São Paulo, sábado, 11 de março de 2006

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EUROPA

A um mês de eleição, premiê italiano é acusado de comprar testemunha; ministro renuncia por espionagem eleitoral

Justiça e grampo complicam Berlusconi

DA REDAÇÃO

Faltando um pouco menos de um mês para as eleições legislativas italianas, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi sofreu ontem dois dramáticos golpes que poderão enfraquecer suas chances de obter um novo mandato.
O primeiro partiu do Ministério Público de Milão, que anunciou ter pedido o indiciamento do premiê -também o homem mais rico da Itália e o grande empresário de mídia do país- por ter supostamente pago US$ 600 mil ao advogado britânico David Mills para que ele testemunhasse a seu favor em processo de corrupção.
A decisão de abrir o processo está agora nas mãos dos magistrados. Eles levam em geral algumas semanas para decidir, o que manterá Berlusconi sob suspeita no período que coincide com o aquecimento final da campanha.
Mills e o próprio Berlusconi desmentem que o testemunho tenha sido comprado. Mas, se os indícios existentes forem comprovados, o premiê poderia, teoricamente, ser condenado a de três a oito anos de prisão.
O segundo golpe veio com a renúncia do ministro da Saúde, Francesco Storace, em razão de inquérito que o acusa de ter montado uma operação de espionagem de adversários em eleições regionais do ano passado.
Storace nega a acusação, mas disse que preferia deixar o governo para que o caso não fosse politizado pela oposição.
"O que está vindo à tona com esses dois episódios é algo de podre na direita italiana", disse um dos dirigentes da oposição de centro-esquerda, Piero Fassino.
A coligação integrada por Fassino se beneficia de uma ligeira vantagem nas pesquisas de intenção de voto. Resta saber se, com os dois episódios de ontem, Berlusconi continuará a convencer uma boa parcela dos eleitores de que ele tem sido uma vítima sistemática de promotores simpatizantes da esquerda.

"Rotina pré-eleitoral"
"Não há nenhuma novidade nisso", disse Sandro Bondi, coordenador do Força Itália, partido do premiê. A seu ver, tornou-se uma rotina abrir processos contra Berlusconi em período eleitoral.
Ele acusou promotores e juízes de "abandonar maliciosamente a procura da verdade, para procurar atingir objetivos políticos".
David Mills, o advogado supostamente subornado, foi o marido da ministra britânica da Cultura, Tessa Jowell. O escândalo repercutiu há dias em Londres.
Jowell, pessoa de confiança do primeiro-ministro Tony Blair, foi pressionada a renunciar. Mas, em lugar de deixar o governo, ela deixou o marido. Anunciou a separação em comunicado publicado no último sábado.
O ex-ministro Storace é um homem de peso na direita italiana. Recebeu o Ministério da Saúde como prêmio de consolação por ter perdido em 2005 a presidência da riquíssima região de Lazio, em que Roma está situada.
No que parece ser um "Who"s Who" da história italiana, magistrados acreditam ter provas de que Storace espionou Alessandra Mussolini, que vem a ser a neta do ditador fascista Benito Mussolini (1883-1945). Outro espionado teria sido o jornalista Piero Marrazzo, que ganhou a eleição para o bloco de centro-esquerda.
O inquérito sobre o caso está bastante adiantado, tanto que já foram presas nesta semana 16 pessoas, entre elas 11 detetives particulares que teriam participado da operação. Um desses detetives, Pierpaolo Pasqua, manteve na época contatos regulares com Niccolo Accame, porta-voz do ex-ministro da Saúde.
Storase foi a segunda baixa no gabinete de Berlusconi no atual período pré-eleitoral. A primeira foi a de Roberto Calderoli, ministro das Reformas, que caiu depois da controvérsia que criou ao aparecer na televisão com uma camiseta estampada com uma caricatura do profeta Muhammad.
O ministro do Interior, Giuseppe Pisanu, declarou ontem ser "inegável que o clima eleitoral está cada vez mais peçonhento", e que seria saudável extrair esse veneno antes que os eleitores votem entre 9 e 10 de abril.


Com agências internacionais

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