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IRAQUE SOB TUTELA
Para ex-alto funcionário da CIA, governo Bush privilegiou informação que apoiava sua intenção de ir à guerra
Casa Branca "selecionou" dados sobre Iraque
DAVID MORGAN
DA REUTERS, EM WASHINGTON
Um ex-funcionário da CIA que
coordenou a inteligência dos EUA
relativa ao Oriente Médio durante
a invasão do Iraque acusou a Casa
Branca de ter feito mau uso das
informações obtidas antes da
guerra para justificar seus argumentos em favor do ataque.
Paul Pillar, que foi o responsável
nacional de inteligência para o
Oriente Médio e o sul da Ásia de
2000 a 2005, também disse que o
Comitê de Inteligência do Senado
e uma comissão presidencial fizeram vista grossa para evidências
de que o governo Bush politizou o
processo de inteligência de modo
a dar apoio aos setores da Casa
Branca responsáveis pela formulação da política americana.
"As informações oficiais sobre
os programas de armas iraquianas tiveram falhas, mas, mesmo
com falhas, não foram elas que
conduziram à guerra", escreveu
Pillar em artigo escrito para a "Foreign Affairs". "Se todo o conjunto da análise feita das informações
oficiais sobre o Iraque conduzia a
uma conclusão política, essa conclusão era que se devia evitar a
guerra -ou, se a guerra fosse travada, que nos preparássemos para um pós-guerra problemático."
Não foi possível contatar Pillar
para que ele comentasse o artigo.
Um porta-voz da CIA disse que
Pillar expressou seu ponto de vista pessoal, e não a visão oficial da
agência de espionagem.
A CIA e outras agências que
compõem a comunidade de inteligência dos EUA têm sido criticadas por sua coleta de informações
sobre o Iraque no pré-guerra, incluindo a alegação de que Saddam Hussein possuía armas de
destruição em massa, que foi o
principal argumento usado para
justificar a guerra. Essas armas
não foram achadas no Iraque.
Mas Pillar, analista de inteligência altamente respeitado que passou 28 anos na CIA, disse que,
desde a invasão de 2003, já ficou
claro que a Casa Branca não empregou as análises oficiais de inteligência para tomar até as mais
importantes decisões na área de
segurança nacional.
Em vez disso, ela usou uma
abordagem de "selecionar dados
a dedo", escolhendo informações
brutas que pareciam mais favoráveis a suas afirmações sobre as armas de destruição em massa e o
argumento de que existia vínculo
entre o Iraque e a Al Qaeda.
A Casa Branca desprezou relatórios dos serviços de inteligência
que diziam que o Iraque não seria
um terreno fértil para a democracia e que falavam de um período
pós-invasão longo e difícil, que
exigiria um esforço do tipo de um
Plano Marshall para reconstruir a
economia do país, apesar de suas
abundantes reservas petrolíferas.
Os relatórios também previam
que a força de ocupação se tornaria alvo de ressentimento e de ataques, inclusive de guerrilheiros.
Pillar disse que o governo Bush
politizou a inteligência sobre o
Iraque ao pedir repetidas vezes
mais material que contribuísse
para seus argumentos em favor
da guerra, tática que, segundo ele,
levou os recursos de inteligência a
serem empregados de maneira
parcial em tópicos que favoreciam a posição da Casa Branca.
O Comitê Seleto do Senado para
a Inteligência e a Comissão sobre
Armas de Destruição em Massa
concluíram que não existem evidências de que a Casa Branca tenha exercido pressão política.
"Mas o método de investigação
usado pelos comitês -em essência, perguntar aos analistas se eles
haviam sido pressionados- teria
detectado apenas as tentativas
mais grosseiras de politização",
escreveu Pillar.
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