São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 2006

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Libby diz que teve ordem para vazar informações

NEIL LEWIS
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

O ex-chefe-de-gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Lewis Libby Jr., disse a um júri de instrução que foi autorizado por "seus superiores" a revelar a jornalistas informações sigilosas sobre a capacidade iraquiana de armas em 2003, segundo documento registrado por um promotor federal.
O relatório mostra que Libby participou do esforço de relações públicas da administração de George W. Bush para rebater as queixas de que havia poucos fundamentos para dizer que Saddam Hussein tinha ou buscava armas de destruição em massa, alegação que justificou a invasão do Iraque.
O documento é parte dos argumentos contra Libby, acusado de mentir sobre seu papel no vazamento a jornalistas da identidade de uma agente da CIA (Agência Central de Inteligência).
O promotor Patrick Fitzgerald, em carta enviada aos advogados de Libby no mês passado, disse que este depôs diante do júri de instrução dizendo que "não manteve contatos com jornalistas nos quais revelou o teor da Estimativa de Inteligência Nacional (EIN)" relativa à capacidade nuclear iraquiana. "Também observamos que Libby declarou em seu depoimento que foi autorizado por seus superiores a revelar à imprensa informações sobre a EIN."
Em outubro passado, Libby foi indiciado por cinco acusações de falso testemunho e obstrução da Justiça, envolvendo o que Fitzgerald afirma ter sido uma tentativa de enganar investigadores sobre seu papel no vazamento da identidade de Valerie Wilson como agente da CIA.
Valerie é mulher de Joseph Wilson, ex-embaixador que acusara a administração de distorcer informações sobre as tentativas do Iraque de comprar urânio do governo do Níger.
A identidade de Valerie Wilson foi revelada primeiramente numa coluna assinada por Robert Novak em julho de 2003, logo depois de Joseph Wilson escrever um artigo no "New York Times" dizendo que investigara a alegação sobre o Níger e encontrara poucas evidências que a respaldassem.
A nota de 23 de janeiro do promotor parece constituir uma tentativa de provar que Libby usava informações secretas para promover os argumentos da administração, ao mesmo tempo em que a identidade de Valerie Wilson era vazada aos jornalistas.
A EIN, redigida em outubro de 2002, dizia que "o Iraque provavelmente terá uma arma nuclear ainda nesta década", mas incluía pareceres divergentes. O relatório foi classificado como sigiloso.
Em 18 de julho, quando se espalharam dúvidas quanto aos argumentos em favor da invasão do Iraque, algumas das quais atribuíveis ao artigo de Joseph Wilson, o governo retirou o documento da categoria de sigiloso.
Em sua carta, o promotor Fitzgerald disse que Libby comentou o teor do relatório sigiloso numa reunião em 8 de julho com Judith Miller, na época repórter do "New York Times". Miller disse ao júri de instrução que Libby lhe falou sobre Valerie Wilson nesse dia.
Os advogados de Libby já deram a entender que não vão contestar a alegação de que ele teria dado declarações enganosas sobre como soube da identidade de Valerie Wilson e se compartilhou essa informação com jornalistas. Eles já disseram que quaisquer declarações inverídicas de Libby aos investigadores foram fruto de sua preocupação com questões graves de segurança nacional.


Tradução de Clara Allain

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