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EUROPA
A um mês de eleição, premiê italiano é acusado de comprar testemunha; ministro renuncia por espionagem eleitoral
Justiça e grampo complicam Berlusconi
DA REDAÇÃO
Faltando um pouco menos de
um mês para as eleições legislativas italianas, o primeiro-ministro
Silvio Berlusconi sofreu ontem
dois dramáticos golpes que poderão enfraquecer suas chances de
obter um novo mandato.
O primeiro partiu do Ministério
Público de Milão, que anunciou
ter pedido o indiciamento do premiê -também o homem mais rico da Itália e o grande empresário
de mídia do país- por ter supostamente pago US$ 600 mil ao advogado britânico David Mills para
que ele testemunhasse a seu favor
em processo de corrupção.
A decisão de abrir o processo está agora nas mãos dos magistrados. Eles levam em geral algumas
semanas para decidir, o que manterá Berlusconi sob suspeita no
período que coincide com o aquecimento final da campanha.
Mills e o próprio Berlusconi
desmentem que o testemunho tenha sido comprado. Mas, se os indícios existentes forem comprovados, o premiê poderia, teoricamente, ser condenado a de três a
oito anos de prisão.
O segundo golpe veio com a renúncia do ministro da Saúde,
Francesco Storace, em razão de
inquérito que o acusa de ter montado uma operação de espionagem de adversários em eleições
regionais do ano passado.
Storace nega a acusação, mas
disse que preferia deixar o governo para que o caso não fosse politizado pela oposição.
"O que está vindo à tona com
esses dois episódios é algo de podre na direita italiana", disse um
dos dirigentes da oposição de
centro-esquerda, Piero Fassino.
A coligação integrada por Fassino se beneficia de uma ligeira
vantagem nas pesquisas de intenção de voto. Resta saber se, com
os dois episódios de ontem, Berlusconi continuará a convencer
uma boa parcela dos eleitores de
que ele tem sido uma vítima sistemática de promotores simpatizantes da esquerda.
"Rotina pré-eleitoral"
"Não há nenhuma novidade
nisso", disse Sandro Bondi, coordenador do Força Itália, partido
do premiê. A seu ver, tornou-se
uma rotina abrir processos contra
Berlusconi em período eleitoral.
Ele acusou promotores e juízes
de "abandonar maliciosamente a
procura da verdade, para procurar atingir objetivos políticos".
David Mills, o advogado supostamente subornado, foi o marido
da ministra britânica da Cultura,
Tessa Jowell. O escândalo repercutiu há dias em Londres.
Jowell, pessoa de confiança do
primeiro-ministro Tony Blair, foi
pressionada a renunciar. Mas, em
lugar de deixar o governo, ela deixou o marido. Anunciou a separação em comunicado publicado
no último sábado.
O ex-ministro Storace é um homem de peso na direita italiana.
Recebeu o Ministério da Saúde
como prêmio de consolação por
ter perdido em 2005 a presidência
da riquíssima região de Lazio, em
que Roma está situada.
No que parece ser um "Who"s
Who" da história italiana, magistrados acreditam ter provas de
que Storace espionou Alessandra
Mussolini, que vem a ser a neta do
ditador fascista Benito Mussolini
(1883-1945). Outro espionado teria sido o jornalista Piero Marrazzo, que ganhou a eleição para o
bloco de centro-esquerda.
O inquérito sobre o caso está
bastante adiantado, tanto que já
foram presas nesta semana 16
pessoas, entre elas 11 detetives
particulares que teriam participado da operação. Um desses detetives, Pierpaolo Pasqua, manteve
na época contatos regulares com
Niccolo Accame, porta-voz do ex-ministro da Saúde.
Storase foi a segunda baixa no
gabinete de Berlusconi no atual
período pré-eleitoral. A primeira
foi a de Roberto Calderoli, ministro das Reformas, que caiu depois
da controvérsia que criou ao aparecer na televisão com uma camiseta estampada com uma caricatura do profeta Muhammad.
O ministro do Interior, Giuseppe Pisanu, declarou ontem ser
"inegável que o clima eleitoral está cada vez mais peçonhento", e
que seria saudável extrair esse veneno antes que os eleitores votem
entre 9 e 10 de abril.
Com agências internacionais
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