|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISPUTAS
Khoei voltara do exílio na semana passada e exortara iraquianos a apoiar tropas dos EUA
Líder xiita é morto por rivais em Najaf
PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dois líderes muçulmanos xiitas
iraquianos -um que havia exortado a população iraquiana a
apoiar as tropas norte-americanas e outro acusado de defender o
regime de Saddam Hussein- foram mortos ontem na cidade de
Najaf, o que eleva as tensões entre
grupos xiitas rivais e indica a possibilidade de novos confrontos
nos próximos dias.
Abdul Majid al Khoei era filho
de um proeminente aiatolá ("sinal de Deus"), Seyyid Abdulqassim Mussawi al Khoei, e havia retornado de Londres para o Iraque
na semana passada, em um momento em que diversos líderes
oposicionistas estão voltando ao
país para reivindicar postos no
governo pós-guerra.
Secretário-geral de uma fundação beneficente homônima com
sede em Londres, Al Khoei foi
morto durante um encontro de
representantes islâmicos que buscavam chegar a um acordo sobre
o controle de locais sagrados no
Iraque. Segundo uma testemunha, ele foi baleado dentro da
mesquita de Ali, arrastado para
fora do local e esfaqueado.
A mesquita de Ali bin Abi Talib,
que abriga o túmulo desse primo
e genro do profeta Muhammad, é
um dos locais mais sagrados para
os muçulmanos xiitas (que formam cerca de 60% da população
do Iraque). Foi nesse lugar que
uma multidão enfurecida de xiitas iraquianos impediu que uma
patrulha de soldados americanos
da 101ª Divisão Aerotransportada
entrasse recentemente.
A mesquita ficava sob supervisão de Haider al Kadar, criticado
por muitos xiitas por causa de sua
ligação com o Ministério de Assuntos Religiosos do governo de
Saddam Hussein e de sua suposta
submissão ao ex-ditador.
Os relatos sobre o que aconteceu em Najaf eram conflitantes,
mas, aparentemente, em um gesto de reconciliação, Al Khoei
acompanhou Al Kadar ao santuário xiita. Quando os homens apareceram juntos no local sagrado,
membros de outro movimento
xiita começaram a insultar Al Kadar e a gritar que ele não deveria
estar ali. Al Khoei teria sacado
uma arma e dado um ou dois tiros. Não estava claro se ele atirou
contra a multidão ou para o alto.
Em seguida, ambos os líderes religiosos foram mortos.
O premiê britânico, Tony Blair,
que se reuniu com Al Khoei diversas vezes, disse que "ele era um líder religioso que personificava a
esperança e a reconciliação e que
estava empenhado em construir
um futuro melhor para a população do Iraque". Era justamente
esse apoio anglo-americano que
lhe rendia críticas.
Em recente viagem ao Irã (país
majoritariamente xiita), Al Khoei
foi recebido aos gritos de "Volte
para os Estados Unidos".
Em um comunicado divulgado
em Londres, a fundação Al Khoei
atribuiu a ação de ontem a "agentes do regime iraquiano" e pediu
que os Estados Unidos e o Reino
Unido não permitissem que esses
"agentes espalhem a desordem e a
instabilidade".
Mohsen Hakim, do Conselho
Supremo Para a Revolução Islâmica no Iraque (um dos principais grupos xiitas de oposição a
Saddam, com base em Teerã), resumiu de forma simples a situação no país. "Nós precisamos de
estabilidade, calma e paz no Iraque. Quem quer que tenha cometido esse crime prejudicou tudo
isso", declarou.
O problema é que a ação em Najaf, centro de peregrinação e de
estudos científicos e teológicos,
provavelmente não será um incidente isolado nos próximos dias.
As disputas em torno de locais sagrados e de cargos na administração iraquiana abriram caminho
para conflitos por vezes violentos.
A princípio, Washington pretende submeter a administração
do "novo" Iraque a um general
norte-americano reformado, Jay
Garner. O governo interino precisará lidar com as divergências étnico-religiosas para evitar novos
confrontos violentos.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Bandeira americana é vetada no Iraque Próximo Texto: Americanos e curdos tomam Kirkuk Índice
|