São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

Para Al Jazeera, pressão é sem precedente

Al Anstey, diretor do canal, diz à Folha que intimidação do regime no Egito exigiu cuidado redobrado da TV

Diretor afirma que o canal deve chegar ao Brasil em alguns meses; no mundo, está em 230 milhões de residências

FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO

A Al Jazeera está acostumada a ser alvo de governos árabes (e ocidentais, diga-se), mas o Egito apresenta desafios únicos.
"Esta tem sido uma cobertura muito difícil, são eventos sem precedentes. A pressão tem sido enorme", diz em entrevista à Folha o diretor-geral da versão em inglês do canal de notícias 24 horas, o britânico Al Anstey.
Baseado no Qatar, sede da emissora, é dele a função de zelar pela segurança dos profissionais que fazem a cobertura do Egito. Nos últimos dias, a tarefa não tem sido fácil. O escritório no Cairo foi invadido e equipamentos, danificados.
Por pressão do governo, a versão em árabe do canal, a mais vista do país, foi retirada temporariamente da operadora de TV a cabo local.
"Me sinto um homem de 60 anos", diz Anstey, 44, com ar cansado.
No mundo, o serviço em inglês chega hoje a 230 milhões de residências. Mas, no Brasil, nenhuma operadora de TV por assinatura oferece a Al Jazeera -por enquanto. "Chagaremos ao Brasil nos próximos meses", afirma.

 


Folha - Como está a operação da Al Jazeera no Egito agora?
Al Anstey -
Neste momento, está normalizada. Antes, nosso canal em árabe teve de parar de transmitir pela Nilesat [operadora local]. Esta tem sido uma cobertura muito difícil, são eventos sem precedentes. A pressão tem sido enorme. O que tivemos de fazer por causa das restrições é sermos muito cuidadosos. Às vezes, nossos repórteres tiveram que fazer matérias por telefone.
Em outras, não os pudemos identificar. Estamos fazendo isso para a segurança deles e estamos dizendo aos telespectadores por que temos de fazer isso.
Há claramente pressão sobre a Al Jazeera porque o nosso canal em árabe é o mais visto no Oriente Médio. Não é só pelo que fazemos, é por quão assistidos somos.

Por que a mídia não conseguiu antecipar o que está acontecendo?
Porque são eventos notáveis. Quando vimos que a história começou a se de- senrolar, reforçamos nossa sucursal no Egito. Estávamos lá quando a história começou. Obviamente, precisamos olhar para a região de maneira mais geral para ver o impacto e a influência. Uma coisa que eu gostaria de enfatizar é que é nosso trabalho cobrir, não criar as histórias.

Muitos dizem, no entanto, que a imprensa é parte dessa história e que algo dela foi criado, sim, com sua ajuda...
Precisamos separar o "diálogo on-line" da transmissão jornalística. O primeiro é entre pessoas com opiniões, que querem dividi-las com o mundo. Isso claramente teve influência na Tunísia, no Egito. O segundo componente é referente a emissoras de TV como nós. Nosso trabalho é de cobrir os fatos, não de ter alguma opinião. Não estamos articulando opiniões.

Vocês são financiados pelo governo do Qatar, que não é exatamente uma democracia. Não é contraditório?
Nós somos uma emissora pública, financiada pelo Estado do Qatar. Mas somos totalmente independentes editorialmente. Nunca fomos demandados a produzir uma história de um jeito ou de outro. O que fazemos é colocar todos os países do mundo em um patamar equilibrado. E olhamos a pauta pelos seus méritos.

Como está sua estratégia global?
Claro que temos alcance no Oriente Médio, mas também somos muito vistos na Europa, na África, na Ásia e na América Latina. E temos feito avanços muito bons em termos de operadoras de cabo na América do Norte. Temos uma grande audiência on-line, em particular nos EUA, onde tivemos 2.500% de aumento de acessos no ano passado. Estamos em mais de 230 milhões de residências em todo o mundo, só no serviço inglês.

E quando chegam ao Brasil?
Nos próximos meses, chegaremos ao país. Temos muito interesse nisso. Estamos conversando com operadores e autoridades para assegurar que possamos fazer progresso. Mas não posso dar maiores detalhes neste momento.


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