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Sob Raúl Castro, Cuba prefere detenções breves a condenações
DA REDAÇÃO
Organizações de direitos humanos há anos questionam o
sistema legal de Cuba, cuja
Constituição diz, em seu artigo
62º, que "nenhuma das liberdades reconhecidas [no texto] pode ser exercida [...] contra a
existência e os fins do Estado
socialista nem contra a decisão
do povo cubano de construir o
socialismo e comunismo".
Esse trecho torna ilegal, portanto, organização política ou
manifestação política que busque modificar o sistema de governo e é vago o suficiente para
englobar desde passeatas até os
dissidentes que recebem verba
dos EUA para manter suas atividades -esses últimos podem
ser encaixados em outros artigos do Código Penal da ilha.
Uma figura do código é: o "estado de periculosidade".
A categoria é descrita como
"a propensão para cometer crimes, demonstrada por conduta
manifestamente em contradição com as normas da moralidade socialista". Segundo relatório do ano passado da Human
Rights Watch, ao menos 40
pessoas foram presas com base
em seu potencial delitivo.
Em 2008, a lei serviu para enquadrar Gorki Águila, músico
da banda Porno Para Ricardo, e
suas letras críticas do regime.
Depois, a acusação foi retirada
e ele foi condenado por uma infração mais leve, de desobediência civil. Por ela, ele teve de
pagar uma multa.
Embargo e detenções
O código ainda lista como
passíveis de punição "propaganda inimiga", "desacato",
"impressos clandestinos", "vínculos ou relações com pessoas
potencialmente perigosas para
a sociedade".
Analistas, inclusive nos EUA,
apontam que não ajuda em nada -e é, em última instância
um argumento para que regime
defenda que está sob ataque- a
legislação americana do embargo e seus reforços.
Um exemplo é leis Helms-Burton, de 1996, que estabelece
entre seus objetivos conseguir
a mudança de sistema em Cuba
e financiar atividades de grupos
"pró-democracia" -vale transferência de fundos e ajuda por
meio da agência do governo
Usaid.
Sob Raúl Castro, formalmente no poder desde fevereiro de
2008, as ONGs dizem que houve uma mudança de tática. A
polícia e agentes de segurança
do Estado têm feito mais detenções breves que condenações de dissidentes políticos.
A estratégia foi usada durante o enterro de Orlando Zapata
Tamayo, que morreu em fevereiro na cadeia após 85 dias de
greve de fome. Foi montado um
esquema de segurança na estrada e na casa da família de Zapata, onde se realizava o velório. Houve ao menos 30 detenções breves -na cidade e mesmo em Havana.
O regime mantém relação
tensa, mas tolera a ilegal Comissão Nacional de Direitos
Humanos, comandada por Elizardo Sánchez. Sánchez e opositores com liberdade condicional, como o economista Óscar
Espinosa Chepe, são vigiados e,
apesar de suspeitarem que suas
chamadas são gravadas pelo
Estado, falam com a imprensa
estrangeira.
Sánchez é quem informa que
Cuba é o único país ibero-americano que não aceita visitas da
Cruz Vermelha Internacional
em seu sistema prisional.
Atualmente, o governo negocia
as "condições" para a visita do
relator da ONU para a Tortura,
Manfred Nowak.
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