São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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FUTUROLOGIA

Projeto financiado pelo governo americano avalia que situação econômica e social do continente pouco mudará

AL dará "meio passo" até 2020, prevê estudo

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

A desconfiança com relação às reais motivações do Brasil não deixa o país se tornar uma liderança regional, impedindo a conquista de um assento no Conselho de Segurança da ONU. Na Cuba pós-Fidel Castro, residentes e ex-exilados disputam compensações e propriedades. Na Colômbia, mais um ano de combates entre o Exército e guerrilheiros financiados pelo narcotráfico.
Essas e outras histórias pouco animadoras e algo familiares deverão ocupar as análises de fim de ano em 2020. Pelo menos é o que prevêem os relatórios preliminares do ambicioso Projeto 2020, financiado pelo governo dos EUA.
Coordenado pelo influente Conselho Nacional de Inteligência (NIC, na sigla em inglês), o projeto reúne especialistas de diversas áreas, que debatem sobre os cenários mais prováveis para quase todo o mundo, dividido em sete grandes áreas.
Como se trata de projeções voltadas à política externa, os Estados Unidos ficaram de fora. O Canadá, o "51º Estado americano", também não foi incluído nesse exercício de futurologia.
O NIC é um dos órgãos mais importantes da inteligência americana e está subordinado diretamente ao diretor da CIA, George Tenet. Sua função primordial é fornecer informações para estratégias governamentais de médio e longo prazos.
Segundo o site do projeto, os relatórios produzidos até agora são considerados "para discussão" e não representam a visão do governo americano. Iniciado em novembro passado, o projeto terá um ano de duração e pode ser acompanhado pela internet.

Meio passo adiante
Comparadas com as diversas regiões do mundo, as projeções para a América Latina se destacam pela estagnação.
Com o sugestivo título "Dois Passos para a Frente, Um e Meio para Trás", o relatório afirma que o fracasso em combater a pobreza e a distância entre ricos e pobres continuarão a atrapalhar o desenvolvimento. Problemas como corrupção oficial, excesso de impostos, desrespeito aos direitos humanos e ineficiência policial persistirão.
Segundo o estudo, o fator mais positivo será o impacto da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que abrirão os mercados americanos e mundiais, sobretudo para os produtos agrícolas. O Mercosul, a OEA (Organização dos Estados Americanos) e outras organizações regionais pouco avançarão.
Nessa cenário globalizado, no entanto, a América Latina ficará para trás por motivos bem conhecidos: receio de investidores internacionais, alto grau de endividamento, desemprego e mão-de-obra pouco competitiva.
A relativa estabilidade da região fará com que a atenção dos EUA se volte para regiões mais críticas do planeta, abrindo espaço para outras forças econômicas, como a União Européia, a Índia, o Japão e sobretudo a China.

Diferenças regionais
Há poucas chances de que ocorra guerra entre países, mas há regiões potencialmente explosivas, como as divisas Venezuela-Colômbia, Equador-Peru e as fronteiras amazônicas brasileiras.
O relatório prevê algumas variações regionais. O México terá alcançado a condição de principal parceiro econômico americano e se distanciará da América Latina. O Chile continuará seu crescimento econômico e terá uma posição privilegiada na região.
Já a Argentina ainda não terá se recuperado totalmente do colapso econômico, enquanto os países andinos continuarão sofrendo com narcotráfico e guerrilhas.


Leia a íntegra dos relatórios em http://www.cia.gov/nic/NIC-2020-project.html


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