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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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DISPUTAS

Khoei voltara do exílio na semana passada e exortara iraquianos a apoiar tropas dos EUA

Líder xiita é morto por rivais em Najaf

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dois líderes muçulmanos xiitas iraquianos -um que havia exortado a população iraquiana a apoiar as tropas norte-americanas e outro acusado de defender o regime de Saddam Hussein- foram mortos ontem na cidade de Najaf, o que eleva as tensões entre grupos xiitas rivais e indica a possibilidade de novos confrontos nos próximos dias.
Abdul Majid al Khoei era filho de um proeminente aiatolá ("sinal de Deus"), Seyyid Abdulqassim Mussawi al Khoei, e havia retornado de Londres para o Iraque na semana passada, em um momento em que diversos líderes oposicionistas estão voltando ao país para reivindicar postos no governo pós-guerra.
Secretário-geral de uma fundação beneficente homônima com sede em Londres, Al Khoei foi morto durante um encontro de representantes islâmicos que buscavam chegar a um acordo sobre o controle de locais sagrados no Iraque. Segundo uma testemunha, ele foi baleado dentro da mesquita de Ali, arrastado para fora do local e esfaqueado.
A mesquita de Ali bin Abi Talib, que abriga o túmulo desse primo e genro do profeta Muhammad, é um dos locais mais sagrados para os muçulmanos xiitas (que formam cerca de 60% da população do Iraque). Foi nesse lugar que uma multidão enfurecida de xiitas iraquianos impediu que uma patrulha de soldados americanos da 101ª Divisão Aerotransportada entrasse recentemente.
A mesquita ficava sob supervisão de Haider al Kadar, criticado por muitos xiitas por causa de sua ligação com o Ministério de Assuntos Religiosos do governo de Saddam Hussein e de sua suposta submissão ao ex-ditador.
Os relatos sobre o que aconteceu em Najaf eram conflitantes, mas, aparentemente, em um gesto de reconciliação, Al Khoei acompanhou Al Kadar ao santuário xiita. Quando os homens apareceram juntos no local sagrado, membros de outro movimento xiita começaram a insultar Al Kadar e a gritar que ele não deveria estar ali. Al Khoei teria sacado uma arma e dado um ou dois tiros. Não estava claro se ele atirou contra a multidão ou para o alto. Em seguida, ambos os líderes religiosos foram mortos.
O premiê britânico, Tony Blair, que se reuniu com Al Khoei diversas vezes, disse que "ele era um líder religioso que personificava a esperança e a reconciliação e que estava empenhado em construir um futuro melhor para a população do Iraque". Era justamente esse apoio anglo-americano que lhe rendia críticas.
Em recente viagem ao Irã (país majoritariamente xiita), Al Khoei foi recebido aos gritos de "Volte para os Estados Unidos".
Em um comunicado divulgado em Londres, a fundação Al Khoei atribuiu a ação de ontem a "agentes do regime iraquiano" e pediu que os Estados Unidos e o Reino Unido não permitissem que esses "agentes espalhem a desordem e a instabilidade".
Mohsen Hakim, do Conselho Supremo Para a Revolução Islâmica no Iraque (um dos principais grupos xiitas de oposição a Saddam, com base em Teerã), resumiu de forma simples a situação no país. "Nós precisamos de estabilidade, calma e paz no Iraque. Quem quer que tenha cometido esse crime prejudicou tudo isso", declarou.
O problema é que a ação em Najaf, centro de peregrinação e de estudos científicos e teológicos, provavelmente não será um incidente isolado nos próximos dias. As disputas em torno de locais sagrados e de cargos na administração iraquiana abriram caminho para conflitos por vezes violentos.
A princípio, Washington pretende submeter a administração do "novo" Iraque a um general norte-americano reformado, Jay Garner. O governo interino precisará lidar com as divergências étnico-religiosas para evitar novos confrontos violentos.


Com agências internacionais


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