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Hillary revelará posição de Obama
Em sabatina da futura secretária de Estado dos EUA pelo Senado, atenções se voltam para política sobre Israel
Sessão acontece nesta terça; críticos veem divergências entre chanceler, mais linha-dura, e o presidente eleito, contrário a isolar o Hamas
DANIEL DOMBEY
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON
Hillary Clinton vai romper o
quase-silêncio da equipe Barack Obama sobre os combates
na faixa de Gaza na próxima semana, quando apresentar seu
pensamento sobre o Oriente
Médio e outros temas.
A provável próxima secretária de Estado dos EUA será alvo
das atenções em todo o mundo,
depois de outros países terem
assumido a liderança na busca
por um cessar-fogo e depois de
o presidente eleito, que tomará
posse em 20 de janeiro, ter se limitado a emitir generalidades
vagas sobre o conflito.
Talvez o símbolo mais marcante do dilema com que Washington se confronta tenha sido a abstenção do governo de
George W. Bush, na semana
passada, na resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo em Gaza.
Alguns a veem como mais
uma prova da relutância dos
EUA em censurar Israel; outros, especialmente em Israel,
interpretam o fato de Washington não ter vetado como um
dos mais importantes sinais
dos últimos anos de distância
entre os EUA e Israel.
São as posições de Hillary
Clinton em política externa, e
não dúvidas quanto a suas
chances de ser ratificada como
secretária de Estado, que deverão estar ao centro das atenções na audiência no Senado,
terça-feira, para confirmar sua
nomeação.
"Ela tem uma candidatura
muito forte", disse Richard Lugar, o republicano de mais alto
nível na Comissão de Relações
Exteriores do Senado.
Diálogo com Hamas
Um foco das atenções será o
Hamas. Obama já excluiu publicamente a possibilidade de
contatos diretos com a organização islâmica, mas até mesmo
o governo Bush afrouxou sua
política de isolamento total dela ao incentivar o Egito a mediar o cessar-fogo entre Hamas
e Israel expirado em dezembro.
Mas as promessas de Obama
e Hillary de concentrarem sua
atenção no processo de paz assim que subirem ao poder chegam contra o pano de fundo de
um apoio maior dos EUA a Israel nos últimos 15 anos, depois
que o ex-presidente George
H.W. Bush (1989-1993) usou
garantias de empréstimos para
pressionar o país.
Na semana passada, o Senado americano aprovou por unanimidade uma resolução declarando que "se posiciona ao lado
de Israel", e ontem a Câmara
deveria ratificar uma medida
semelhante.
Nos últimos dez anos, Hillary
também se mostrou aliada confiável de Israel. Durante sua
disputa com Obama pela indicação presidencial democrata,
ela avisou que os EUA poderiam "obliterar" o Irã no caso
de um ataque nuclear contra
Israel, explicando que o pensamento da Guerra Fria em relação à dissuasão poderia ajudar
a frustrar as ambições de Teerã.
No ano passado, na conferência anual do grupo pró-Israel
Aipac, Hillary disse que rejeita
a hipótese de negociar com o
Hamas enquanto este se negar
a reconhecer Israel.
Moderação
Mesmo assim, alguns analistas acreditam que ela possa
abrandar suas posições, uma
vez instalada no cargo.
"O tipo de atitude linha-dura
que vimos emanando dela vai
diminuir quando ela estiver em
seu novo papel", diz Steve Clemons, da fundação New America, um instituto de estudos com
sede em Washington. "Sua
campanha já terminou, e ela
não será mais senadora por Nova York, que representa um dos
maiores e mais ricos bolsões de
contribuintes judeus no país."
Boa parte do trabalho do dia-a-dia com relação a Israel e palestinos deve ser confiado a um
novo enviado para a região, que
trabalhará com Dennis Ross, o
ex-alto funcionário do Departamento de Estado selecionado
para exercer um papel mais
amplo no trato com o Irã, acusado por muitos analistas americanos de travar uma guerra
por procuração contra Israel,
por meio do Hamas e do movimento xiita libanês Hizbollah.
Um terceiro enviado, Richard
Holbrooke, que foi embaixador
na ONU durante o governo Bill
Clinton, deverá trabalhar com
o Afeganistão e Paquistão.
Anne-Marie Slaughter, acadêmica de Princeton prevista
para exercer um alto cargo político no Departamento de Estado comandado por Hillary
Clinton, disse em uma conferência em Washington nesta
semana que o novo governo
não tratará de Israel-palestinos
isoladamente, mas como um de
uma série de problemas interligados. "O presidente eleito
Obama e a secretária Hillary
enxergam o Oriente Médio como uma área que vai de Israel à
Índia", disse ela.
Mas alguns observadores especulam que Hillary pode ter
dificuldade em criar uma voz
própria forte se os enviados especiais adotarem papéis de destaque, enquanto figuras em outros setores do novo governo
-quer seja o vice-presidente
eleito Joe Biden ou o secretário
Robert Gates (Defesa)- também procuram determinar as
diretrizes da política externa.
Richard Armitage, ex-sub secretário de Estado sob George
W. Bush, disse ao "Financial Times": "Parece-me que é sempre melhor começar com menos enviados especiais, em lugar de começar com muitos e
ter que reduzi-los".
O maior risco de todos é de
uma divergência com Obama,
que durante as primárias partidárias falou sobre o Irã em tom
consideravelmente mais moderado que Hillary.
Os inimigos do novo governo,
dentro e fora do país, já estão
atentos para tais tensões. "A
verdadeira dúvida de política
externa no primeiro ano será
quanto tempo vai levar para
que Hillary e Obama entrem
em conflito aberto", disse um
ex-funcionário da administração Bush.
Tradução de CLARA ALLAIN
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