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Forças americanas ignoram saques
ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT", EM BAGDÁ
Foi o dia do saqueador. Eles devastaram a embaixada alemã, e
jogaram a escrivaninha do embaixador no jardim. Resgatei a bandeira da União Européia em uma
poça d'água em frente ao setor de
vistos, enquanto uma multidão
de sujeitos de meia-idade, mulheres usando chadors e crianças
vasculhava o escritório do cônsul
e arremessava discos de Mozart e
livros de história da Alemanha de
uma janela do segundo piso.
Na sede local da Unicef, ladrões
tomaram o edifício de assalto, jogando fotocopiadoras umas contra as outras e espalhando arquivos da ONU pelos corredores.
Os americanos podem crer que
"libertaram" Bagdá, mas as dezenas de milhares de ladrões que estão à solta na cidade parecem ter
uma idéia diferente quanto ao significado de liberdade. E a situação
representa uma séria violação das
convenções de Genebra. Como
potência ocupante, cabe aos EUA
a responsabilidade de proteger
embaixadas e escritórios da ONU,
mas ontem, soldados americanos
passavam em seus veículos pela
embaixada alemã enquanto os saqueadores removiam escrivaninhas pelos portões da frente.
Compreensivelmente, os oprimidos se vingaram nas casas dos
homens de Saddam Hussein, os
quais destruíram as vidas dos iraquianos por duas décadas.
Vi famílias vasculharem a casa
de Ibrahim al Hassan, meio-irmão de Saddam e ex-ministro do
Interior, a de um ex-ministro da
Defesa, a de Saadun Shakr, um
dos assessores de segurança mais
próximos de Saddam, e a de Ali
Hussein Majid, o "Ali Químico",
responsável por ataques com gás
mostarda contra os curdos, morto em Basra na semana passada.
Do outro lado da ponte Saddam, vi um caminhão lotado de
cadeiras com dois cachorros
brancos que pertenciam a Qusay,
filho de Saddam, trotando, amarrados por cordas. Pela cidade,
avistei quatro cavalos de Saddam,
entre eles o garanhão branco que
usado em retratos presidenciais,
serem embarcados em trailers.
Os ministérios tiveram seus arquivos, computadores, mobília e
carros destruídos ou levados.
É difícil ser moralista quanto ao
espólio dos sequazes de Saddam,
mas de que maneira o governo
dos EUA espera que o "Novo Iraque" funcione com a propriedade
do Estado foi saqueada a esse
ponto? E o exército de "libertação" dos EUA já começa a se parecer com um exército de ocupação.
Ontem, vi centenas de civis iraquianos em fila para cruzar uma
ponte em Doura, e todos os homens eram instruídos por soldados americanos a levantar a camisa e abaixar as calças para provar
que não eram terroristas suicidas.
Após um tiroteio na região de
Adamiya durante a manhã, um
atirador americano, sentado
diante do palácio, feriu três civis
em um carro que não parou ao ser
solicitado, e a seguir matou um
homem que saíra à varanda para
descobrir de onde vinham os tiros. Minutos depois, o atirador
matou o motorista de outro carro
e feriu dois passageiros.
No subúrbio de Doura, corpos
de civis iraquianos, muitos deles
mortos por tropas americanas em
batalha dias atrás, continuam a
apodrecer em seus carros calcinados. E ontem foi só o segundo dia
da "libertação" de Bagdá.
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