São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2009

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Israel pediu a EUA armas contra Irã, revela jornal

No início de 2008, Olmert solicitou bombas para atacar instalações nucleares; Bush negou

Para acalmar Israel, EUA revelaram que mantêm operações secretas para sabotar programa de Teerã, relata "New York Times"

DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES, EM WASHINGTON

O presidente dos EUA, George W. Bush, negou um pedido secreto de Israel no ano passado de bombas especiais para destruir bunkers. Essas bombas serviriam para um ataque israelense ao principal complexo nuclear do Irã.
Bush disse a Israel que havia autorizado novas operações secretas para sabotar seus esforços em desenvolver armas nucleares. A informação foi apurada pelo "New York Times" com funcionários americanos e estrangeiros, que não quiseram ter seus nomes divulgados.
A Casa Branca nunca chegou a uma conclusão se Israel havia decidido levar o ataque ao Irã a cabo ou se o premiê Ehud Olmert estava tentando apenas pressionar Bush para que agisse mais decisivamente contra o país antes de deixar o cargo. Mas a administração Bush ficou especialmente alarmada com o pedido israelense de sobrevoar o Iraque para atingir o complexo nuclear iraniano de Natanz, onde fica a única usina de enriquecimento de urânio conhecida do país.
A Casa Branca negou o pedido, e os israelenses recuaram de seus planos, ao menos temporariamente. Mas o pedido fez a Casa Branca aumentar o compartilhamento de sua inteligência com Israel e relatar seus novos esforços em sabotar o programa nuclear iraniano, uma operação secreta que Bush entregará a seu sucessor, Barack Obama.
As entrevistas feitas pelo "New York Times" sugerem que Bush foi extensivamente informado sobre as opções para um ataque americano às instalações iranianas, mas nunca instruiu o Pentágono a ir além dos planos de contingência.
Bush foi convencido por assessores, liderados pelo secretário da Defesa, Robert Gates -que seguirá no cargo sob Obama-, que qualquer ataque ao Irã seria provavelmente ineficaz, levaria à expulsão dos inspetores internacionais e tornaria os esforços nucleares do Irã ainda mais nebulosos.
Em vez desse caminho, Bush preferiu adotar mais operações secretas contra o Irã, depois de concluir que as sanções impostas pelos EUA e seus aliados não estavam arrefecendo os esforços do Irã em enriquecer urânio. A continuidade dessas operações, e a questão se Israel se contentará com algo menos do que um ataque convencional contra o Irã, constituirão um desafio imediato para Obama.
O programa americano começou no início de 2008 e inclui esforços em penetrar a cadeia de fornecimento de urânio ao Irã além de tentativas experimentais de sabotar sistemas elétricos e de computação usados pelo país, com o objetivo de atrasar o desenvolvimento de sua capacidade de produzir uma arma nuclear.
Desde que foi eleito, Obama, que toma posse no dia 20, foi extensivamente informado sobre as ações americanas no Irã. No início de sua Presidência, ele terá que decidir se as ações iniciadas por Bush compensam o risco de perturbar o que ele assegurou que será um maior esforço diplomático na questão iraniana.

Conflito de inteligência
O pedido de Israel em obter as bombas e a permissão para sobrevoar o Iraque para um ataque do Irã surgiu da descrença e raiva provocadas por um relatório da inteligência americana completado em 2007 que concluiu que o Irã havia abandonado seu desenvolvimento de armas nucleares quatro anos antes.
Essa conclusão também surpreendeu Bush e sua equipe de segurança nacional. Os relatórios indicavam que os engenheiros iranianos haviam recebido ordens para interromper o desenvolvimento de uma bomba em 2003, embora continuassem a tentar dominar o enriquecimento do urânio, o passo mais difícil para a construção de uma arma nuclear.
Os israelenses responderam duramente ao relatório americano, fornecendo à inteligência americana indícios de que o Irã ainda estava trabalhando em uma bomba.
No início de 2008, o governo israelense pediu as bombas antibunker aos EUA, equipamento de reabastecimento que desse autonomia de voo até o Irã aos caças israelenses e o direito de sobrevoar o Iraque.
Bush negou os pedidos, mas deu a Israel um sistema de radar de alto alcance, chamado X-Band, capaz de detectar qualquer lançamento de míssil iraniano. Era o único elemento do pedido israelense que poderia ser usado apenas para defesa.


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