São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2007

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Paris tenta resgatar a Champs-Elysées

Na 3ª avenida mais cara do mundo, clubes e cinemas deram lugar a cadeias de lojas

Vice-prefeito lança ofensiva contra banalização da área e veta instalação de megaloja sueca; antigos comerciantes lamentam demora no plano


ELAINE SCIOLINO
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS

Houve uma época em que a avenida Champs-Elysées era considerada símbolo da vida em grande estilo e dos encontros casuais felizes. Com o Arco de Triunfo em uma de suas pontas e o Jardim das Tulherias na outra, quem passeasse a pé pela avenida poderia encontrar uma banda de jazz à meia-noite e comer ostras com champanhe ao raiar do dia.
Mas a avenida na qual Charles de Gaulle comemorou a libertação da França do jugo nazista e que já foi descrita como "a mais bela avenida do mundo" anda decaindo e se comercializando, como ocorreu com a Times Square em Nova York e a Oxford Street em Londres.
A maioria dos clubes de música se foi. Mais e mais cinemas estão sendo fechados. A impressão que se tem é que tudo o que restou na avenida de quase 2 km de extensão são lojas de cadeias globais, as únicas que ainda têm condições de pagar os aluguéis astronômicos.
Assim, num momento legitimamente francês, a prefeitura parisiense começou a exercer pressão em sentido contrário, proclamando uma crise de confiança e prometendo um plano para impedir que o processo de "banalização" da Champs-Elysées avance.
O primeiro passo nesse plano foi a decisão, tomada no mês passado, de proibir a rede sueca de moda H&M de abrir uma megaloja na avenida. A decisão tem por objetivo desacelerar a invasão das lojas varejistas e preservar o que ainda resta do caráter diversificado da atração turística mais visitada na França, depois da Torre Eiffel. "Houve uma crise de consciência e a percepção de que estávamos perdendo nosso senso de equilíbrio", disse o vice-prefeito François Lebel. "Era necessária uma ação drástica. Não temos nada contra a H&M -foi por mero acaso que ela se tornou a primeira vítima."
É verdade que o visitante ainda pode comprar na avenida uma bolsa de US$ 10 mil ou um Mercedes conversível de US$ 300 mil, fazer lances por vinhos raros num leilão, assistir a mulheres dançando vestidas apenas com plumas de avestruz ou comprar medicamentos às 2h.
Com aluguéis que chegam a US$ 1,2 milhão por ano para um espaço de 94 m2, a Champs-Elysées é a terceira área mais cara do mundo, perdendo apenas para a Quinta Avenida de Nova York e a Causeway Bay de Hong Kong. Apenas sete cinemas continuam a funcionar na avenida -a metade do número de 12 anos atrás. "Estamos sendo expulsos", comentou Hugues Borgia, diretor de desenvolvimento da UGC. Muitos comerciantes lamentam o fato de a iniciativa para salvar a cidade ter vindo tarde demais. "Os parisienses de alta classe não vêm mais à Champs-Elysées", disse Serge Ghnassia, proprietário da loja de roupas de pele Milady, aberta em 1933.
"A avenida deixou de ser prestigiosa, agradável. A freqüência hoje é muito popular. As pessoas vêm para comer um "kebab" e comprar uma camiseta."


Tradução de CLARA ALLAIN

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