São Paulo, sexta-feira, 11 de março de 2011

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Ataque total retoma Ras Lanuf para ditador

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A RAS LANUF

Pânico. Em uma palavra, era este o sentimento que pulsava ontem entre os rebeldes líbios na frente de combate contra as forças do ditador Muammar Gaddafi no leste do país, uma linha que recuou mais uma vez.
À noite, a cidade de Ras Lanuf, bastião mais ocidental da vasta área no leste do país ainda dominada pelos rebeldes, caiu ante as forças leais ao ditador da Líbia.
Acuados pelo poder de fogo claramente superior do rival, os rebeldes foram atacados por terra, ar e pela primeira vez também pelo mar.
Nem o serviço médico escapou. O hospital da cidade portuária de Ras Lanuf foi atingido por foguetes e teve que ser evacuado. Duas ambulâncias escaparam por pouco de um ataque aéreo.
Sob fogo cerrado, o clima entre os insurgentes era de desespero e perplexidade, com correrias desordenadas e disparos a esmo toda vez que um caça da aviação de Gaddafi cruzava o céu.
Sem comando nem treinamento, os rebeldes oscilavam entre um impulso quase suicida de avançar a qualquer custo e a cautela de esperar por reforços que não vinham ou eram insuficientes. Discussões acaloradas pipocavam a todo momento.
A estratégica cidade petrolífera de Ras Lanuf foi duramente bombardeada durante horas antes de cair.
"Muitas casas foram arrasadas, choviam foguetes nas nossas cabeças", gritava pouco após sair da cidade o eletricista convertido em guerrilheiro Ayman Busseilke, 26, cercado por um grupo visivelmente assustado.
Nos últimos dias, os rebeldes perderam terreno e boa parte do ímpeto que mostravam há uma semana, quando ultrapassaram Ras Lanuf e estavam certos de que o caminho estava aberto para Sirte, cidade natal de Gaddafi.

AVANÇO AO LESTE
Após esvaziar Ras Lanuf, a ofensiva de Gaddafi continuava a fazer avanços no leste do país, território dominado pela oposição desde que o levante contra o ditador líbio teve início, há três semanas.
À noite, bombardeios aéreos atingiram Brega, outro importante polo petrolífero, a 80 km de Ras Lanuf. Várias das bombas lançadas por caças não têm alvo claro, caindo em áreas abertas.
Um dos bombardeios de ontem atingiu um descampado a cerca de 800 m do carro em que a reportagem da Folha fazia o percurso entre Ras Lanuf e Brega. Poucos minutos antes, outra bomba caiu a 100 m de duas ambulâncias na mesma estrada.
Perplexos, enfermeiros e médicos sentaram numa duna à beira da estrada para tentar se recuperar.
"Acabamos de evacuar o hospital de Ras Lanuf devido a um ataque e quase sofremos outro", disse à Folha o médico Nasser Abusharam.
No hospital de Brega, para onde os feridos de Ras Lanuf foram levados, a enfermaria estava sobrecarregada. Em menos de uma hora chegaram 34 feridos, quase todos em estado grave por disparos de artilharia pesada, disse o médico Hitham Gariani.
Ele estava no hospital de Ras Lanuf na hora do ataque. Além de ataques por terra e ar, Gariani disse que navios petroleiros eram usados pelas forças de Gaddafi para bombardear a cidade.
Como a maioria dos rebeldes, Gariani estava indignado com a hesitação da comunidade internacional em estabelecer uma zona de exclusão aérea. "Gaddafi está atacando hospitais. O que o mundo está esperando?"


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