São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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Bush sugere fim da "ocupação" israelense

Presidente insiste sobre a segurança de Israel, mas apela para que os dois lados façam "concessões políticas dolorosas"

Posição contrasta com a de 2004; americano sugere criar fundo compensatório para que palestinos abram mão de direito de retorno

DA REDAÇÃO

Depois de apelar para que palestinos e israelenses façam "concessões políticas dolorosas" para chegarem à paz, o presidente George W. Bush pediu a Israel que ponha fim à "ocupação" da Cisjordânia, para com isso possibilitar a criação de um Estado palestino.
Bush esteve pela manhã em Ramallah, Cisjordânia, onde conferenciou com Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina. Visitou em seguida Belém, local apontado como o de nascimento de Jesus. Mais tarde voltou a Jerusalém, onde leu uma declaração em que exortou os dois lados a "concessões dolorosas".
O presidente americano foi bem mais longe que na véspera em termos verbais, quando havia apenas defendido o desmantelamento dos "assentamentos ilegais" israelenses em solo cisjordaniano.
Ao usar a palavra "ocupação", rara no vocabulário diplomático dos Estados Unidos, ele contradisse previsões, como a publicada pelo jornal israelense "Haaretz", de que se limitaria a um jogo de cena para acobertar seu favoritismo por Israel.
Ainda quanto à Cisjordânia, afirmou que o futuro Estado palestino precisaria ser territorialmente "contínuo" e que os palestinos mereceriam mais que "um queijo suíço" -menção ao território entrecortado por assentamentos judaicos.

Mudança de posição
Esse posicionamento contrasta com o que o próprio Bush declarou em abril de 2004, ao receber em Washington o então primeiro-ministro Ariel Sharon. Disse na época que Israel poderia conservar parte dos territórios palestinos conquistados em 1967.
O presidente afirmou que a fronteira definitiva entre palestinos e israelenses deverá "acomodar as mudanças territoriais" ocorridas desde a criação de Israel, sem dar detalhes.
Sugeriu que os palestinos não mais se referissem às resoluções da ONU que reconheciam como fronteiras as anteriores à Guerra dos Seis Dias. Elas não foram no passado, disse, de maior utilidade política.
Ao lado de Abbas, em Ramallah, perguntou se os palestinos queriam um futuro baseado num Estado democrático ou "apenas a mesma e velha coisa". Abbas respondeu que, com certeza, queria um Estado.
Bush não deu sugestões sobre como dividir Jerusalém. Os palestinos reivindicam o setor oriental como capital do futuro Estado. "Sei que Jerusalém é um tema difícil. Os dois lados têm preocupações políticas e religiosas. Mas é fundamental que cada lado compreenda que uma das chaves do acordo está em concessões."
Bush também sugeriu a criação de um fundo internacional para indenizar os palestinos pelo não exercício do "direito ao retorno" -às terras e imóveis ancestrais, confiscados quando da criação de Israel.
Os acordos de Camp David, em 2000, naufragaram sobretudo porque o então líder palestino Iasser Arafat não quis abrir mão desse direito.
De modo insistente, o presidente americano reiterou que a segurança de Israel é um dos pivôs de sua diplomacia. Em nome dela justificou os atuais postos de controle na Cisjordânia -embora também reconhecesse que eles eram um incômodo para os palestinos.
Mas, com maior ênfase, exortou os palestinos a desmontar a "infra-estrutura terrorista" em seus territórios.
Disse que o Hamas, desde que se apoderou de Gaza, tem como resultado a apresentar "apenas a fome". O porta-voz do grupo islâmico que venceu as eleições palestinas de 2006, Sami Abu Zuhri, qualificou as afirmações de Bush de "uma declaração de guerra".

Hoje no Kuait
Depois de Israel e dos territórios palestinos, Bush segue hoje para o Kuait, terceira etapa de sua viagem ao Oriente Médio, que também o levará ao Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Egito.
Com o emir kuaitiano, Sabah 4º, é previsível que ele reitere o discurso sobre a ameaça iraniana e reafirme que o esforço americano para que Teerã não produza a bomba atômica leva também em conta a segurança dos Estados árabes do Golfo.


Com agências internacionais


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