprio para animar ressentimentos: foi de lá, em 1973, que partiu a revolta estudantil que precipitou a queda do regime dos coronéis, de 1967 a 1974. Hoje, a lei proíbe as forças da ordem de porem os pés na universidade.
Eles sonham em derrubar o governo de centro-direita de Costas Caramanlis. Vêem o governo como responsável pela corrupção e as desigualdades sociais. Responsável, também, por seus salários baixos, de 650 euros, que obrigam muitos a continuar vivendo com os pais até os 30 anos de idade.
No pátio da faculdade, a "guerra civil" é organizada metodicamente. Num canto, uma equipe fabrica coquetéis Molotov. Em outro, os proprietários de motos e mobiletes garantem a ronda dos bairros vizinhos. Outro canto é o dos pouco falantes koukoulofori (encapuzados), em suas roupas pretas.
No sétimo e último piso de um dos edifícios do fundo do pátio, a administração está presente, mas escondida. São uma dezena de pessoas que fazem turnos. "No início éramos mais, mas as pessoas estão começando a se cansar", explica o vice-presidente da universidade, Gerasimos Spathis.
O corpo docente e os diretores da universidade se opõem ao governo há tempos, e especialmente à política de "privatização" das faculdades. Assim, diante dos koukoulofori que arrancam lajotas dos terraços do prédio para atirá-las do sétimo andar onde ele encontrou refúgio, Spathis incentiva: "É um mal menor. Se não estivéssemos aqui, haveria mortos."


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