São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Sólida, economia chilena se volta ao Brasil

Embora seu PIB corresponda a 11,3% do brasileiro, investimento do Chile no Brasil é bem mais expressivo que o inverso

Nos últimos 20 anos, Chile investiu US$ 8 bi no Brasil, enquanto investimentos brasileiros no país andino somaram apenas US$ 2 bi


THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

Se o Chile que escolhe novo presidente no domingo dá sinal de cansaço com a política -expresso no desgaste da coalizão governista-, a economia mantém a fama de solidez e direciona cada vez mais investimentos ao Brasil.
Embora a economia brasileira corresponda a nove vezes a chilena, é o Chile quem investe mais no Brasil. Foram US$ 8 bilhões nos últimos 20 anos, ante US$ 2 bilhões de investimentos do Brasil no Chile.
Os alvos principais das empresas chilenas no Brasil são os setores de supermercados, energia elétrica, papel e celulose. Nesse último, a chilena CMPC investiu neste ano US$ 1,7 bilhão na compra da Melhoramentos Papéis e de uma fábrica da Aracruz.
A explicação dessa investida é simples: ainda muito centrada na exploração do cobre, com outros poucos setores competitivos (salmão, papel, vinho e metanol), a economia não tem muito mais para onde crescer. "O Chile procura novos setores de expansão para recuperar os níveis de crescimento dos anos 90", afirma Joaquim Penna, do setor econômico da Embaixada do Brasil em Santiago.
O setor florestal chileno é um exemplo -sem áreas disponíveis para plantio, busca países próximos como Brasil e Argentina para manter sua expansão.
O avanço chileno no exterior também é impulsionado por investidores estrangeiros que usam o país como base para atingir outros países da América Latina. Segundo estudo recente do Ministério do Desenvolvimento brasileiro, o Chile está se tornando o "principal centro regional de negócios para multinacionais que operam na América Latina".
Facilita ainda a operação estrangeira no Chile o fato de o país ter 21 acordos comerciais com 56 países, o que libera entraves ao trânsito de mercadorias. "O Chile trocou seus 16 milhões de consumidores pela população mundial", diz Cesar Hamze, gerente da Alpargatas Chile e diretor da Câmara de Comércio Chileno-Brasileira.

Avanço do Brasil
Para Hamze, a relação econômica Brasil-Chile vive momento "proveitoso", expresso também em recentes aportes brasileiros -a Petrobras investiu US$ 400 milhões na compra de 240 postos da rede Esso e o Banco Itaú adquiriu por US$ 500 milhões a rede do BankBoston no país.
Esse tipo de negócio, por ser fechado diretamente com as matrizes das empresas no exterior, não é computado pelo Chile como investimento brasileiro no país.
Com 5,6% de participação no comércio global do país, o Brasil é hoje o quinto parceiro comercial do Chile, atrás de China, EUA, Japão e Argentina. O intercâmbio comercial caiu 46% em 2009 na esteira da crise mundial, mas apresenta novas possibilidades de negócios para o Brasil.
Uma delas é na área de transportes. Neste mês, a Caio entregou 1.130 ônibus ao Chile -92% da frota do país andino é brasileira.
Outro setor promissor é o de eletroeletrônicos. Acordo recente entre o Chile e o Mercosul incluiu os produtos produzidos em zonas francas no ACE (Acordo de Complementação Econômica) 35, fechado em 1996 e que na prática zera as tarifas para 97% do comércio entre os países.
Ainda falta incluir esse acordo nas legislações locais, mas a tendência é que o Brasil passe a abocanhar fatia desse mercado, sobretudo em celulares, terceiro item que mais exporta ao Chile.
O Chile também anunciou em agosto sua adesão ao padrão nipo-brasileiro de TV digital, e já começa a importar TVs e equipamentos de transmissão brasileiros.
Fontes chilenas e brasileiras coincidem em que o novo presidente, seja governista ou de oposição, não deve mudar o rumo das políticas econômica e comercial do Chile. Fica então um recado de Hamze ao Brasil, em referência aos excessos burocráticos e tributários nacionais: "Os chilenos estão muito interessados no Brasil, mas ainda têm dificuldade de se estabelecer em nosso mercado".


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