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Sólida, economia chilena se volta ao Brasil
Embora seu PIB corresponda a 11,3% do brasileiro, investimento do Chile no Brasil é bem mais expressivo que o inverso
Nos últimos 20 anos, Chile investiu US$ 8 bi no Brasil, enquanto investimentos brasileiros no país andino somaram apenas US$ 2 bi
THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
Se o Chile que escolhe novo
presidente no domingo dá sinal
de cansaço com a política -expresso no desgaste da coalizão
governista-, a economia mantém a fama de solidez e direciona cada vez mais investimentos
ao Brasil.
Embora a economia brasileira corresponda a nove vezes a
chilena, é o Chile quem investe
mais no Brasil. Foram US$ 8 bilhões nos últimos 20 anos, ante
US$ 2 bilhões de investimentos
do Brasil no Chile.
Os alvos principais das empresas chilenas no Brasil são os
setores de supermercados,
energia elétrica, papel e celulose. Nesse último, a chilena
CMPC investiu neste ano US$
1,7 bilhão na compra da Melhoramentos Papéis e de uma fábrica da Aracruz.
A explicação dessa investida
é simples: ainda muito centrada na exploração do cobre, com
outros poucos setores competitivos (salmão, papel, vinho e
metanol), a economia não tem
muito mais para onde crescer.
"O Chile procura novos setores
de expansão para recuperar os
níveis de crescimento dos anos
90", afirma Joaquim Penna, do
setor econômico da Embaixada
do Brasil em Santiago.
O setor florestal chileno é um
exemplo -sem áreas disponíveis para plantio, busca países
próximos como Brasil e Argentina para manter sua expansão.
O avanço chileno no exterior
também é impulsionado por
investidores estrangeiros que
usam o país como base para
atingir outros países da América Latina. Segundo estudo recente do Ministério do Desenvolvimento brasileiro, o Chile
está se tornando o "principal
centro regional de negócios para multinacionais que operam
na América Latina".
Facilita ainda a operação estrangeira no Chile o fato de o
país ter 21 acordos comerciais
com 56 países, o que libera entraves ao trânsito de mercadorias. "O Chile trocou seus 16
milhões de consumidores pela
população mundial", diz Cesar
Hamze, gerente da Alpargatas
Chile e diretor da Câmara de
Comércio Chileno-Brasileira.
Avanço do Brasil
Para Hamze, a relação econômica Brasil-Chile vive momento "proveitoso", expresso
também em recentes aportes
brasileiros -a Petrobras investiu US$ 400 milhões na compra
de 240 postos da rede Esso e o
Banco Itaú adquiriu por US$
500 milhões a rede do BankBoston no país.
Esse tipo de negócio, por ser
fechado diretamente com as
matrizes das empresas no exterior, não é computado pelo Chile como investimento brasileiro no país.
Com 5,6% de participação no
comércio global do país, o Brasil é hoje o quinto parceiro comercial do Chile, atrás de China, EUA, Japão e Argentina. O
intercâmbio comercial caiu
46% em 2009 na esteira da crise mundial, mas apresenta novas possibilidades de negócios
para o Brasil.
Uma delas é na área de transportes. Neste mês, a Caio entregou 1.130 ônibus ao Chile
-92% da frota do país andino é
brasileira.
Outro setor promissor é o de
eletroeletrônicos. Acordo recente entre o Chile e o Mercosul incluiu os produtos produzidos em zonas francas no ACE
(Acordo de Complementação
Econômica) 35, fechado em
1996 e que na prática zera as tarifas para 97% do comércio entre os países.
Ainda falta incluir esse acordo nas legislações locais, mas a
tendência é que o Brasil passe a
abocanhar fatia desse mercado,
sobretudo em celulares, terceiro item que mais exporta ao
Chile.
O Chile também anunciou
em agosto sua adesão ao padrão
nipo-brasileiro de TV digital, e
já começa a importar TVs e
equipamentos de transmissão
brasileiros.
Fontes chilenas e brasileiras
coincidem em que o novo presidente, seja governista ou de
oposição, não deve mudar o rumo das políticas econômica e
comercial do Chile. Fica então
um recado de Hamze ao Brasil,
em referência aos excessos burocráticos e tributários nacionais: "Os chilenos estão muito
interessados no Brasil, mas
ainda têm dificuldade de se estabelecer em nosso mercado".
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