São Paulo, quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

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Iranianos não querem bomba, diz pesquisa

Levantamento de universidade dos EUA com cidadãos do país persa mostra, porém, que população não abre mão de programa nuclear

Dos entrevistados, 38% foram favoráveis à produção do artefato militar, enquanto 55% disseram que o país deve buscar somente energia


CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

Uma pesquisa feita pelo projeto Opinião Pública Mundial, da Universidade de Maryland (EUA), sugere que a maioria dos iranianos é contrária a que seu país produza a bomba atômica, mas defende a continuidade do programa de enriquecimento de urânio.
A pesquisa, que ouviu por telefone 1.003 pessoas no Irã, em agosto e setembro, está em relatório recém-divulgado pela universidade, no qual são comparados levantamentos sobre as eleições do ano passado, o regime islâmico e a política externa do país.
O próprio diretor do projeto, Steven Kull, disse em conferência na semana passada que os dados devem ser analisados com cuidado, já que é impossível medir o quanto os entrevistados disseram o que pensam ou foram afetados pelo medo da repressão que se abateu sobre a oposição ao presidente Mahmoud Ahmadinejad depois do pleito de junho.
Mas Kull afirmou que a maioria dos resultados se mostrou coerente com os de levantamentos anteriores às eleições, quando o debate político iraniano se dava em ambiente mais aberto.
Na seção sobre política externa, 38% dos entrevistados foram favoráveis à produção da bomba, enquanto 55% disseram que o país deve desenvolver somente energia nuclear. A maioria foi favorável a diálogo "incondicional" com os EUA (60%) e ao restabelecimento de relações diplomáticas com Washington (63%).
Questionados sobre o impacto das sanções internacionais ao Irã, 60% disseram que ele é muito ou bastante negativo. A maioria também previu que certamente (35%) ou provavelmente (30%) as punições seriam ampliadas se o país não cumprisse a exigência do Conselho de Segurança da ONU de que suspendesse o enriquecimento de urânio.
No entanto, 55% se disseram contrários a um acordo em que essa exigência fosse cumprida. Em contraste, 65% admitiriam que inspetores internacionais tivessem "acesso irrestrito" a todas as instalações nucleares do país, desde que o Irã mantivesse a produção do combustível nuclear.
Embora tenha assinado o Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação, abrindo caminho para inspeções intrusivas, o Irã não o ratificou. Por outro lado, nenhuma proposta feita ao país desde 2003, quando foi acusado de ter programa militar secreto, admitiu que ele mantenha o domínio do ciclo do combustível -direito dos signatários do TNP que não detêm armas atômicas.
Na política interna, a pesquisa sugere que a legitimidade de Ahmadinejad poderia ser maior do que se crê -66% disseram que sua reeleição, apontada como fraudulenta pela oposição, foi "livre e limpa".
No entanto, quando questionados em quem votariam se a votação se repetisse, 49% apontaram o presidente (que teve oficialmente 62,7% dos votos), 8% seu principal opositor, Mir Hossein Mousavi (que teve 33%), e 26% disseram não saber ou se negaram a responder.
Kull, o coordenador da pesquisa, foi ainda mais cauteloso ao analisar essa parte do levantamento, afirmando que os dados não permitem "respostas definitivas", negativas ou positivas, sobre a popularidade do atual governo iraniano.


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