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ARTIGO
É preciso derrotar Berlusconi
UMBERTO ECO
Estamos diante de um prazo
dramático. Desde 2001, a Itália decaiu em todas os sentidos: o respeito pelas leis e a Constituição, a
situação econômica, o prestígio
internacional. Se tivermos de passar por mais cinco anos de governo do Pólo das Liberdades (a coalizão de direita encabeçada por
Silvio Berlusconi), sendo representados diante do mundo por
gente como Roberto Calderoli
(ministro obrigado a renunciar
por ter usado
uma camiseta
estampada com
caricaturas do
profeta Muhammad, o que desencadeou tumultos sangrentos na Líbia) e
pelos mais recentes recrutas
da Força Itália,
os impenitentes
do fascismo em
versão Saló, o
declínio de nosso país será inexorável e, possivelmente, definitivo.
É por essa razão que o encontro marcado de 9
de abril é diferente de todas as
eleições que já tivemos até agora:
antes, tratava-se
de escolher
quem iria governar, sem precisar temer a chegada de um governo que colocasse as instituições democráticas em risco. Desta
vez, trata-se simplesmente de salvar essas instituições. Os partidos
de oposição procuram atrair os
votos dos indecisos que votaram
no Pólo e sentem-se traídos. Eles
cumprem seu dever, mas creio
que seja preciso aplicar um raciocínio diferente.
Não são os indecisos que votaram na direita na última vez que
representam o risco maior nestas
eleições (ou eles vão votar como
antes, por convicção ou por preguiça, ou vão se abster). Considero que seja necessário esforçar-se
para convencer os eleitores de esquerda decepcionados.
Nós os conhecemos; eles são
muitos, e este não é o lugar para
discutir as razões de sua insatisfação. Mas é a eles que convém recordar que, se se deixarem levar
por esse descontentamento, vão
contribuir para deixar a Itália nas
mãos daqueles que conduziram o
país à ruína. Nenhum descontentamento, mesmo que seja inteiramente justificado,
pode comparar-se
ao medo de uma
involução fatal de
nossa democracia,
à indignação de todo democrata sincero diante do massacre que vem sendo feito das leis, da
separação dos Poderes, do próprio
sentido do Estado.
É isso que cada um
de nós deve repetir
a seus amigos indecisos e decepcionados. É deles e de seu
engajamento que
vai depender que a
Itália possa evitar
ser, por mais cinco
anos, um terreno
de rapina de pessoas que não sabem
defender senão
seus interesses privados.
Mesmo se esses
amigos tiverem decidido exercer seu
espírito crítico com
toda equanimidade
(saber criticar seu
próprio campo é sinal de honestidade
intelectual), eles devem sacrificar seus
sentimentos, por
enquanto, e se juntar a nós no esforço coletivo.
Convencer, é esse o dever e a tarefa de todos aqueles que, nos últimos anos, participaram das discussões cidadãs. O navio corre o
risco de afundar. Que cada um retorne a seu posto.
O semiólogo italiano Umberto Eco é autor, entre outros, de "O Nome da Rosa" e "A Misteriosa Chama da Rainha Loana".
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Tradução de Clara Allain
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